Capítulo I

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Londres, 1820

Sob o céu azul livre de nuvens, a movimentada cidade de Londres tinha sobre suas ruas de pedra homens com casacas acompanhadas de coletes, lenços agarrados nos pescoços, chapéus negros e bengalas como meros enfeites, além de moças trajadas com longas saias em tecidos leves e cores claras, os cabelos ora soltos, dançando com o vento, ora escondidos debaixo de chapeis de palha enfeitados com laços que combinavam com os vestidos. Mal havia espaço para todos, mas os caminhos se abriam como uma profecia bíblica para a jovem Violet Carrington.

Segurando as saias cor de vinho do vestido com as mãos cobertas por luvas recém-compradas, Violet fazia seu caminho em passos apressados, esbarrando em pessoas e lhes pedindo perdão. Os cabelos negros emoldurados em longos cachos se rebelavam na direção do vento, balançando de um lado para o outro. Em suas lições matrimoniais, diria para suas pupilas que correr desenfreadamente pela cidade daquela forma não deveria ser feito em nenhuma circunstância, nem mesmo se o rapaz mais rico e promissor de Londres as aguardasse no fim da linha. Mas Violet não estava procurando impressionar nenhum homem ou sequer conquistar um pedido de casamento. Sua reputação estava intacta depois dos sete anos como a mais procurada – e eficiente, modéstia parte – casamenteira de Londres. Não havia nada no mundo ou naquele pedaço de terra que pudesse desmoralizá-la.

Bam!

Violet parou a corrida depois do inesperado baque e tentou se recompor. O que fosse que tivesse a atingido, a segurou com firmeza com mãos grandes e fortes. Ela piscou algumas vezes antes que pudesse ter a chance de entender o que havia acontecido. A primeira coisa que viu, passando os olhos por aquele monumento em forma de homem, foi o colete marrom-escuro fechado com o auxílio de meia dúzia de botões. A casaca num tom ligeiramente mais escuro, o lenço branco em três camadas pomposas bem na frente de seus olhos e, por fim, o rosto de Alexander Hugh. Ou apenas lorde Hugh, como era conhecido.

Violet apertou os olhos e soltou-se dele.

— Ora. É assim que as boas damas dizem "obrigado"?

Violet se virou, segurando a saia, e continuou seu caminho. Bem, apenas uma coisa poderia desestabilizá-la. Talvez fosse por seus olhos castanhos desafiadores, a famosa barba por fazer, que vinha fazendo sucesso entre as moças da cidade, ou quem sabe todo o charme de libertino de Hugh que deixassem Violet com a garganta seca e as pernas bambas. Ou suas dicas infalíveis tivessem saído das paredes de sua casa, e lorde Hugh já soubesse das tentativas de Violet de deixar suas pupilas bem longe dele. Qual quer que fosse o motivo, o fez continuar a segui-la.

— Deve saber que boas damas não gostam de ser seguidas, lorde Hugh.

— Não se preocupe, srta. Carrington — disse ele, acompanhando os apressados passos dela com facilidade — Estou a par de tudo que agrada as moças londrinas. E para onde vai com tanta pressa?

— Creio que meus assuntos particulares não despertem no senhor tamanha curiosidade, milorde — Violet se virou, impressionando-se com a aproximação que seu ato abrupto resultou. Ela podia sentir a respiração dele em seu rosto, o cheiro de essência masculina entrelaçando-a. Engoliu em seco, tentando se recordar do que tentativa dizer. Havia um motivo para Violet alertar as moças sobre homens como lorde Hugh. Não havia um defeito sequer em seus traços, seus cabelos jogados para trás pareciam roubar o brilho do sol, os olhos castanhos eram tão claros e vibrantes que pareciam ver dentro da alma dela. Violet se recompôs, depois de ver o sorriso torto no rosto dele — Tenho certeza de que há mil coisas mais importantes para se preocupar. Se me der licença, prefiro continuar minha caminhada por conta própria.

Virou-se novamente, e soltou a respiração, sem nem sequer notar que a estava segurando. Um peso saiu de suas costas ao notar, virando o rosto rapidamente, que Hugh não a seguira. Suas mãos suavam debaixo da luva e o busto subia e descia, acompanhando o batimento acelerado que martelava em seu peito. Mas Violet sabia bem como esconder sensações como aquelas.

Entrelaçada Por Um Lorde - Série Como Não Se Apaixonar em LondresOnde histórias criam vida. Descubra agora