Após a morte de Alice todos ficaram muito abalados, a cidade parecia mais cinza e triste, porém 7 meses se passaram e a cor estava voltando aos poucos, Sophie já estava grávida de 7 meses, ela não se aguentava de ansiedade para ver aquele bebê nascer, sua gravidez foi o motivo pelo qual a família de Alice continuou a lutar. Durante esse tempo Beatrice, ou melhor Bernardo, treinava todos os dias, agora ela estava quase totalmente preparada para batalhar, seus treinos, eram feitos ás escondidas, afinal ninguém, nem mesmo Sophie sabia de seus planos, agora finalmente chegou o dia de serem ditos os nomes do que iriam para a primeira etapa da batalha, afinal apenas um grupo dos homens iria primeiro, os outros seriam enviados daqui a 4 meses. Nesse dia, Beatrice levantou cedo e foi cavalgando até a praça onde os nomes seriam revelados, chegando lá o porta voz do governo já estava prestes a começar, ele então citou os nomes da primeira etapa, Beatrice não estava inclusa nela, porém o homem começou a dizer os nomes da segunda e etapa e no final ele disse:
-E Bernardo Schimt, esses são os nomes dos homens da segunda etapa da batalha, todos eles devem ir até o campo do exército do País de Gales, em 4 meses. O governo da Escócia agradece a ajuda.
Quando Beatrice ouviu seu nome, ou melhor, seu novo nome, um sentimento de incerteza e medo se instalou no coração dela, agora não teria mais como desistir, em 4 meses ela sairia para a guerra e sem prazo de volta, teria que deixar Sophie, Thomas e principalmente, sua afilhada ou afilhado, que nem havia nascido, logo ela fez as contas da gravidez de Sophie:
-Sairei em 4 meses, o bebê de Sophie terá 1 mês se eu estiver certa, e eu espero que eu esteja.
Chegando em casa Sophie e Thomas ainda estavam dormindo, ela correu para seu quarto e começou a escrever uma carta para Visconde:
"Visconde,
Sei que é arriscado escrever para você, mas há algo que eu preciso lhe dizer, me alistei para o exército e em 4 meses irei lutar na Escócia, não estou com medo, treinei por 7 meses e treinarei por mais 4, minha preocupação maior é Sophie, se eu estou certa acompanharei apenas 1 mês de vida de meu próprio afilhado, ou afilhada. Sophie me colocou como madrinha porque pensava que eu ficaria aqui para sempre e ajudaria ela a cuidar da criança, mas quando eu disser que ficarei 5 anos ou mais fora ela ficará muito chateada comigo. Ela não será a única a sentir saudades, nunca imaginei ficar 5 anos longe de Sophie, nem imagino como seja minha vida com ela, sempre ficamos juntas, desde que nascemos, nossos planos quando mais novas era morar para sempre juntas, nunca esteve nos planos uma parte em que dizia que eu iria para o exército. Ela não terá problemas em educar a criança ou em cuidar da casa sozinha, afinal fomos criadas para fazer isso nossa vida toda, meu medo é voltar e encontrar minha melhor amiga com 4 crianças correndo pela casa, ela grávida e Thomas sentado numa cadeira de balanço com um cachimbo na boca, mesmo sabendo que Thomas não fuma, a questão é que eu tenho medo que ela se perca e se torne uma simples dona de casa que só limpa a casa, cozinha e passa as roupas do marido, quero que Sophie seja feliz e essas coisa não se encaixam na felicidade dela e disso eu tenho certeza. E como eu contarei para ela? É provável que eu conte e o bebê nasça ao mesmo tempo depois do nível de estresse que eu deixarei Sophie, sendo sincera, acho que até Thomas sentiria minha falta, contar para você só está sendo fácil porque estou escrevendo e não olhando em seus olhos. De qualquer forma eu fui a culpada por isso, me alistei, ou melhor alistei Bernardo, e agora não tenho como fugir, terei que contar á ela sobre isso e ela aceitando ou não, irei da mesma forma. Quanto a você Visconde, só tenho a agradecer, você me encorajou a fazer isso e me ajudou com meu nome também, Bernardo, serei chamada, na verdade chamado assim por todos e acho que será divertido me tornar Bernardo, mas o que eu gostaria mesmo é de ter dito o meu próprio nome naquela banca de alistamento, gostaria de entrar naquele campo de combate sendo eu mesma, sendo mulher, mas não poderei, de qualquer forma, ainda serei mulher, mesmo fingindo que não. Recebi uma carta de Ivan, de acordo com ele, eu e Sophie fomos dadas como mortas, ao mesmo tempo que isso é bom, é estranho, afinal, não estou morta, de qualquer forma, avise minha mãe que estou viva, mas não conte sobre a batalha, ela surtaria e viria até aqui caminhando apenas para me impedir. Essa será minha última carta a você, espero que eu consiga ver sua resposta, caso não dê tempo, fique sabendo que eu sentirei saudades e que eu estou bem treinada, conseguirei sobreviver a guerra e voltarei para mostrar a todos o que sou capaz, caso eu não consiga, saiba que eu tentei. Fique bem Visconde, se cuide e se der venha visitar Sophie e seu sobrinho, ou sobrinha, boa sorte para você, em tudo que for fazer, me espere, por que nem que eu esteja com uma perna só, ou sem um braço, eu vou voltar, assim que espero. Bernardo Smicht.
