Capítulo 4

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O dia amanheceu chuvoso. O universo lamentava seu pedaço perdido. Roran, outro pedaço do universo, se culpava pelo sumiço de Hunna.

- Mas é impossível! Como ninguém a viu fugir! Somos um universo, observamos tudo a todo o momento. Ela não pode ter ido longe.

- Roran, Hunna é curiosa. Deve ter ido para a Terra. Todos sabemos do fascínio que ela tem por seres humanos. - Dizia Laika, o pedaço de universo a quem Hunna se ligava.

- Raça maldita! Por que não se matam todos logo? - Os gritos de Roran ecoavam pelo universo como trovões, fazendo com que fossem ouvidos da Terra. - Antes tivéssemos dizimado aqueles seres medíocres, já não servem de nada mesmo.

- Hunna fez sua escolha. Ela sabe como voltar. Não podemos forçá-la a isto, nem temos como. Tudo um dia volta ao seu lugar, esta é a nossa garantia, e ela sabe disso.

- Chuva! Mais essa ainda. Jamais vamos chegar à casa de Loren assim.

- Roran... está furioso... Posso ouvi-lo.

- Quem?

- Roran. Meu outro pedaço. Deve ter percebido que sumi. - Outro trovão retumbou no céu. - Ouve seus gritos? Está enfurecido.

- Outro pedaço? Todos os pedaços do universo tem nome?

- Todos os humanos não tem nome? Porque nós não teríamos?

Após mais algumas horas de caminhada, finalmente encontraram a humilde cabana de Loren, no centro de uma clareira no meio da floresta.

A cabana, porém, estava vazia e trancada, e pela janela já parecia inabitada havia muito.

- Loren... - Solari conseguiu apenas proferir o nome antes de seu desmaio, provavelmente por fome, exaustão e frustração.

- Não! Por favor, poupe-me. Tudo o que fiz foi para seu bem Solari, você sabe disso.

A raiva reluzia laranja dentro de Solari, seu corpo todo tremia, a boca salivava.

- Você me ARRUINOU! SUA BRUXA IMUNDA! SERIA MELHOR SE A INQUISIÇÃO A TIVESSE PEGO.

- Não meu pequeno raio de luz, retire esta raiva de dentro de você, sabe que não tive intenção de machucá-la. Era o melhor.

- CALADA! Você merece morrer como ele! Você fez isso com ele, e comigo!

- Acalme-se, vamos conversar, ainda há pureza em você.

- Não há mais nada. - A voz da jovem tremia ao segurar o choro, tentando combater a tristeza com o ódio. - Eu tinha tudo, eu devia ter permanecido ao lado dele, nunca deveria ter me casado com Cortes como você mandou. Você sabia como ele era!

- Ele era o melhor para você...

- NÃO! - Solari ergueu ao ar um punhal.

- Morta. - Solari despertou ao som da voz de Hunna. - Ela está morta.

- Quem está morta?

- Loren. Você a matou... Por que?

- Eu não matei ninguém! Está louca!

- Você pode não lembrar, a memória é ofuscada quando você acorda, mas inconsciente ela vem. Você a matou Solari.

A jovem se levantou transtornada.

- EU JAMAIS MATARIA ALGUÉM, AINDA MAIS ALGUÉM QUE NÃO CONHEÇO! PORQUE MATARIA UMA VELHA QUE MORA NO MEIO DA FLORESTA?

- Isso não sei, não consegui acessar... Mas havia algo sobre Cortes, casamento... E outro homem.

Solari batia na própria cabeça enquanto chorava.

- SAIA DA MINHA CABEÇA HUNNA! PARE DE LER MEMÓRIAS QUE NÃO EXISTEM! VOCÊ ESTÁ CRIANDO COISAS!

- Você sabe que não estou. Por que ignora a verdade?

- PORQUE ELA DÓI! A VERDADE DÓI HUNNA! E VOCÊ JAMAIS SABERÁ O QUE É ISSO! PARE DE ME USAR!

- Se eu parar de te usar, você morre. Sei que não quer isso. É só aceitar.

- Não! Isso não aconteceu! Eu casei com Cortes e o trai por capricho. Não há nada do que está dizendo. E CHEGA DISSO!

Com o rosto em lágrimas e a fúria tremendo o corpo, Solari se jogou contra a porta da cabana diversas vezes até quebrá-la. Seus olhos percorreram o ambiente e o grito lhe escapou pela boca ao ver o que restava de um corpo pútrido.







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