- Austin, você vai nos matar! - Emily disse berrando - Não sei vocês, mas eu gostaria de sobreviver, pelo menos, até o final do dia.Estávamos os quatro dentro do carro - Austin ao volante, Emily sentada no banco do passageiro e eu e Lavínia no banco de trás. Por algum motivo, os pais de Emily acharam que seria uma boa ideia nós pegarmos carona com Austin, que tinha acabado de tirar sua carta de motorista. Eles não poderiam estar mais errados - Austin era terrivelmente péssimo no volante. Eu só queria que tudo aquilo acabasse logo.
- Vocês estão me deixando nervoso. Fica quieta, Emily! - Ele disse, enquanto se ajeitava no banco. Ele olhava para os dois lados do cruzamento e eu não sabia o motivo de ainda estarmos parados.
- Acho que você já pode atravessar.
- Emily, quem tem a carta? Eu ou você? - Ela resmungou um "você" de volta - Quem está dirigindo? Eu ou você? - Novamente, um resmungo em resposta - Então, por favor, FICA QUIETA.
Todas nós olhamos para ele, chocadas.
- Desculpa.
Ela se vira para trás, olhando para mim entre o vão do banco e da porta, e sussurra:
- Devia ter me sentado aí com você.
Eu olho para ela sorrindo, mas não digo nada em resposta.
- Pronto, Vinnie, chegamos - Austin disse enquanto parava o carro próximo a entrada da escola.
- Finalmente - Ela responde, enquanto pega suas coisas.
- Agora xispa. - Olho para a escola pela janela, era sempre estranho não ir junto com Vinnie, hoje faz oficialmente um ano que entramos no ensino médio. Não é como se tivesse sido grande coisa até agora e talvez por isso eu me sinta tão nostálgica quando passamos por aqui.
- Eu sinto falta de ficar com vocês no lanche - Vinnie diz, com um bico enorme.
- Eu não - Emily brinca - Até mais, perdedora.
Fingindo estar ofendida, Vinnie sai do carro e, enquanto anda em direção a escola, ela nos manda diversos beijos que são correspondidos por Emily - enquanto Austin volta a dirigir o carro, Emily abre a janela e se apoia nela mandado um último beijo para sua irmã. Completamente dramáticas.
Depois de um tempo em silêncio, Austin liga o rádio e coloca um cd: Humbug do Arctic Monkeys começa a tocar. "Pelo menos, pra isso, ele tem bom gosto". Emily aproveita e aumenta o volume, tão alto que eu podia sentir o banco e as janelas do carro vibrando.
Quando Crying Lightning começa, todos cantamos juntos. Emily se vira para mim e, quando me dou conta, ela está pulando para o banco de trás, sentando-se ao meu lado. Cantamos juntas a plenos pulmões.
Era quase como um déjà vu. Se eu fechasse os olhos podia até imaginar que estávamos dentro do seu quarto, fingindo que estávamos num show e cantando até ficar sem voz para no final nos jogarmos em cima da cama, completamente acabadas. Quando a música acaba, me pego de volta no carro e, por falta da cama, descansamos nossos corpos apoiadas uma na outra.
Austin nos observa pelo retrovisor e eu vejo que ele olha, principalmente, para mim. Tento ignorar seu olhar até que ele, finalmente, fala:
- Você vai ficar aí atrás agora? Eu tenho cara de motorista particular, por acaso?
Emily olha para mim pensativa e se vira para seu irmão, respondendo:
- Uhm, eu acho que sim e você, Sue? O que acha?
Eu seguro uma risada, porque, convenhamos, Emily é genial.
- Da próxima vez, você vai andando para a escola - Ele resmunga.
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O primeiro amor
RomansaEmily Dickinson acredita piamente em três coisas: a santidade das árvores (especialmente seu amado carvalho), seus poemas e que um dia ela beijará Sue Gilbert. Desde que viu seus olhos castanhos deslumbrantes na terceira série, Emily está apaixonada...