P.S: Como essa pode ser meu último contato com você, quero lhe dizer algo, se por acaso eu te ver outra vez desconsidere, mas eu gosto de você e talvez eu goste um pouco mais, mais que um amigo, se é que me entende."
Assim que Beatrice fechou a carta Sophie apareceu abrindo porta:
-Bom dia Bia...
Beatrice se virou assustada e Sophie disse:
-Já acordou? E já se trocou?
-A-acordei mais cedo hoje.- disse Beatrice se levantando.
Sophie viu o envelope em cima da mesa de Beatrice e perguntou:
-E essa carta?
-É-é para Visconde.
-Ok...
Beatrice deu um sorriso amarelo e Sophie disse:
-Bom, vou preparar o café. Ah, e a propósito, Thomas irá no correio hoje, se quiser que ele leve sua...
-Não precisa, eu mesma vou entregar, quando for fazer as entregas.- disse Beatrice interrompendo Sophie.
-Está bem, como quiser.- disse Sophie saindo do quarto.
Um tempo depois Beatrice saiu do seu quarto e se sentou na mesa e junto com Sophie elas começaram a se servir, logo depois Thomas apareceu, deu um beijo na cabeça de Sophie dizendo:
-Bom dia querida.
Depois ele se abaixou e beijos sua barriga dizendo:
-Bom dia meu bebê.
Depois ele se sentou e disse:
-Bom dia Beatrice.
Beatrice agradeceu concordando com a cabeça e depois Sophie disse:
-Não incomode Beatrice querido, ela deve estar preocupada demais com todos seu segredos.
Beatrice então respondeu:
-Não tenho segredos.
Thomas sentindo que uma discussão estava prestes a começar, apenas se levantou, pegou uma maça na mesa e disse:
-Bom, vou até o armazém ver se minha mãe precisa de alguma ajuda, volto pra te ajudar a fazer o almoço querida.
Thomas saiu e logo Beatrice disse:
-Por que está tão estranha comigo?
-Eu estou estranha? Estranha é você que do nada decidiu esconder tudo de mim, nem conversamos mais uma com a outra direito, você sai de manhã para fazer suas entregas, volta para casa, almoça, vai para só Deus sabe onde e volta na hora do jantar, come e vai para o seu quarto, a última vez que conversamos foi porque você não sabia se podia colocar uma roupa preta de molho junto com as brancas, algo que obviamente ninguém faria, e nos fins de semana você passa o dia todo com Charlotte e só vem para casa para fazer sua tarefas e comer, e agora está mandando uma carta para Visconde, carta que você não confia nem em Thomas para levar ao correio. Desde quando você confia mais em Visconde do que em mim?
-Não estou escondendo nada de você Sophie, só não quero te cansar, agora que está grávida.
-Se não quer me cansar diga a verdade, pode ter certeza que eu ficaria muito mais tranquila.
-Não há verdade, é que...
-Que?
-Depois que o bebê nascer não terá mais espaço para mim aqui.
-Como não Bia? Essa casa também é sua, e esse bebê é da sua família também, nós 4 somos uma família e há espaço para todos aqui.
Beatrice abraçou Sophie, ela estava triste por ter mentido para a amiga, afinal, com espaço ou não, logo ela iria embora dali e essa era a verdade, mas Bia não queria dizer ela agora. Depois as amigas se resolveram, Beatrice foi fazer suas entregas e passou no correio para enviar sua carta para Visconde, enquanto Sophie ficou em casa costurando roupas para o bebê.
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Em busca da liberdade
General FictionEm 1800 nasceram duas garotas, destinadas certamente a serem diferentes das garotas daquela época, nesse livro acompanhamos toda a jornada de Sophie e Beatrice em busca da liberdade.