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Ruggero

— Só espero que não faça sopa para mim novamente — ela
zomba e se acomoda em uma cadeira na cozinha com Bernardo no
colo

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— Só espero que não faça sopa para mim novamente — ela
zomba e se acomoda em uma cadeira na cozinha com Bernardo no
colo.
— E se eu só souber fazer sopa? — Encosto nela e roubo um
beijo.
Karol  ri, e eu me afasto.
— Papá! — Beni grita sacudindo os braços e pernas.
— Não. O papai vai preparar um rango para a gente — karol
fala com Bernardo, que não entende e continua me chamando. —
Acho que você vai precisar buscar os brinquedos dele. — reflete,
percebendo o desconforto dele.
Eu me apresso em sair quase correndo da cozinha.
O que a pessoa não faz para se redimir. E a voz está novamente
me cutucando. Eu apenas ignoro.
Levo os brinquedos para a cozinha, ela coloca o bebê no chão e
ele vai correndo se enfiar na pilha de trecos.
— Por que não se levanta e vem me ajudar? — eu chamo-a com
um piscar de olhos.
— Eu preferia ficar olhando e depois comer sua comida.
— Só minha comida você quer comer?
— Que safado! — ela dá um gritinho sem conseguir fechar a
boca em um sorriso muito feliz.
Imagina se ela vai sorrir assim quando souber tudo que você
mentiu. A consciência bate pesada, e eu fecho os olhos
momentaneamente.
Ela vai entender, me convenço.
Você mentiu sobre tudo, sobre seu irmão, sobre sua identidade,
até Agustín  entrou no meio. Acha mesmo que ela vai te perdoar?
Eu, você e todos saberão logo. O que importa, para mim, é o
agora, e nesse momento eu quero apenas curtir meu tempo com
minha esposa e meu filho.
Decidi preparar um prato de macho. Massa. Homem sempre
prepara coisa fácil, omelete é um bom exemplo. Mas, se for perguntar
o que querem comer, massa e carne ganham disparado. Aprendi a
fazer um talharim com minha mãe e acho que kah  vai gostar.
Não tente comprá-la com macarrão, sou advertido por mim
mesmo.
Não com macarrão, mas com carinho.
Antes de começar, pego um vinho, sirvo duas taças e dou uma
Karol . Ao pé do ouvido dela, eu digo:
— Tô pensando em te comer nesse balcão.
Antes de eu afastar, ela agarra minha camiseta e me puxa de
volta.
— Vou esperar de pernas trêmulas. Gostoso!
Rio, beijo-a e me afasto.
— Vou fazer um macarrão para a gente e, pasme, querida, não é
instantâneo.
— É o que veremos. Quer que eu corte alguma coisa?
— Traga sua taça e sua beleza. Venha aprender a fazer um
talharim ao molho pesto.
— Uuuhh! Marido que faz talharim? Quem disse que ganhar na
loteria era a melhor coisa?
Um pouco mais tarde, estamos sentados à mesa saboreando
meu prato. Pelo menos Bernardo gostou, mas ele não conta, afinal é
guloso e come até sopa de pedra.
— E então? Aprovado? Ou vai interditar minha estadia na  cozinha?
Espero ela mastigar e engolir. Karol  limpa os lábios e sorri
meio desconfiada.
— Onde aprendeu a fazer isso?
— Eu sou o filho caçula. Meu irmão sempre foi meio desgarrado,
e eu, muito próximo à minha mãe — termino de falar com um dar de
ombros. — Aprendi a cozinhar — emendo em seguida.
— Está maravilhoso. Nem ouse tocar nesse resto da panela,
damas primeiro — ela avisa, com um dedo em riste.
Com a boca cheia, eu sorrio, olhando admirado para ela. Karol
está graciosa, com um jeans modelando suas curvas e uma blusa
meio folgada. Os cabelos que eu admiro pra caramba estão presos
de um modo mágico em um coque que ela fez sem ajuda de presilha,
grampo ou qualquer outra coisa. E parece muito bem preso. Foi por
essa garota que me apaixonei, tão simples que consegue ser muito
mais atraente e linda do que Carolina , que só anda maquiada, com
cabelo impecável e vestindo roupas caras.
É, fiz tudo calculado até esse presente momento. Sei que fui
estúpido algumas vezes, mas acho que os fins justificam os meios.
E você acha mesmo que isso é o fim? Que vai ser um final feliz?
Reviro os olhos para minha voz interior. Minha consciência só pode
ser mulher, não tem condição. Ela está me atormentando.
Sei que não é o fim e que enfrentarei águas estranhas daqui a
