Vento

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O Sol se preparava para partir e dar lugar à noite, as flores do campo se fechando em resposta. As luzes se acenderam, umas poucas crianças foram chamadas para entrar. O jantar estava ficando pronto e o cheiro percorreu as montanhas.

— Eu já estava para ganhar! - Desapontado, um menino bateu o pé em protesto.

— Certo. Você fica com o gol e eu fico com a comida! - A irmã mais velha esfregou as mãos uma na outra, rindo.

Mesmo que não quisesse, ele suspirou inocentemente e se voltou para a entrada de casa. O bom cheiro ficou mais forte ao abrir a porta, mas ele só pode perceber vento - um vento suave que cortou o cheiro bom. O menino se virou bruscamente, forçou a vista, foi com os olhos em todos os cantos e não viu nada. Estaria delirando? Sem embargo, resolveu ignorar e entrar.

— Credo, Lô! Demorou... a mãe já ia começar as coisas sem você! - Outra irmã avisou de prontidão, enquanto preparava uma fornada de "Não Sei Oque", nome que ela mesma inventou.

A aparência de sua casa era de fazer o sorriso de qualquer um. Adornada de flores por dentro e por fora, tinha um curioso ardor de lavanda, que só não era tão notável quanto aquele aroma de tempero que flutuava por todo lugar. A mãe dele tinha um bom gosto para decorações, mas a casa se encontrava mais enfeitada do que o normal. Era feriado de alguma coisa - coisa que ele, tendo dez anos, não compreendia.

E mais uma vez, aquele vento. O vento viajou entre as janelas e a entrada. Bateu a porta, derrubou um jarro de flores ali perto. O vento se diferenciou e estava mais violento do que antes e sendo aquilo normal ou não, ninguém pareceu se importar com o recipiente em estilhaços. Talvez eles estivessem ocupados demais com as comemorações.

— Eu sei que não gosta tanto de festas, mas ao menos vai participar? - Sua mãe interrompeu, analisando carinhosamente.

— Pode ser, mas eu não garanto que irei sumir antes dos convidados... Talvez eu fique mais se me reservar uns 'Não Sei Oque' de bônus. - Ele colocou as mãos nos bolsos e se dirigiu para a sala de jantar após descontrair, sua mãe começando a rir com o comentário. Ela realmente apreciava o humor seco do caçula.

"Lô" preferia não questionar o motivo daquilo tudo, embora essa dúvida estivesse gritante em sua garganta, apenas sendo apartada por uma preguiça qualquer. O pensamento de que não precisava compreender também estava presente.

Mas ele cedeu. Finalmente, abriu a boca.

— Mãe, pra que serve esse feriado? Não estou reclamando.. é só.. você sabe. - Encolhendo os ombros, permaneceu com as mãos nos bolsos do casaco e a voz oscilando.

A mulher pareceu surpresa com a pergunta e o olhou de soslaio, forçando seu corpo a fazer uma parada para processar. Aquela informação que estava prestes a dar era.. problemática, ou polêmica em outras palavras. Nada assegurava que Lô entenderia.

Calorosa de certa parte, ela deixou escapar um breve suspiro enquanto voltou a preparar a mesa. Decidiu contar para ele, ocultando algumas coisas que poderiam fazer confusão em sua mente de dez anos.

Não era nada complicado,

mas poderia deixá-lo intrigado.

Então, ela o relembrou sobre as inúmeras vezes em que a Terra esteve em perigo, e sobre as inúmeras vezes em que ela foi salva por um ouriço azul, uma ouriça com martelo; um último equidna; uma raposa de duas caldas e um ouriço cor de ébano. - Há de ter outros com feitos assim, mas contar um por um seria cansativo.

Sabendo disso, o objetivo do feriado era simples, primário: comemorar a vida dos heróis que mantiveram seu coração solidário.

— Hum... - Seu filho se encontrou pensativo após a explicação, olhando para o teto como se procurasse por algo, que à propósito, nunca encontrava. Mantendo um sentimento indiferente e um cenho franzido, logo voltou seu olhar para a mãe e depois para o chão. Pelo que tudo indicou, Lô tinha uma dúvida restante, mas sem necessidade de resposta.

Sonic: VentoWhere stories live. Discover now