QUEBRADO

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Naruto sabia que era mais fácil perdoar alguém quando se entendia os motivos que o levavam a tomar certas atitudes, mas naquele momento ele não quis ouvir. Quando Hinata começou a falar de seus sentimentos por Sakura logo após os dois fazerem sexo, o garoto que sempre era calmo e compreensivo apenas pediu para que ela se retirasse. Não elevou a voz, não foi grosseiro. Ele pediu com uma polidez até mesmo assustadora, como se falasse com uma desconhecida, sem qualquer intimidade.

O outro dia veio e nada da garota aparecer na escola. Ela faltou e Naruto não se deu ao trabalho de mandar uma mensagem para saber se estava tudo bem. Neji havia comentado que a prima estava com um resfriado ou algo assim, mas Naruto sabia não ser verdade. Hinata estava com vergonha, e ele estava magoado.

...

Sasuke sabia que um passado triste, um trauma ou um problema pessoal não eram justificativas para machucar outra pessoa. Ele tinha consciência de que estava vivendo sob uma pressão mental absurda, que nada na sua vida estava certo e que isso o destruía mais a cada dia, mas ele também tinha noção da sua personalidade difícil, de que era seco e se entediava fácil, além de rude e orgulhoso demais para pedir ajuda ou mesmo se desculpar.

Naruto passou semanas falando que ele deveria conversar com Sakura. Mas ele não foi. Não apenas por realmente acreditar que a distância era melhor para os dois, mas também por seu forte traço de orgulho. Ele não se desculpou, mesmo sabendo que a magoou profundamente. E desde então os dois não se falaram mais.

O único com quem o moreno mantinha contato agora era Naruto. O colega nunca o olhava com pena, nem media as palavras para falar. Ele era direto e tornava assuntos pesados em algo mais leve. Aquela aposta para que ele não se cortasse era ridícula e infantil, mas o loiro foi tão irritante, insistente e provocativo que Sasuke acabou cedendo. De fato, ele detestava perder, mas mais do que isso ele queria se provar mais forte, como Naruto era.

Dia após dia sua admiração e encantamento pelo loiro aumentava. Seu jeito escandaloso de falar, seu sorriso bobo, a maneira como franzia a testa quando não entendia a explicação do professor. Cada detalhe. Era tudo perfeito. A cada movimento do loiro, maior era vontade de seguir seus passos. Sasuke passou apreciar, ou melhor, desejar sua companhia. E mais do que tudo, ele não queria decepciona-lo.

Pelo menos uma vez por semana os dois passavam a tarde juntos. Geralmente ele ia para casa do loiro, sendo sempre bem recebido por aquela família calorosa e os dois viravam horas jogando, vendo animes ou apenas conversando. Durante esses momentos Sasuke até se permitia esquecer do que lhe aguardava em casa, e também eram esses momentos que o faziam considerar que talvez a vida não fosse tão ruim.

Por vezes se pegava pensando sobre isso, as razões que o faziam continuar. Era uma lista pequena:

As visitas de seu irmão mais velho.

As memórias de sua mãe dizendo que o amava.

O gosto de tomates cozidos na manteiga.

O cheiro dos livros da biblioteca.

E agora, um loiro de olhos azuis fora incluído. E se não fosse tão orgulhoso até diria isso para ele um dia.

O moreno estava na biblioteca lendo mais um dos documentos que seus tios, após receberem a ordem de Fugaku, lhe enviavam toda semana. Não era nada muito difícil, mas o mundo dos negócios era extremamente chato, assim como todo aquele vocabulário rebuscado e formalidades desnecessárias. Definitivamente, não era algo que ele escolheria para passar seu tempo lendo, muito menos trabalhando. Mas ele não tinha escolha. Para provar que estava se dedicando seu pai exigia um relatório semanal de cada um dos arquivos que ele deveria ler, e ainda que odiasse a ideia de seguir aquele caminho no futuro, ele estava muito ocupado tentando proteger sua pele no presente.

As cicatrizes dos nossos encontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora