O Sol brilhava alto no Céu, avisando todos na Terra e no Paraíso que era o início de um novo dia. Um jovem anjo, Lúcifer, estendeu as asas lentamente enquanto abria os olhos castanhos sonolentos. Levantou-se da sua nuvem-cama, atou o cabelo cor de carvão na base da nuca e arranjou a toga que vestia em volta do seu corpo magro. À sua volta, outros anjos voavam para os seus postos. Lúcifer abriu as suas asas de penas brancas e levantou vôo. Abrindo os braços, deixou-se cair e lançou um brado de triunfo. Debaixo dele a Terra aproximava-se rapidamente. Vastas florestas verdejantes e rios de água límpida estendiam-se por quilómetros infindáveis num planeta virgem.
Lúcifer bateu as asas e parou bruscamente de cair. Aterrou levemente no solo macio de uma clareira e inspirou fundo. A poucos passos um grupo de crianças brincava despreocupadamente. O anjo aproximou-se e rodeou os meninos com os braços, porque os humanos não podem ver as criaturas divinas, e proferiu uma prece que os protegesse de qualquer mal. Duas jovens mulheres aproximaram-se das crianças e pegaram-nas ao colo. Vestiam indumentárias simples e humildes, mas as crianças de quem tomavam conta vestiam tecidos finos e caros. Lúcifer afastou-se do grupo e sentou-se encostado a uma árvore a pouca distância deles. Brincava distraído com uma flor branca quando, vindo do nada, um rapazito correu para ele e o abraçou-o, admirando as suas asas. Lúcifer estacou, espantado, e afastou de si o rapaz.
-Como te chamas? - perguntou.
-Moisés. - respondeu o menino na sua voz doce e cristalina.
Lúcifer sorriu. Colocando as mãos nos ombros da criança, disse:
-Moisés, um dia vais ser grande. Lembra-te sempre de Deus nosso Senhor.
Moisés acenou afirmativamente e correu para a ama que o chamava.
Lúcifer era apaixonado pela Terra e pelos humanos. Fascinavam-no na sua capacidade de escolher entre o bem e o mal, na sua liberdade de serem e fazerem o que quiserem.
O anjo sorriu e fecho os olhos. Inspirando fundo, mergulhou na paz que o rodeava. As criaturas da floresta aproximavam-se dele e deitavam-se a seu lado. Lúcifer acariciou a cabeça de um lobo, um animal feroz, que descansava a seu lado. O animal roncava descontraídamente enquanto o anjo lhe afagava o pêlo cinzento prateado.
A sua paz foi interrompida quando sentiu outra aura divina a aproximar-se. Abrindo os olhos, Lúcifer vium rapaz de longos caracóis cor de avelâ e olhos como duas esmeraldas, envolto numa toga de um branco imaculado. Sentou-se encostado a uma árvore em frente a Lúcifer e sorriu.
-Uriel. - saudou o anjo de cabelo negro.
-Lúcifer. Miguel contou-me que o Pai quer tornar-te um Arcanjo.
Lúcifer tremeu com esta afirmação.
-Eu sei que não gostas mas...
-Eu nunca disse que não gosto...
-Lúcifer, não me mintas. Eu sei que nunca quiseste um lugar mais alto. Sei que preferes ficar aqui, na Terra, a proteger as crianças e a brincar com os animais, mas não podes negar o que o pai quer...
-Sim, já me disseram tudo isso. É só que... - Lúcifer suspirou de alívio quando vozes femininas se aproximaram e a sua atenção foi desviada para elas. Uriel desistiu e também se voltou para a origem das vozes. Três raparigas apareceram por entre o arvoredo. A primeira tinha longos cabelos ruivos entrançados com fios de ouro e um corpo roliço coberto por um vestido branco debroado a ouro que arrastava no chão atrás dela. As outras duas traziam vestes bastante mais simples, togas brancas cintadas por cordões, que lhes chegavam um pouco abaixo ds joelhos. Uma usava o cabelo castanho atado com ganchos prateados, enquanto a outra estava constantemente a desviar dos olhos os caracóis louros.
Lúcifer e Uriel observavam-nas em silêncio, enquanto entrançavam flores nos cabelos mas das outras e riam muito. Uriel sorria, admirando as suas almas inocentes e despreocupadas. Lúcifer também sorria, mas o seu olhar prendia-se na dama de cabelo loiro. Seguia cada pestanejar, cada movimento das suas pernas altas e dos seus caracóis que lhe caíam sobre os seios redondos. Na sua mente criavam-se pensamentos que nunca havia tido, coisas que sempre achara erradas mas que nesses instante pareciam certas. Perturbado, Lúcifer caiu de joelhos, com sangue a escorrer-lhe das asas e pelas costas. Uriel correu para ele.
-O que se passa? O que tens? - perguntou, preocupado.
Lúcifer sentou-se contra uma árvore a respirar com dificuldade.
-O que se passou? - Uriel perguntava, emanando o máximo de energia positiva para acalmar Lúcifer.
Quando este voltou a respirar normalmente, o Arcanjo sentou-se à sua frente, segurando-lhe as mãos.
-O que foi aquilo? - perguntou, passado algum tempo.
Lúcifer debatia-se consigo mesmo:
"Devo ser honesto com Uriel, não devo mentir..." pensava "... mas... ele é um arcanjo, o que vai ele pensar? Não lhe posso mentir, mas também não posso arriscar sofrer as consequências de os outros saberem... de o Pai saber... e... meia verdade não é uma mentira... pois não?..."
Lúcifer decidiu:
-Comecei a sentir-me tonto... a ver coisas... fiquei perturbado.
Uriel ficou pensativo, mas nào duvidava da palavra do anjo (os anjos têm a capacidade de olhar para um ser humano e "ver" os seus pensamentos e a sua história. Uriel não costumava reparar em tais coisas, logo não sabia o que Lúcifer vira).
-Bem, agora está tudo bem, certo?
O anjo acenou afirmativamente com a cabeça e levantou-se.
-Acho que vou ver o que se passa na cidade - disse. - Queres vir?
Uriel exitou:
-Acho que vou passar - disse por fim.
"Claro" pensou Lúcifer. Curvou-se frente ao arcanjo e levantou vôo.
Enquanto voava em direção à cidade mais próxima, meditava sobre o que acontecera:
"Tive sentimentos errados por uma humana e menti a Uriel. O que é que vou fazer a seguir?"
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O Primeiro Anjo Caído
FantasyAlgo que sempre me irritou na Bíblia foi como não fala de Lúcifer, bem, diz apenas que ele caiu e tornou-se "Satanás" por ter liderado uma rebelião no Céu, mas não explicam o porquê dessa rebelião. Aqui está a minha versão da história. Qual a histór...