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RUGGERO

— karol .
— Me solte — ela grita já se espinhando. — Vou sair da sua bela
casa agora. Me deixe em paz. Tenho uns trocados, vou ir para um
hotel.
Uma raiva me consome, e eu resolvo usar minha carta na
manga. É hora de usar o contrato contra ela. Tô nem ligado se vou
ser um babaca fazendo isso.
— Quer ir? Então vá! Quer o divórcio? Pois darei — eu retruco e
gesticulo rápido.
Ela arregala os olhos e fica me olhando, enquanto vou até minha
bolsa, pego o envelope de documentos e jogo tudo na mesinha de
centro. Procuro algo e entrego apara ela.
— Cláusula nove. Leia. Em caso de divórcio, Bernardo fica
comigo. Ele é meu sangue, e não vou abrir mão dele. Se quiser sair
por aquela porta e insistir em um divórcio, saiba que eu tenho a
guarda total do menino.
Karol  desaba boquiaberta sentada no sofá. Lágrimas
recomeçam a rolar em sua face.
— Eu jamais assinaria isso. Meu pai jamais permitiria.
— karol , eu agi sempre à frente de vocês. Ele leu um
documento, e você assinou o que eu quis. Mas o foco é: quer
Bernardo com você? Faça por merecer, aceite esse casamento. Está
presa a mim, querida esposa.
Com pose de dono do pedaço, o poderoso da casa, eu caminho
para o corredor que leva ao quarto.
Mais tarde, levo Bernardo para o quarto onde já há um berço
montado. Vou até a sala, e ela ainda está sentada, petrificada e
pálida, lendo os papeis que joguei à sua frente. Não está chorando.
Com raiva, eu digo:
— Beni acordou, alimente-o. Vou dormir, pois amanhã tenho que
ir cedo para a empresa. Quis fazer de mim um vilão, pois aqui está
seu vilão.
***
Na manhã seguinte, acordo muito cedo. Não a vi mais depois do
recado que dei. Quase nem dormi nada, preocupado, irritado,
chateado. Sei que ela estava pior que eu e até compreendi sua
revolta, ela foi enganada por quem mais confiou, entretanto poderia
dar um voto de confiança e não ficar me atacando a todo momento
com base no que a vaca da irmã colocou na cabeça dela.
Eu não sei ainda o que fazer para abaixar a raiva dela. Não sei
ainda que rumo tomar, creio que nós dois devêssemos pensar com
calma. Durante a noite eu até pensei em deixar ela aqui sozinha com
Beni e ir paraa casa da minha mãe, para darmos a nós dois esse
tempo longe um do outro. Entretanto, não confio nela. Ela pode ligar
para Renato ou a cobra da irmã e ajudarem a sumir no mundo com
meu filho. Não vou desgrudar dele.
Tomo um banho, me visto e pego minhas coisas de escritório. O
quarto de karol  está entreaberto, mas passo sem olhar. Coloco as
coisas na sala e não há sinal dos papeis que eu joguei. Dou de
ombros e vou para a cozinha preparar um café. Às sete horas, ouço
Bernardo chorando. Termino de tomar o café bem rápido para poder
sair antes de ela me encontrar na cozinha.
Vou saindo correndo, quando algo me chama a atenção. Na
geladeira há um bilhete. Volto e o arranco de lá. Sinto um leve mal-
estar quando leio. Saio correndo desesperado, entro no quarto, e
Bernardo chora sozinho no berço. Nem sinal de karol .
— Papá! — ele grita, e eu me apresso em pegá-lo.
Estou ofegante, pasmo e com o bilhete amassado nas mãos.
— Calma. Mamãe já vai voltar — eu falo baixinho com ele
apoiado no meu ombro, mas, no fundo, sei que talvez isso não
aconteça.
Puta que pariu. O que vou fazer agora?
Ruggero , eu nunca estive envolvida com Carolina  em um plano para
arrancar seu filho do lar paterno. Se o quer tanto, eu o concedo. Ele é
seu.
Mostre que tem um pingo de Heitor dentro de você e cuide bem
dele.
Sem mais, karol .


KAROL


5h da manhã
Estou chorando em frente ao espelho do banheiro, com uma
tesoura nas mãos. A casa está um silêncio, e minhas lágrimas caem
pelo que farei agora. Beni é tudo o que eu tenho, mas, se eu
continuar mais um segundo aqui, vou enlouquecer e, como não posso
levá-lo comigo…
Com as mãos trêmulas, eu ergo a tesoura. Limpo as lágrimas e
olho duramente para mim mesma.
“Adoro seus cabelos, nunca os corte”, Ruggero  sopra em meus
pensamentos. Usando isso como combustível para a coragem, puxo
meu cabelo longo, uma lágrima escorre e cai junto com várias mexas
sobre a pia.
***
— Carolina , preciso de sua ajuda — imploro. Minha voz sai fraca
e meio gaga entre o choro.
Assim que saí da casa de Ruggero , caminhei por minutos a fio,
encontrei uma praça e desabei em um banco, sem saber ao certo o
que fazer, a quem recorrer. Podia ser valu, mas ela é namorada do
irmão do patife. Não posso arriscar. Não quero que ele me encontre.
A dor que estou sentindo é pior do que quando perdi Bernardo,
porque agora eu perdi minhas duas paixões. Meu filho, meu grande e
único tesouro, e aquele cafajeste desgraçado. Mesmo sendo terrível
admitir isso, eu ainda o amo.
— Karol , o que houve? Estou no trabalho, não posso falar

agora — carolina  reclama com impaciência na voz.
Sem conseguir dizer qualquer coisa, eu só choro. Já estou
dilacerada de saudades do meu bebê, rasgada pela dor da traição.
Até ontem, me considerava a mulher mais sortuda do mundo por ter
encontrado um marido… que era tudo. E agora, descubro que ele não
é nada do que se fez passar.
Será que aquele maldito está cuidando bem do Bernardo? Eu
não podia ter abandonado Beni, que espécie de mãe eu sou?
Entretanto, eu podia fazer nada além disso. Acho que só preciso de
um tempo para pensar em tudo.
Ruggero … Oh, Deus! O maldito pai de Bernardo sempre esteve ao
meu lado. Por todo esse tempo eu fugi como uma louca, contando
para ele sobre meus medos, e ele rindo de mim pelas costas.
— karol , pare de chorar e me conte o que está acontecendo
— Carolina  ordena pelo telefone. — É algo com mamãe?
Ela foi a única que eu tive que ligar, a única que posso confiar.
Jamais irei confiar em qualquer um desses amigos de Ruggero . Claro que
eles não vão ficar contra ao cara que conheceram a vida toda.
— Mamãe está bem — murmuro. Limpo as lágrimas e pigarreio.
— Então é com Beni?
— Não.
— karol , seja direta. Não tenho o dia todo.
Eu passo a mão nos cabelos, olho ao redor completamente
desesperada, respiro compassado e tento explicar. Será difícil para
eu me acostumar com esse fato.
— É sobre Ruggero , o pai de Bernardo — assim que falo, ouço um
gemido raivoso de carolina . Quando ela volta a falar, noto uma tensão
aguda na voz.

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Voltei gente

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora