10 - no self control

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- Tem certeza que não quer voltar para casa?

Nick voltava seu olhar para Grace, que buscava distrair seus pensamentos olhando para uma garrafa de vodka que estava sobre a mesa improvisada.

- Você pode ir, se quiser. Já sabe que estou bem - ela deu de ombros, permanecendo de costas para ele.

O jovem suspirou. Estava determinado a desembaraçar os nós que sua complicada relação com Grace tinha atado. E definitivamente ouvir aquela resposta não o agradava. Por isso, resolveu insistir uma vez mais.

Sem que ela percebesse, ele a enlaçou por trás, fazendo-a voltar-se novamente para ele. A bochecha da jovem Russell corou de imediato, fazendo-a praguejar internamente por demonstrar tal vulnerabilidade.

- E se eu não quiser ir embora? - respondeu, olhando-a nos olhos. 

Quando seus olhares se encontraram, podiam sentir seus estômagos revirarem, tamanha a tensão do momento. Ela não conseguia raciocinar com clareza e só focava nos traços do rosto bem definido de Nick, ainda mais ressaltados pela luz da lamparina que estava num pedestal acima deles. Já ele tentava ao máximo manter a calma, afinal, um passo em falso poderia levá-lo de volta ao abismo. Se bem que quando ela o beijou na Grey House, sentira-se em outra dimensão.

- Vá embora, por favor - disse ela, baixinho.

- Não é isso que você quer. Eu ainda consigo te ler, Grace Russell.

- Eu não quero, mas eu preciso que vá.

E então ele se afastou, mas permaneceu fitando-a cautelosamente. Ela não conseguia se mexer.

- Me dê um motivo plausível para ir embora, e eu prometo que vou.

Grace deu dois passos em direção ao rapaz, que pôde ver seus olhos inundados em evidência. Ela estava sendo dominada por seus sentimentos e se odiava por isso. Mas seu peito estava pesado e já não aguentava mais ter de guardar aquilo para si.

- Eu sempre fui apaixonada por você, Nick. Desde o primeiro dia. Mas fiz um esforço enorme para não cair no clichê e para não me machucar. E, de alguma forma, consegui priorizar nossa relação de amizade que surgiu depois, o que me confortava. Mas mesmo assim, nunca consegui lidar muito bem quando te via com outras garotas, mas como falar isso para o cara que eu sempre acreditei que me via somente como amiga?

Ele estava estarrecido, mas não conseguia dizer nada. Ela, de olhos fechados enquanto as lágrimas desciam em seu rosto, continuava.

- (...) Quando você separou da Courtney, eu estava disposta a abrir o jogo, mas você ainda estava chateado comigo pela forma como as coisas aconteceram. Quando nos acertamos, parecia que eu tinha uma nova chance, mas então nossos pais anunciaram que estavam noivos, e... ali eu decidi enterrar meus sentimentos e seguir com minha vida. Parecia que estava tudo bem, que eu ficaria bem, que era apenas um capricho. Mas sempre que eu acho que está tudo bem, você vem e me prova o contrário.

Enquanto ela buscava recuperar o fôlego e o compasso de sua respiração, Nick não conseguia controlar as lágrimas. Em sua cabeça, passava um filme de toda a sua história com a garota à sua frente. Lembrou-se que não se apaixonou por ela à primeira vista, mas conforme sua relação de amizade e vínculo com ela crescia, mais sentia seu coração bater mais forte. Quis roubar-lhe um beijo algumas vezes, mas tinha medo. Quando ela namorara com Noah, seu ex-melhor amigo, não conseguia conter os ciúmes, talvez por sentir que ainda tinha tempo. Mas com a união de seus pais, o perdera.

- Eu não os culpo - Grace voltou a dizer, já secando as lágrimas - Nossos pais. Eles não tem culpa de eu não ter tomado essas rédeas antes deles.

Ele assentiu com a cabeça, consternado. Mas ainda haviam algumas incógnitas.

- Infelizmente não se pode voltar no tempo. Mas então, por quê nos maltratamos tanto? Por que você simplesmente não me disse tudo isso em NY? Tanta coisa podia ter sido diferente...

Ela suspirou, não escondendo seu pesar ao lembrar de cada detalhe da briga que tiveram na faculdade.

- Quando eu ouvi da sua boca que você não queria ser meu irmão, eu considerei que tudo o que acreditei termos construído era uma mentira. Que eu não te interessava como amiga ou parente, já que interesse como mulher já não podia existir. Eu me desiludi muito, Nick. Me senti traída duas vezes. Por você e pelo Luke. Então, eu resolvi mudar e usei NY para isso. Quando nos encontramos e você me disse tudo aquilo, chorei como nunca, porque, mesmo a tantas confissões, tínhamos acabado de enterrar tudo o que restava entre nós.

À essa altura, a jovem já chorava.

Nick, entretanto, buscava segurar seus soluços enquanto digeria cada palavra. Naquele momento, odiava a si mesmo e a Grace por terem sido tão covardes. Não conseguia parar de pensar no quanto tudo poderia ter sido tão diferente se um deles tivesse a ousadia de ultrapassar a linha. 

Ao olhar a garota chorando, a sensação de terminar com o aperto que queimava seu peito era maior do que qualquer coisa que já havia presenciado. Por isso, se irou e, para expressar sua raiva e frustração, deu alguns passos para trás de onde estava e bateu com força os punhos no colchão da cama próxima a eles.

O espanto nos olhos de Grace era bem evidente, mas ela não conseguia se mover.

- O que está fazendo? - foi a única frase que conseguiu proferir.

Ao ouvir a voz embargada, Nick se levantou de sua posição e, sem sobreaviso, apagou todas as velas acesas no cômodo, deixando o lugar receber de bom grado o vento gelado da chuva e a luz fraca da lua.

Ignorando a confusa expressão no rosto da jovem, ele voltou a se aproximar dela e segurou seu rosto com as mãos. Os olhos marejados e brilhantes acalentavam seu coração. Já ela buscava retomar seu autocontrole, sem muito sucesso. Estava desarmada demais àquela altura e seus sentimentos, em guerra.

Antes que ela pudesse abrir a boca para protestar, ele a impediu lhe dando um delicado beijo nos lábios. Mas isso já foi o suficiente para todo seu corpo se acender.

Ao se separarem, ela não pode mais se conter.

- Isso quer dizer que você continua apaixonado por mim?

You broke me firstOnde histórias criam vida. Descubra agora