A Precursora da Luz

Capítulo 1

A cidade real de Zybran era ainda mais bonita pessoalmente. O sol brilhava forte, fazendo com que sua luz refletisse nas vidrarias das diversas lojas, as casas pareciam ter sido feitas dos melhores e mais caros materiais de nosso reino e as flores possuíam mais cores que o próprio arco-íris que planava no céu. Sem dúvida alguma, tudo ali era diferente da cidade onde cresci. Hustred era tão modesta e calma, como uma anciã careta, e essa, era como uma jovem bela, vívida e cintilante.

­— Não é um encanto, Hemer? — Indagou meu pai, olhando para fora da janela do carro com um sorriso de orelha a orelha. Provavelmente hipnotizado com a arquitetura das diversas construções da cidade.

— Com certeza! — Sorri em sua direção, o que fez com que ele olhasse de volta para mim. — Obrigada por me trazer com o senhor, papai!

Ele pegou minhas mãos e as apertou. — Não precisa agradecer, meu doce. Já estava na hora de você sair daquela cidadezinha e explorar o vasto mundo em que mora. 

Ele estava certo, eu nunca havia saído de Hustred, quer dizer... não para um lugar tão distante. Uma vez, quando eu ainda era pequena, minha família e eu decidimos ir para uma praia que ficava na cidade vizinha para aproveitar o verão, porém, pouco tempo depois de estarmos lá comecei a passar mal. Lembro claramente do que ocorreu ali, quando fecho os olhos é como se eu ainda sentisse minha mãe sacudindo os meus ombros, minha visão turva e minha respiração irregular. Pode parecer loucura, mas juro que senti meu corpo queimando. Não havia fogo ali, nem indícios dele, mas ainda assim, senti como se o próprio sol tivesse se lançado contra mim. Após esse fatídico acontecimento, tive que fazer diversos exames mas nenhum soube dizer o porquê daquilo ter acontecido, apenas disseram para meus pais me manterem longe de lugares com muito sol ou calor.

— Está pensativa. — Meu pai me analisou. Semicerrando um pouco os olhos e franzindo a testa, indagou. — Por quê?

Bufei. — Queria que a mamãe estivesse aqui. Assim como a gente, ela iria amar esse lugar.

Senti meu peito apertar um pouco após dizer isso. Estávamos fora de casa há duas semanas, alternando nossos meios de transporte entre barcos, carros, viagens de trem e até mesmo um voo de avião, apenas para chegar até ali. Meu pai era um arquiteto famoso em Hustred e nos arredores, e graças ao seu talento, foi convocado para receber uma condecoração das mãos do próprio rei, por isso estávamos na capital real.

Após trinta minutos terem se passado, desde que havíamos pego o carro que iria nos guiar até o palácio, finalmente adentramos os portões do castelo. Eu nunca tinha visto algo tão esplêndido como aquele lugar, a beleza da cidade que ficou para trás, e que julguei ser o lugar mais lindo que já havia visto em toda a minha vida, nem chegava aos pés daquela simplicidade graciosa que era o palácio de Zybran.

O castelo possuía as mesmas cores do brasão oficial do reino, azul celeste para o telhado das muitas torres e um branco quase bege para as paredes externas, que representavam o amanhecer fraco da temporada invernal. Após o portão ficar para trás, havia um campo verde, com a grama bem cuidada e devidamente aparada, mas não havia nenhuma construção. O castelo ficava no alto de uma colina cercada por árvores, por isso, a estrada para subir ao palácio era um verdadeiro zigue-zague. Não sei dizer ao certo quanto tempo demorou para chegarmos ao topo, pois a beleza das árvores coloridas e a vista que a altura exibia da capital real haviam reivindicado a minha atenção completamente.

O carro parou em frente a outro portão, um bem mais refinado que o anterior. Após o guarda abrir aquelas grades douradas para passarmos, entramos de vez naquele lugar mágico. Eu esperava encontrar pessoas de nariz empinado e jeito pomposo mas sempre que alguém olhava em nossa direção acenavam com a cabeça ou nos lançavam sorrisos.