Passamos a noite inteira em claro, conversando.
Depois da declaração inesperada de Seth, o clima ficou um pouco estranho, então ele deu um tempo ao fugir para o banheiro para tomar banho. Quando finalmente retornamos para o quarto, já estávamos num clima mais ameno, e se manteve assim.
Eu não quero olhar para a situação e fingir que não aconteceu. Seria muito simples ignorar tudo isso em prol de preservar também a nossa amizade do jeito que estava, mas seria errado simplesmente ignorar o sentimento que ele fez questão de expressar. Suspirei. Responsabilidade afetiva é foda.
Seth me arrastou escada abaixo para que a gente pudesse tomar café da manhã. Quando chegamos à cozinha, ele paralisou. Observei o homem alto e de aspecto simples parado em frente ao fogão, fritando alguma coisa. Olhei para Seth e arqueei uma sobrancelha.
- É meu pai – murmurou, e eu confirmei. Embora eu já frequente a casa de Seth há algum tempo, é a primeira vez que eu vejo algum de seus pais. Aparentemente eles viajam muito à trabalho, então Seth está sozinho basicamente o tempo todo.
Antes que eu pudesse falar ou fazer alguma coisa, o homem olhou para trás, finalmente nos notando parados ali.
Seus olhos se arregalaram um pouquinho pela surpresa, mas ele não demorou a sorrir.
- Bom dia, filho – me olhou, especulativo. Senti um bolo se formar em minha garganta de tão sem graça que eu fiquei com o olhar intenso que ele me direcionava.
- Erm... Bom dia, pai. Eu não sabia que você voltaria para casa hoje – Seth falou, meio desesperado, me olhando de canto de olho. – Essa é a Samanta. É minha amiga da escola, e faz parte do time feminino de vôlei – me apresentou. O homem se aproximou de mim, me estendendo a mão enquanto sorria de forma cúmplice.
- Bom dia, Samanta. Meu nome é John, muito prazer – apertei sua mão em um cumprimento rápido. – Pode me chamar só de John mesmo – sorriu.
- Bom dia, Senhor John – falei, me sentindo desconfortável com a intimidade imposta. – O prazer é meu.
- Eu estou preparando o café da manhã. Vocês querem comer comigo?
Seth concordou e se sentou, me puxando para sentar ao lado oposto do lado que seu pai sentaria. Pensei em falar alguma coisa, mas ele me lançou um olhar me alertando. Dei de ombros.
- Vocês estão juntos há quanto tempo? – o pai de Seth falou do nada e se virou para a gente, colocando uns pãezinhos e várias outras coisas na nossa frente. Seth soltou minha mão como se tivesse levado um choque e olhou sem graça para o pai dele. Segurei o riso, embora eu também estivesse quase morrendo por dentro. Pelo menos eu não sou a única que passa vergonha na frente dos pais.
- A gente não está namorando – Seth esclareceu. – Eu falei: é amiga da escola.
John riu e olhou para o filho.
- Você não é de trazer amigos para casa, por isso pensei que estavam namorando – arqueou a sobrancelha, como se quisesse dizer algo a mais, mas preferiu deixar para lá.
- Só ignora – Seth falou baixinho, perto do meu ouvido, para garantir que seu pai não iria escutar.
- Se você quer que ele pare de pensar que a gente está junto, essa não é a melhor atitude a se tomar – murmurei e sorri sarcasticamente quando ele se afastou tão bruscamente de mim que quase caiu da cadeira. Agarrei seu braço por puro reflexo, puxando ele de volta pra perto de mim. Tentei segurar o riso, mas quando ele abaixou a cabeça e colocou a mão em seu rosto eu não aguentei e comecei a rir.
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Transições
RomanceSam é uma garota com um passado complicado e marcado por traumas familiares e pessoais, que foi obrigada a virar as costas para toda uma vida e começar tudo de novo ao precisar se mudar para um lugar completamente novo. Movida pela paixão por esport...