tempestade de sentimentos

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Era pra ser mais uma terça feira normal. Acordo, vou pra escola, volto pra casa pra almoçar e depois volto pra escola pra treinar com o meu time de natação. Mas no meio do treino o tempo começou a fechar e eu liberei todo o time mais cedo, fiquei na piscina para arrumar as coisas e trancar os vestiários e quando eu acabei de arrumar tudo já tinha começado a chover. Que merda. Decidi esperar um pouco pra chuva passar, já que eu ia voltar de skate pra casa, mas o que era só uma chuva normal acabou virando uma tempestade enorme, e minha mãe tinha mandado mensagem pra que eu ficasse na escola até tudo passar por causa dos perigos que estavam sendo anunciados. O meu pior pesadelo estava se realizando: eu estava preso na escola, por sabe-se lá quanto tempo, sozinho, na maior tempestade da década e com 15% de bateria. Decidi ir até a entrada pra ver se achava mais algum azarado ou se eu era o único.

— Nossa, mas você só pode estar me zoando! — falei ao chegar na entrada da escola e ver quem estava sentado no chão. Jason Grace, o cara que eu não suportava. Não sei quando esse lance meu e do Jason começou, nós éramos muito amigos quando crianças, mas agora a escola inteira sabia que não nos dávamos bem, e a gente nem questionava o porquê, acho que só era normal uma richa entre os capitães de time de esportes diferentes.

— Jackson? — ele se virou em um susto, provavelmente, assim como eu, achou que estava sozinho aqui — Não acredito. O que você tá fazendo aqui? — ele perguntou com um desagrado na voz.

— Eu tava treinando com o time.

— E cadê eles?

— Eu tenho que ser o último a sair pra fechar tudo. Eles foram embora antes da tempestade. E você?

— Eu tava treinando.

— Sozinho?

— É

— Por quê? — fiquei curioso, não era comum jogadores de futebol americano treinarem sozinhos.

— Não é da sua conta.

— Não precisa ser grosso, Grace.

— Foi mal — ele desviou o olhar pro chão, e eu me sentei do outro lado da sala. Fiquei mexendo no meu celular até que a bateria dele acabasse, depois comecei a reparar em Jason.

Ele não tinha mudado muito desde que havíamos nos conhecido. Eram os mesmos olhos azuis que um dia já me olharam com carinho, os mesmos cabelos loiros e curtos irritantemente arrumados que me faziam querer levantar de onde eu estava só para bagunçá-los, a mesma cicatriz na boca que eu tanto conhecia, e como eu amava escutar a história de como ela tinha sido feita quando éramos crianças. A maior diferença era que agora ele era super forte por causa dos treinos de futebol e seus óculos, que ele tinha começado a usar há pouco tempo, e que só contribuíam para a imagem de nerd estudioso que ele tinha, principalmente agora, enquanto ele lia um livro sobre física quântica. Mas combinavam com Jason, e eu não podia negar que o deixavam mais lindo ainda. Devo ter encarado ele por muito tempo, porque nossos olhares se cruzaram e ele ajeitou sua postura incomodado.

— O que foi?

— Você tá com frio — pensei que isso sairia melhor do que um "Nada, só estou aqui reparando em como você fica absurdamente lindo de óculos", e eu também tinha reparado que ele tremia.

— Não tô nada.

— Eu tô te vendo tremer daqui, Grace. Quer o meu moletom? — tirei a minha blusa, eu não estava com frio, e ver ele tremendo daquele jeito me preocupava, de verdade.

— Não, obrigado.

— Qual é, Jason! Não precisa passar frio só porque você me odeia — joguei a minha blusa nele, que a pegou no ar.

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