alguns dias, mas e daí? Saiu na chuva é para se molhar. Vou dar
conta do recado, vou dar a volta por cima.
E eu vou torcer para que karol  não seja tão boazinha com
você.
Por quê?
Você se fingiu de doente só para ela cuidar de você. Isso é
doentio.
Doentio é eu brigar comigo mesmo.
Terminamos de almoçar e vamos todos para o andar de cima
descansar. Eu e Rebeca chegamos a uma conclusão de que
devemos dividir nosso tempo com Beni e não ficar só namorando.
Depois a gente transa. Agora vamos todos deitar na cama como uma
família pequena e feliz.
O pai, o bebê e a tia do bebê.
Olha só quem veio deitar comigo me atiçando cinicamente,
minha consciência.
Com Bernardo entre a gente, karol  e ele acabam dormindo.
Eu fico apoiado no cotovelo olhando para os dois.
A partir de hoje, ambos são minha responsabilidade, e eu estou
achando muito maneiro isso. Ela não é tia do meu filho, é mãe dele, a
única mãe que Bernardo vai ter. Ela o salvou de um aborto e confiou
em mim sua vida e a do filho. Só se eu for um grande babaca para
virar as costas para ela. E, convenhamos, eu não sou um babaca.
Não é, pessoal? Kah  vai entender porque eu omiti minha identidade.
O pior de tudo não foi a identidade escondida. Você a fez assinar
um contrato em que ela te entrega o menino em caso de divórcio.
Isso se chama maldade e egoísmo.
Não! Se chama amor. Eu amei Bernardo no momento em que eu
o vi, eu amei karol  depois, por isso jamais usarei esse documento
contra ela.
Jamais?
Eu prometo, jamais.
— kah  — eu chamo e dou uma sacudida de leve nela.
Karol  abre os olhos assustada, olha para mim e depois para
Bernardo dormindo.
— O quê?
— Levante-se e venha me fazer companhia. — Ela se
espreguiça e puxa meu braço, olhando no relógio.
— Dormi muito?
— Uma hora. É o suficiente?
— Claro. — Ela senta na cama, ajeita os cabelos e levanta.
— Vamos tomar uma cerveja lá embaixo. — Eu já estou de pé e
estendo a mão para ela.
Karol  segura na minha mão e, abraçados, descemos levando
a babá eletrônica.
Ela senta no sofá, eu corro para a cozinha e, de dentro da
geladeira, eu grito:
— Cerveja?
— Sim — ela grita.
Entrego a cerveja a ela e me sento ao seu lado.
Se você tivesse desistido do casamento, contado a verdade para
ela e tentado conquistá-la como Ruggero , seria muito mais verdadeiro e
agradável.
Agora está sendo agradável, para mim e para ela. Pronto. Cale-
se e me deixe em paz.
Acha que alguns agrados e um sexo gostoso vão compensar?
Tem noção do quão grave foi o que você fez com ela?
Vai se danar, porra!
Karol  ligou a TV e está calada olhando para frente. Desde que
eu cheguei aqui, eu penso muito sobre o que vai acontecer quando
ela se der conta de quem eu sou. Por isso, acho que vou começar a  me explicar para saber se ela entende meus motivos para ter agido
de maneira sorrateira e planejada. Sei que, depois, ela não vai querer
me ouvir, então vamos lá:
— Já imaginou que talvez sua irmã tenha mentido sobre o tal
sujeito pai de Bernardo? — eu pergunto, e karol  vira-se para me
encarar.
— Oi?
— Você não o conhece. Sabe apenas que se chama Ruggero . Sua
irmã tinha acabado de brigar com o cara, estava furiosa. Já imaginou
que talvez ele não seja nada do que ela disse?
Karol fica calada, pensativa, mas, pelo olhar, eu acho que
acabou de cair a ficha de que talvez fez mau julgamento de um
desconhecido.
— Ele quer tirar meu filho de mim.
— Quem te disse isso?
Ela pensa um pouco, abaixa as sobrancelhas e balança a
cabeça.
— Carolina  — responde em um sussurro, depois semicerra os
olhos. — Está defendendo ele?
— Claro que não. Eu só acho que não devemos julgar sem
saber. Ele nem mesmo tentou entrar em contato com você, nunca foi
hostil com você. Tudo o que sabe dele é pela boca de Carolina . Se ele
é tão ruim como ela diz, por que ela estava com ele?
Karol  deixa a garrafinha de cerveja de lado e me olha, meio
aflita.
— Ah, Heitor… Eu não quero pensar sobre isso. Meu Deus!
Você tem razão, eu nem sei se…
— karol , não estou dizendo para você ligar para ele ou tentar  uma aproximação.

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora