Décimo - Parte I

74 3 2
                                    

Na manhã seguinte, Naruto foi trabalhar e Sakura ficou acordada tentando se arrumar para abrir a loja no horário costumeiro. Porém, lembranças da noite anterior a distraiam. Descobriu-se parada no meio do quarto, com olhar sonhador, em vez de se vestir e se maquiar como deveria estar fazendo. Naruto não dissera que a amava, mas uma profunda intuição feminina lhe dizia que o desejo que alimentava no fundo de seu coração, imersa na escuridão de incontáveis noites, estava se tornando realidade. Naruto gostava dela e aquele sentimento estava se transformando em amor. Um homem não tratava uma mulher com a solicitude, ternura e cuidado que ele demonstrava se não sentisse mais do que respeito e uma simples afeição. A intimidade do casamento tecera uma teia que o atraíra para ela e os mantinha unidos. Sakura estava muito feliz, quase cega pelo brilho ofuscante daquele sentimento.

Forçando-se a voltar à realidade, vasculhou o armário em busca de um sutiã e deparou com a pequena cartela de pílulas.

- Nossa! Quase esqueci. - Disse em voz alta, enquanto pegava a cartela.

De repente se deu conta e deixou cair a cartela da mão trêmula. Tomara a última pílula no dia em que contraíra a gripe e duvidava que a tivesse mantido no estômago devido aos vômitos. Perdera seis dias de pílulas. Nervosa, procurou pela bula que havia guardado e acabou encontrando-a em um canto do armário.

Caso fosse perdidos três dias de pílulas, não era aconselhado dar prosseguimento à cartela. Teria de esperar até o quarto dia do próximo ciclo e começar a tomá-las normalmente. A gravidez era improvável, mas não impossível. Portanto, outras precauções deveriam ser tomadas durante o ato sexual.

Sakura releu a bula, tentando acalmar as batidas aceleradas do coração. Improvável, mas não impossível. Tentou esquecer as três últimas palavras e se concentrar no reconfortante "improvável".

Pensou na reação de Naruto quando lhe contasse e soube, imediatamente, que, certo ou errado, aquilo era algo que não poderia lhe dizer. Nem sequer preocupá-lo com aquele assunto. A expressão de Naruto quando aquela jovem mãe na loja chamara o filho de Hideki lhe partira o coração e ainda se lembrava a dor que sentira quando ele rejeitara seu apoio. Não poderia enfrentar aquela situação outra vez. Porém, teria de lhe contar. Concluiu, com pesar no coração, que não haveria outra maneira de explicar que tinham de tomar outras precauções. Pensando na proximidade que estavam desfrutando, a possibilidade de vê-la destruída a fez cerrar os punhos. Não agora, por favor, não agora.

Recompondo-se, conseguiu se vestir e aplicar a maquiagem. Chegou à loja ao mesmo tempo que Aiko e abriu as portas no horário previsto. A partir daí, não teve tempo de se preocupar com mais nada. Em poucas horas a loja estava lotada de clientes como nunca estivera. Os mais antigos, sabendo de sua doença, vinham saber como estava passando. Outros compravam novelos de lã, botões avulsos, artigos do setor de cerâmicas, pregos de acabamento e molduras para retratos. Parecia que todos os clientes haviam esperado a Trusted Tools reabrir em vez de procurar outra loja e o pensamento encheu Sakura de alegria. Uma mulher pequena, porém vigorosa de, no mínimo, 80 anos trouxe um xale confeccionado com a mais macia lã com tons variados de verde e insistiu em dá-lo a Sakura de presente.

- Para se proteger do frio - disse a mulher com os olhos azuis tremulantes.

O gesto quase a levou às lágrimas, ao abraçar a senhora idosa. A mulher costumava fazer xales e trazê-los para que Sakura os vendesse na loja por uma comissão. Sabia que ela precisava daquele dinheiro para complementar a minguada aposentadoria. O fato de ter despendido tempo e material para lhe confeccionar um presente era gratificante.

Pouco antes do almoço, Naruto entrou na loja. Sakura ergueu o olhar ao sino e seus olhos se arregalaram quando o avistou.

- Podemos ir até o escritório um momento? - Sugeriu ele em tom suave. Imediatamente, Sakura chamou Aiko para substituí-la na caixa registradora.

Eternal LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora