Às vezes penso que estou louco. Mas de alguma maneira, sempre penso nisso no feminino: "estou ficando louca". Não sei ainda o porque disso, talvez faça parte da loucura e acredito que sim, exista certa loucura. Mas não digo loucura em geral, só em alguns aspectos, talvez  detalhes de loucura. Como por exemplo a loucura que me acomete ao amar. Isso é uma das loucuras já observada a esmo, detalhada e confirmada. Já alguns desses detalhes da "loucura" eu ainda não sei explicar. O que tem me prendido a atenção é o fato de discordar das atitudes de muitas pessoas, da maioria com quem tenho convivido. E não é só o fato de discordar das atitudes, mas em suma, dos possíveis pensamentos e propósitos intrínsecos nos atos. De alguma forma nossa hostilidade e sadismo vieram à tona e aparentemente gostamos disso. Não tomamos atitudes para mudarmos, ao contrário, nos conformamos e nos acomodamos e "tudo fica bem". E quando observamos ninguém está bem. E nada está bem. E ninguém se importa. Ninguém muda. Ninguém sequer tenta mudar. E isso me sufoca. Me sufoca em um ponto que não consigo viver. Mal consigo respirar. Só escapar. Ou fugir.
Mas aí me deparo com a possibilidade de realmente, talvez, estar tudo bem (o que legitimamente duvido). Já que todos parecem bem, estaria eu errado? O fato do meu inconformismo ser destoante da realidade não é desconhecido a mim, pelo contrário. Bebo dele diariamente, doses amargas na maioria das vezes, o que me puxa violentamente para a realidade de que aqui não me cabe, não existe espaço pra mim. Tento também ainda definir o "aqui", por enquanto apenas sei que os conceitos e exigências sociais são os que mais me aborrecem e preocupam, portanto, talvez a sociedade em si, a massa, me seja nociva.
Mas e se eu estiver louca? Um transtorno é definido como uma maneira disfuncinal na elaboração dos fatos, ou seja, acontece x e você entende y, isso baseado no que a maioria acredita como o correto da realidade. Mas a minha crença é justamente que a maioria está muito errada. E isso diretamente me afeta e não encontrei muitos meios promissores de me desviar o suficientemente disso para que não me seja mais prejudicial, já que possivelmente eu poderia se a parte errada.
Talvez tenha gasto muito tempo buscando minhas conclusões, minhas verdades e quando comecei a encontrá-las não foram tão boas quanto esperava. A realidade foi um soco no estômago. E o senti com toda sua potência. E de experiência em experiência concluí que viver assim, nesses métodos da maioria, o normal, é extremamente doentio, desgastante e tóxico. Posso resignificar os fatos, entender diversas motivações e possibilidades, mas um dos fatores imutáveis e do qual claramente tenho consciência é que sofri e de alguma maneira ainda sofro, escrever sobre isso é uma prova incontestável.
Talvez a loucura se situe em acreditar que posso viver diferente do que se vive. Talvez eu seja realmente louca por achar que por ter tido um devaneio do sofrimento real que é viver, possa eu escapar deste destino. Teria tido eu um devaneio? Ou apenas algo disfuncional? De fato, não me sinto "louca". Me sinto ciente de uma realidade louca da qual tento me curar, e agora escapar. Mas o meu sentir não vale. Não me basta.
O fato de me questionar sobre minha sanidade em interpretar os fatos já bloqueia completamente qualquer possibilidade de eu estar certo ou não. Não me sinto louco. E talvez esse seja o primeiro sintoma de estar realmente louco. E existem vários tipos de loucos... Pensar nisso me assusta, pois nem sei se louco eu sou.

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