Capítulo único

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Era madrugada quando acordei com gotas de chuva tocando meu rosto, despertei de meu sono e corri para fechar as janelas, não queria que a chuva acordasse Benjamin que dormia com um sereno tão tranquilo que seria um pecado tirá-lo de sua calmaria.

Voltei para nossa cama, mas dessa vez sem um pingo de sono, olhei para o relógio que estava em seu pulso, nele pude ver que eram 03:00 horas, que irônico, "todo dia acordo no mesmo horário, mas por quê?", pensei ao deitar-me do seu lado.

Enquanto o sono não vinha, te observei dormir, você dormia tão serenamente, gostaria de saber se sonhava com algum lugar calmo, talvez sonhasse com aquela casa na rua de baixo, a que tinha o jardim cheio de flores vermelhas, lembro do buquê que você me deu com elas, foi no nosso aniversário de 1 ano de namoro. "Ah, que saudade daquela época", pensei e logo me recordei dos nossos anos de juventude, éramos cheios de amor e vida.

Benjamin, o que aconteceu com a gente? com aquele casal de jovens de 17 anos tão cheios de vida? as responsabilidades da vida adulta nos tornaram amargos?

Senti uma lágrima rolar pelo meu rosto, mas logo a sequei, nunca gostei de chorar na sua frente, não queria que você me visse como alguém fraca, mesmo agora.


Passei meus dedos gentilmente em seus cabelos, sempre gostei de tocar nos seus cachos, antes tão dourados e agora tão opacos, continuei com meu carinho, talvez só estando assim para você não reclamar deles.

Senti algo gelado tocando meu ombro, logo sem seguida a mesma sensação se repete, só que dessa vez olhei para o teto e percebi que era uma goteira.

Hotel vagabundo, me lembre de nunca mais alugar um quarto nessa espelunca, mas também o que eu poderia esperar de um local chamado "Heaven's Hotel", a Srª. Cecília claramente assistiu muitos daqueles filmes estadunidenses antigos, somente assim para colocar um nome tão brega como esse.

Se bem que, sei que não posso reclamar, quem mais alugaria um quarto por um mês para um casal esquisito que chega no estabelecimento em plena madrugada? Mas, se você tivesse me escutado quando disse que nosso aluguel estava atrasado e que seríamos despejados, nada disso teria acontecido, o Sr. Alberto também não facilitou nossa situação, quem despeja inquilinos em um domingo de noite? Só aquele crápula, se você não tivesse me arrastado para o carro, não sei o que eu teria feito, mas você me conhecia bem, sabia do meu temperamento difícil.

A chuva havia ficado mais forte e logo senti o meu lado da cama ficando ensopado, me levantei e comecei a empurrar a cama, tentando deixar ela em um canto que molhava o menos possível, pensei em te acordar e pedir ajuda, esse pensamento bobo me fez gargalhar, você não ia acordar, eu teria que fazer aquilo sozinha.

Depois de muito esforço, consegui o que queria e assim pude me deitar, como meu lado estava encharcado, me aproximei de você, entrelaçando meus braços ao seu redor e deitando suavemente em seu peito duro, o frio não passava, duvidava que fosse passar, então me conformei, ao menos estava em seus braços, e com esse pensamento de uma jovenzinha boba, que não condizia com meus 27 anos, adormeci.

Acordei por volta das 08:00 horas, me arrumei para sair, mas ao sentir o frio que fazia do lado de fora, voltei correndo e peguei seu casaco preto, você não sentiria frio, então não teria nenhum problema se eu pegasse emprestado por um tempinho.

Antes de sair, passei na recepção e encontrei a Srª.Cecília assistindo seu jornal, avisei que Benjamin estava dormindo e que não deixasse que ninguém o incomodasse, e fui às compras.

Não tinha muito o que comprar, então foquei em comprar o que seria o almoço daquele dia, no caixa me lembrei que seus cigarros haviam acabado recentemente, comprei um maço e voltei para o hotel.

Heaven's Hotel Onde histórias criam vida. Descubra agora