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KAROL

— Com alguma biscate carioca? O cara é médico, precisa de
uma mulher para casar, manter a casa dele limpa e cuidar dos filhos.
— E essa só pode ser você, não é, Susie, a bondosa? — Pitty
interfere, dá mais uma olhada nos meus cabelos e me entrega o
buquê.
— Está linda, kah — Pitty diz, me venerando com as mãos
juntas.
— Obrigada, Pitty. Você é a melhor.
Susie abre a boca, mas para continuar o assunto. Ela está
mesmo decidida.
— Claro que eu me candidato. Vou dar de cima dele,
provavelmente hoje eu consigo uma transa com o padrinho bonitão.
— Deixe para tentar seduzi-lo depois do casamento, pelo amor
de Deus! — Eu levanto minha mão para ela. — Não quero que nada
dê errado.
— Falar em nada dar errado, você viu o Renato? — Pitty me
pergunta.
— Não vi. Desapareceu o dia todo. Fui à casa dele várias vezes
na esperança de fazê-lo entender, mas não está por aqui — eu digo,
pensativa.
Inclusive, até queria ligar para ele, mas meu celular
desapareceu.
— Ele está muito magoado, amiga. É normal.
— Eu queria vê-lo antes de me casar. Amanhã bem cedo eu,
Heitor e Bernardo partimos para nossa lua de mel.
— Vai levar o menino para a lua de mel? — Susie indaga, com a
boca torta e uma sobrancelha levantada de incredulidade.
— Claro. Não posso deixá-lo aqui sozinho.
— E onde será essa lua de mel? — As meninas perguntam
quase juntas.
— Não sei. — Dou de ombros. Ainda estou em frente ao
espelho, me olhando minuciosamente. — Heitor disse que é um lugar
simples, mas qualquer lugar será um paraíso ao lado dele.
Nesse momento, a porta se abre e meu pai entra.
— Pronta? Seu noivo já está quase botando um ovo. — Ele para
estático, sorri e vem em minha direção.
— Filha, você está linda. É a noiva mais deslumbrante que já vi.
— Depois da mamãe, claro — eu completo, e ele, rindo, me
abraça.
— Pai, estou tão feliz — digo com o rosto enterrado no ombro
dele.
— Eu também, querida. Heitor é um bom homem, é tudo o que
eu pedi para você — ele responde, quase travado no abraço, com
medo de bagunçar meu cabelo.
— Bom, vou descer logo e tomar lugar ao lado do padrinho gato.
Me deseje sorte — Susie fala e sai correndo junto com Pitty.
Eu me afasto do abraço do meu pai.
— E Beni?
— Está com sua mãe. Carolina ligou há pouco te desejando boa
sorte. Disse que não conseguiu falar no seu celular.
— Depois eu ligo para ela. Queria tanto que ela estivesse aqui.
— Sua irmã faz o que quer da vida, meu bem. Vamos descer
logo.
Pego o buquê, descanso a mão na curva do braço do meu pai e
desço com ele rumo à minha felicidade.

O galpão, embaixo do salão de Pitty, nem parece o mesmo.
Sempre está muito bem limpo e pintado para caso alguém queira
alugar, mas hoje foi todo decorado com flores naturais brancas. Os
mesmo lírios da decoração estão no meu buquê.
À minha frente, no fim da passarela lilás, está uma mesa com o
juiz de paz, de um lado está o irmão de Heitor, e Alfredo, um amigo
meu, e do outro, está Susie sorridente ao lado de Vanessa, minha
amiga. Mas nenhum deles me chama a atenção como o homem
parado bem no meio, de terno escuro e gravata prateada. Muito lindo,
sofisticado, charmoso, sexy. Por um segundo apenas ele parece
combinar com esse estilo: terno e gravata. Heitor ficou tão bem assim
que parece que sempre se vestiu dessa forma.
Ele sorri para mim, é um sorriso muito deslumbrante, ele é
deslumbrante.
Meu pai me leva até ele ao som da marcha nupcial. Nem assim
minha ficha caiu que o casamento é meu, o noivo lindo é meu, e esse
é o meu dia.
— Está tremendo — Heitor diz quando segura minha mão.
— Estou nervosa.
— Não fique. Você está muito linda. Eu sou sortudo por ter você
para mim.
Quase flutuo quando ele diz isso.
— Eu digo o mesmo — falo para ele e nos viramos para o
senhor, que começa a cerimônia.
***
Hoje mais cedo Heitor me entregou um monte de papéis. Entre
eles, uma procuração para que o advogado possa resolver tudo sobre
o reconhecimento da paternidade. Eu não tive tempo de ler nada, inclusive até briguei com ele por ter trazido essas coisas justamente
em um dia que eu estava louca, correndo de um lado para o outro.
Então pedi para meu pai ler. Ele leu tudo e entregou os papéis para
Heitor, depois me ligou e disse: “Heitor vai levar os papéis para você
assinar. Eu li e reli, está tudo muito certo. Pode assinar sem medo.”
Então, agora, diante do juiz que está nos casando, eu não estou
apenas arrumando um marido para mim, mas também um pai para
meu filho. Um pai legítimo, que dificultará mais ainda que o pai
biológico de Beni tente alguma coisa.
Heitor pega a aliança, segura minha mão e olha nos meus olhos:
— Eu te honrarei e te amarei até meu último suspiro. Não
deixarei que nenhum mal entre no nosso lar e serei, para você, um
amigo, amante e protetor. Espero que continue sendo sempre essa
mulher maravilhosa que me encantou. Nunca deixe sua bela essência
de lado e nunca duvide que tudo o que eu fizer será para seu bem —
ele fala com um belo sorriso, e eu desabo em lágrimas.
Pego a aliança dele e, em meio aos soluços, eu digo enquanto
empurro o anel de ouro no dedo dele:
— Espero que seja para mim meu amigo, amante e protetor.
Serei para você seu consolo, carinho e proteção. Te amarei e te
honrarei até meu último suspiro e, mesmo que você erre, eu quero
estar ao seu lado, pois é nos momentos difíceis que mais nos
amaremos.
— Pelo poder a mim investido, eu vos declaro marido e mulher.
Pode beijar a noiva. — o juiz diz, e Heitor se inclina para tomar os
meus lábios em um beijo maravilhoso.
Estou casada! Mal posso acreditar. Ao som de aplausos, nos
beijamos mais uma vez. Que dure por uns cinquenta anos.

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora