O Contato

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Éramos McLaren, Gonzales, DeForest, a Dra. Petrova e eu, tão distantes do mundo quanto nos impediam os mares gélidos e os icebergs. Nossa base, entenda, se localizava num ponto estratégico, ao sopé de uma colina em forma de ferradura, que barrava grande parte dos ventos fortes do Coninente Austral, assim impedindo que nosso equipamento fosse danificado. Eu estava só no laboratório, quando ouvi duas batidas na porta. Virei-me e deparei-me com McLaren. Era um sujeito compreensível, nada incomum. Durante nossa estadia de mais de seis meses na base, nunca tive do que reclamar acerca de suas atividades. Naquela tarde, quando o sol da meia noite iluminava parcialmente o campo de pesquisas, a feição que vi nos olhos de McLaren me assustou. Pensava que talvez tivesse dormido de mais, mas logo vi que não era nada disso. Tinha olheiras e uma expressão apavorada, e me fitava pasmo, diante de alguém cuja calma parecia lhe espantar. Perguntei-lhe o que houve.
  - Os computadores...
  - O que há?
  - Registraram comunicação!
  - Do continente?
Ele hesitou por um instante, e como quem estivesse prestes a contar algo em que ninguém poderia acreditar, disse-me para acompanhá-lo. Assim o fiz.
A base não era nem um pouco pequena; era de se esperar que abrigasse em torno de sete cientistas por um ano e meio, e o domo central, provido de tudo o que nos era necessário, era quase um labirinto minóico, com lâmpadas fluorescentes que iluminavam nosso caminho. Naquele dia, contudo, elas oscilavam, como que sofrendo a influência ds algum distúrbio nas correntes elétricas que as impedia de funcionar corretamente.
Segui McLaren até a sala dos computadores e lá encontrei-me com o Dr. DeForest, que parecia absorto nas leituras da máquina colossal que cobria quase um quarto da sala. Lia algo no monitor de que, de longe, não pudera eu me aperceber, e assim ignorava o porquê da afobação de ambos. DeForest então virou-se na cadeira, viu-me junto com McLaren e tentou dizer algo, olhando rapidamente para o monitor uma outra vez, e parecia não saber no que se ater. Dirigiu-se então a nós dois:
  - Continua com os mesmos sinais!
  - Você averiguou corretamente? - Perguntou McLaren.
  - Do que vocês dois estão falando?
  - Herbert, nosso sensor recebeu mensagens criptografadas.... bem, eu não diria exatamente criptografadas, a não ser que estejam brincando conosco, o que acho implausível!
  - Além disso - Completou McLaren- têm nos enviado coordenadas que batem exatamente com o platô da colina acima da base.
  - Céus, homens! Do que vocês estão falando?!
  - Recebemos uma mensagem, Herbert. E ela não vem do continente.
  - Mas como? Alguma rádio clandestina, um pirata perdido?
  - Ela não parece vir do mar também...
  - Então de onde está vindo essa tal frequência?
Os dois se entreolharam, e igualmente espantosos eram os seus semblantes. DeForest então disse:
  - Vem do céu, Herbert.
  - Como?!
  - Alguém está nos contatando desde a estratosfera!
  - Um avião, talvez? Seria uma frequência de algum jato fora de curso?
  - O objeto está imóvel. Suas coordenadas batem exatamente com... - Dizia DeForest, dando uma última olhada no monitor. Emitia um bipe constante e incômodo. Voltando-se para mim, completou - A base!
  - Não posso acreditar!
  - Eles estão logo acima, Herbert. Não há outra explicação.
  - Não seria um satélite com defeito?
  - Não há nenhum que orbite de polo a polo. - Disse McLaren.
Um silêncio se instaurou na sala de computadores. Não um silêncio objetivo; os incômodos bipes e barulhos do maquinário, bem como a nevasca que caía lá fora, eram as únicas coisas que se ouviam. De resto, permanecemos todos calados.

Um quarto de hora depois, estávamos McLaren, Gonzales, Dra. Petrova e eu na cafeteria. Cada um tinha o café a seu modo. Apenas McLaren parecia não estar interessado nele. Conversávamos sobre o que poderia significar aquilo tudo, enquanto DeForest permanecia na sala de computadores, atento a cada sinal, a cada nova frequência.
A cafeteria era uma sala extensa, um retângulo de metal e concreto, com isolamento plástico que, devido ao ir e vir dos anos, pouco se desgastara. Havia sofás e móveis, como em uma sala comum, e um balcão nos servia. Como não havia ninguém mais além de nós por lá, bastava que abríssemos a geladeira e nos servissemos a nós mesmos. Havia pouca comida perecível; o nosso estoque era, em maior quantidade, composto de latas de sardinha e outros alimentos enlatados e conservados, que nos serviriam para suportar o frio invernal. A maior parte desses, no entanto, ficava fora da zona da cozinha, mas não muito distante: bastava voltar ao corredor e descer à despensa à direita, trancada e isolada a fim de que nada se comtaminasse e pusesse em risco a toda a equipe presente.
Como dizia, estava tomando meu café, e por pouco me esquecia do que passara na sala de computadores, quando DeForest veio esbaforido, quase tropeçando, até nós, com a notícia de que decifrara a mensagem.
  - Acalme-se - Urgimos a responder - Apenas nos diga o que se passou!
  - A mensagem...
  - Que mensagem?
  - Eu decifrei a mensagem!
  - Como?!
  - O código criptografado não era uma... - dizia, ofegante. Gonzales encarregou-se  de conduzi-lo ao sofá, para que pudesse nos contar com mais calma o que se passara.
  - O código era na verdade uma espécie de linguagem lógica, e continha uma mensagem. Pude discernir palavras, e pelo pouco que compreendi, não estamos nos tratando com gente como nós. Na verdade, sequer penso que estamos tratando com gente de verdade.

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⏰ Última atualização: May 21, 2021 ⏰

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Odisséia na Escuridão: Contos de Fantasmas, Demônios e VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora