Décimo - Parte II

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Sakura o encarou. A postura firme sob um fardo que não tinha certeza se poderia carregar.

- Eu faria qualquer coisa que me pedisse - disse ela em tom lento e cauteloso. - Exceto isso. Amo-o tanto que seria incapaz de fazer mal a qualquer parte de você e esse bebê é parte de você. Amei você por tantos anos, não apenas nos nossos últimos meses de casados. Amava-o antes de conhecer Hinata e depois também. Amava o filho que vocês esperavam porque era seu filho. - Sakura maneou a cabeça, desnorteada. - Acho que nunca deixarei de amá-lo, não importa o que eu faça. Se não consegue de forma alguma aceitar esse bebê, a decisão é sua, mas não posso abrir mão dele.

Com um movimento lento, parecendo um idoso se arrastando com o peso da idade, Naruto virou as costas para ela.

- E agora? - Indagou com a voz metálica.

- A decisão é sua - repetiu Sakura. Não conseguia acreditar que sua voz soava tão calma, mas sabia que estava encostada contra a parede. - Se quiser partir em vez de viver comigo, compreenderei e nunca deixarei de amá-lo. Nunca. Se quiser ficar, tentarei... - De repente, a voz falhou, fazendo-a se calar e inspirar fundo antes de prosseguir. - Tentarei manter o bebê longe de você, fora do seu caminho. Nunca pedirei para que tome conta dela ou a segure. Juro, Naruto, não terá de sequer de saber o nome dela se não quiser. Não precisará ser o pai dela, se não quiser.

- É uma menina? - Perguntou ele, desanimado, virando o rosto levemente para encará-la.

- Não sei, é só meu palpite.

Ele suspirou, fechando os olhos.

- Desculpe-me, mas não posso...

Naruto passou por ela e, após um instante, Sakura conseguiu comandar as pernas para segui-lo. Ele hesitou ao sair do apartamento, com a cabeça baixa e sem lhe voltar o olhar.

- Eu amo você Sakura. Mais do que possa imaginar. Gostaria de ter lhe dito antes, mas... - Fez um gesto impotente com a mão. - Algo morreu dentro de mim quando eu o enterrei. Ele era tão pequeno, tão frágil, eu deveria tê-lo protegido e falhei nisso. Eu era o pai dele e, aos meus olhos, não havia nada que eu não fizesse por ele. Tudo que consegui... foi segurá-lo nos braços... quando era tarde demais! - Os lábios de Naruto se distorceram com a dor e ele esfregou os olhos para limpar as lágrimas que derramavam pelo falecido filho. Tenho de ir. Ficar sozinho por algum tempo. Eu voltarei de um jeito ou de outro. Me perdoe. - Por fim, voltou o olhar para ela e o que Sakura viu em seus olhos a fez cerrar os punhos para conter o grito que queria lhe escapar da garganta.

Mesmo depois que a porta se fechou e alguns minutos se passaram, ela permaneceu parada no mesmo lugar, fitando a madeira maciça, porque não podia fazer mais nada. Sabia que seria difícil, mas nunca supusera que a reação de Naruto fosse tão exacerbada ou a dor que sentia ainda tão recente. Percebia a agonia que o sufocava como uma faca que penetrasse em sua carne. Ele dissera que a amava. Como era terrível ver o paraíso lhe ser entregue com uma das mãos e retirado com a outra.

Arrastou-se até a sala de estar e se sentou. Todo seu corpo entorpecido pelo choque, mas aos poucos começou a voltar à vida. Se Naruto a amava, talvez ficasse. Um milagre já havia acontecido. Seria tão insensato esperar por outro? E se ele decidisse ficar, talvez com o tempo a ferida deixada pela perda do filho fechasse o suficiente para permitir que Naruto amasse outra criança. Seu bebê. Manteria firme sua palavra. Se ele ficasse, não iria lhe impor a criança.

Naruto não voltou para casa naquela noite. Sakura se deitou na cama que dividira com ele todas as noites desde que ficara doente e chorou até lhe secarem as lágrimas.

Na manhã seguinte, após passar uma noite insone, Sakura chegou à loja no horário costumeiro. Aiko lhe notou a palidez e os olhos inchados pelo choro, porém, discreta, não fez nenhum comentário. Em vez disso, ocupou-se dos clientes, enquanto Sakura permaneceu no escritório, atualizando a contabilidade. Até mesmo aquela tarefa era dolorosa, porque tudo a fazia se lembrar de Naruto. Fora ele quem organizara os livros, ajudando-a a escolher o sistema de computação, trabalhando ali todos os sábados e, possivelmente, a engravidara naquela mesma mesa, onde se encontrava sentada.

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⏰ Última atualização: May 19, 2021 ⏰

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