- Não! Por favor! Não me mate! Eu juro que não farei mais isso! Por favor, você está me sufocando!
"Meretriz!", "Sem vergonha"
- Vocês não entendem! Eu não consigo controlar! É uma vontade incoerente...
"Vadia!", "Ordinária!"
- Por favor pare! O ar... O AR!Solari despertou desesperada. Estava morta, tinha certeza. Jamais resistiria a tal ferimento.
- Veneno... Tinha veneno na ponta daquele punhal. Jamais um corte como aquele me mataria dessa forma!
Correndo para o espelho mais próximo, viu que não havia ferida alguma.
- É isso, a morte não me poupou, não houve misericórdia. E de certo não ascendi aos céus, uma vez que me encontro no mesmo casebre em que fui ceifada. Devo estar condenada a vagar eternamente por esta Terra imunda!
- Não está morta...
Solari olha ao redor buscando a voz.
- QUEM ESTÁ AI?! REVELE-SE!
- Olhe para o espelho garota...
No espelho, nada.
- REVELE-SE!
- Olhe o espelho...
Quando Solari abre a boca para gritar com o espelho, percebe algo diferente em sua boca. A intensidade de seu grito a faz ir para trás, de encontro com a parede.
- O QUE É ISSO? É A COMPROVAÇÃO DE QUE ESTOU MORTA? ONDE ESTA MINHA LÍNGUA?! Aquele desgraçado, deve a ter decepado em seu surto!
Um leve riso ecoa por todo o ambiente.
- Calma criança. Sou Hunna, sua segunda chance de viver.
De volta a frente do espelho com a boca aberta, Solari ve com clareza o fundo roxo repleto de pontos brancos, como as estrelas no céu noturno.
- Não pude vê-la sofrer uma morte tão desonrosa. Uma garota tão bela, tão humilde a ponto de implorar pela vida... Tomei posse de seu corpo e curei suas feridas, e, comigo aqui, poderá viver novamente como era.
- Nada nesta vida é de graça. Muito menos a própria vida! Vamos, me fale o que quer!
- Quero olhar. Quero aprender. E viver entre os humanos. Quero entender o que motiva tanta violência, porque torturam, agridem e matam. Você, que acaba de vivenciar uma experiência quase morte, pode me proporcionar essa proximidade. Quero ver o mundo aqui aos teus olhos, não de lá de cima.
- E se eu não aceitar?
- A ferida irá voltar, o veneno reagirá, e, consequentemente, você não irá aguentar. Voltará ao ponto onde te encontrei, implorando à morte por miseri...
- SOLARI?! É VOCÊ QUEM FALA?! ESTÁ VIVA?! - Uma fina porém potente voz masculina adentra o recinto.
- Não! É ele Hunna!
- Ele quem?
- Meu esposo!
À porta está um homem alto e seguiu, com ódio nos olhos.
- IMPOSSÍVEL! ERA PARA ESTAR MORTA, ASSIM COMO O INFELIZ QUE A DESVIRGINOU!
- Cortes, eu posso explicar!
Antes que Solari pudesse proferir mais uma palavra, o homem avançou novamente em seu pescoço, apertando com brutalidade.
- COMO?! MAGIA NEGRA! SÓ PODE SER ISSO! ALÉM DE VADIA É BRUXA TAMBÉM!
Mas o ar já não faltava como da outra vez. Respirava perfeitamente, o suficiente para não perder sua força ou sua voz.
- Cortes, largue-a!
A voz ecoou pelo ambiente. Hunna se pronunciava. Os olhos de Solari adquiriram seu tom roxo estrelado, e assim Hunna presenciou pela primeira vez a raiva.
- Há raiva em seus olhos, mas há dor em seu coração.
- BRUXA! - O homem desesperadamente largou a jovem possuída. - BRUXA! - Gritava cada vez mais alto. - MAGIA NEGRA, CHAMEM A INQUISIÇÃO!
Aquelas palavras trouxeram Solari de volta a si. Não era bruxa, apenas hospedeira de um pedaço do universo. Mas o mundo medieval jamais entendería isso...
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O mundo em Hunna.
ФэнтезиHunna, um pedaço do universo, decide viver entre os humanos como uma, a fim de entender seus comportamentos. Solari é encontrada por Hunna a beira da morte, e, suplicando por misericórdia, tem a vida poupada.