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KAROL

Faço cócegas em Beni, mas ele nem está se importando; está
olhando pidão para Heitor, com certeza querendo ir para o colo dele.
Desisto e entrego o menino.
Heitor coloca o menino sentado no seu pescoço, Bernardo grita
adorando, e eu vou atrás nervosa, pronta para segurar o menino caso
ele caia.
Descemos para a sala, e eu esqueço o caso do relógio e do
perfume. Certa vez, li que um fotógrafo ganha muito dinheiro. Eu acho
que Heitor vai me contar aos poucos sobre os bens dele. Primeiro,
me falou sobre o apartamento em São Paulo; depois, sobre essa
casa. Agora, deixa as coisas caras assim, à vista. Não vou me
assustar no dia em que ele chegar e falar que tem uma cobertura no
Rio.
***
Resumindo, passamos três longos dias no bem-bom. Adorei
cada segundo, curtindo um bom lugar, companhia perfeita, paz e um
bom sexo.
Uma lua de mel em Paris não seria tão boa quanto essa. Prefiro
a nossa intimidade e simplicidade do que ficar percorrendo lojas,
jantando em lugares chiques e visitando museu de arte.
Heitor me completa em todas as minhas falhas, ele me entende
e me ama de um jeito intenso e sincero. Eu vejo a sinceridade em
cada olhar que ele me dá, em cada carinho pelo meu corpo, em cada
beijo quente e abraço apertado. Ele é o mundo que eu esperava para
viver. Depois da morte de Ben, Heitor é o sopro de vida que eu tinha
perdido naquele dia fatídico do acidente que matou meu namorado.
Mas, como dizem: “Alegria de pobre dura pouco”, a minha tinha que
ser interrompida. E foi interrompida bruscamente por algo que eu nem

sei ao certo como lidar com isso.
Eu estou certa do que eu sinto pelo Beni e pelo Heitor. Amo os
dois e sei que esse sentimento é correspondido, mas ninguém vive ao
lado de uma pessoa tendo lacunas que desconhece.
O caso do perfume e do relógio caro foi apenas indício de que
algum mistério existia. A certeza completa de que Heitor me esconde
algo veio hoje mais cedo, quando, do nada, eu descobri algo que
acabou com minha paz.
***
Esta sou eu: toda apaixonada e feliz agarrada ao corpo nu do
meu marido hoje bem cedo, depois de termos transado mais uma
vez. Ele me aperta em seus braços, e eu me sinto a mulher mais
desejada, sortuda e sexy do mundo.
Eu ainda me lembro da primeira vez que Heitor quis fazer sexo
matutino, e eu estava toda envergonhada com minha aparência.
Agora, eu que acordo ele para podemos aproveitar a ereção dele
pressionada contra minhas pernas.
Nosso primeiro beijo foi a coisa mais sensual e erótica que senti
em anos. Bernardo nunca conseguiu me deixar fora do ar,
enlouquecida de prazer como Heitor faz em apenas um beijo. Por isso
tenho esse sorriso bobo nos meus lábios enquanto, com o rosto
colado no peito dele, eu aspiro feliz o cheiro do homem que amo.
Durante os cinco dias depois do nosso casamento, eu não
parava de agradecer a Deus pelo marido tudo de bom que eu
consegui do nada, de repente… Nem precisei procurar. Bateu em
minha porta.
Do nada? Um homem tão bom cai assim do céu do nada? Minha
mente questiona e eu dou de ombros.

Mais tarde, depois do café, fomos para a piscina e passamos a
manhã toda nos divertindo. Beni nunca riu tanto, e eu nunca sorri
tanto. A imagem dos dois juntos nadando foi a coisa mais linda.
Meu filho vai crescer com um bom homem para lhe educar, e o
mais incrível é como Heitor aceitou tão rápido o meu filho. Ainda me
lembro do dia que ele viu Beni pela primeira vez. Ficou perplexo,
como se fosse um ser de outro mundo. E, no dia seguinte, ele já
estava amando meu bebê.
— Dá tchau para a mamãe. — Heitor diz para Beni nos seus
braços. Ambos dentro da água, e eu na espreguiçadeira.
Bernardo acena para mim, os dois rindo, e eu maravilhada. Por
um momento, um pequeno momento, eu me deparo com um pai e
filho legítimos. Assim, sorrindo, com os cabelos pretos escorrendo na
cabeça, os olhos castanhos  brilhando… eles são muito parecidos.
Ou será que é apenas o que meus olhos querem ver?
Balanço a cabeça para tirar esses pensamentos confusos e bato
a mão para eles.
— Um beijo, meu amor.
— Só um amor? — Heitor pergunta, galanteador.
— Meus dois amores — eu corrijo, e ele me manda um beijo.
Em seguida, volta a atenção para o menino e suas brincadeiras
na água.
Depois, tirei Bernardo da piscina contra a vontade dele e deixei
Heitor dando braçadas rápidas de um lado para o outro.
Dei banho em Beni, o deixei no tapete brincando e saí na porta
para chamar Heitor.
— Querido, venha. Saia dessa piscina.
— Por quê? Tem algo melhor para mim?

— Tenho, me ajudar no almoço.
Ele gargalha ficando mais belo, sai da piscina, me beija na porta
e corre para dentro.
— Vou tomar uma ducha, não comece sem mim — ele grita,
correndo escadas acima.
— Heitor, vou usar seu notebook — eu grito.
— Ok!
Pego o aparelho e o levo para o balcão da cozinha. Vou ser
rápida, vou apenas mandar um e-mail para Renato e um para Carolina .
Heitor me fez prometer que íamos desligar nossos celulares para que
ninguém nos perturbasse. Eu aceitei a proposta. Acho legal ele
querer ficar comigo apenas, sem preocupação com o mundo externo.
Digito um rápido e-mail para os dois dizendo que estou bem, que
tudo está maravilhoso e que logo vamos visitá-los. Não espero
resposta. Saio da minha conta e estou prestes a fechar o computador,
quando me vem uma vontade de bisbilhotar.
Pois é, lembra que eu disse que felicidade de pobre dura pouco?
A minha estava prestes a acabar com apenas um clique.
Eu desisti da espionagem nos documentos dele. Isso não se faz,
cada um tem que ter seu espaço, e eu não quero passar a imagem de
uma mulher chiclete logo na primeira semana de casada, mas o ícone
da lixeira mostra que tem documentos excluídos. Ao menos isso eu
posso fazer, eu acho.
É melhor deixar pra lá, minha consciência adverte. Eu mordo os
lábios e penso: posso dizer que cliquei por acidente e tal.
Olho para os lados, corro para escada e chamo:
— Amor! — Não há resposta.
Volto para o computador e clico na lixeira. Há vários documentos

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora