Efeito Depressão

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Me chamo Debye Parker, tinha 16 anos quando morri, morava em Londres com meu pai Henry e minha madrasta Charlotte. Nós, eu e meu pai, viemos para a Inglaterra para esquecer o passado no qual estava a morte de minha mãe, ela se chamava Amy, faleceu de câncer nos pulmões. Aquele foi o pior dia de toda minha vida, senti um enorme buraco negro crescendo dentro de mim, eu achava que poderia salvá-la, eu cuidava dela, mas quando se trata de câncer, nem mesmo os médicos garantem a sua sobrevivência.

Depois desse dia minha vida virou de cabeça para baixo, como se tudo em que eu acreditasse tivesse deixado de existir e em consequência disso nada mais fizesse sentido. A pior parte é que eu e meu pai continuávamos brigando, ele sempre se preocupou demais com o trabalho, as vezes deixava eu e minha mãe de lado. Sempre que eu conversava com ele, me dizia que precisávamos pagar o tratamento da mamãe, se não ela morreria, mas quer saber? Não adiantou. A verdade é que durante muito tempo eu o culpei pela morte dela, também me sentia culpada, mas no fundo eu sempre soube que isso não tinha nada a ver com nós dois.

Mesmo após 1 ano, não havia superado meu passado. Ainda existia um vazio muito grande dentro de mim, e foi sua imensidão que impediu que se fechasse tão facilmente. E foi ai em novo território que meu pai conheceu e se casou com Charlote. Eu odiava aquela mulher , odiava meu pai, e principalmente, me odiava, por simplesmente odiar aqueles que queriam me ajudar. O fato de meu pai seguir em frente só demonstrava o quão ele era forte, ele desejava que fossemos felizes novamente, ele queria que eu seguisse em frente junto com ele, eu também queria, mas não consegui.

Eu vivia discutindo com a Charlotte e o pior era que não havia razão específica, eu só estava com raiva, meu pai estava colocando aquela mulher no lugar da minha mãe e eu nunca aceitei isso. Eu sabia que não era culpa dela, meu pai também sabia e acho que era por isso que ele sempre a defendia. E todas as vezes em que discutíamos, eu subia para meu quarto, trancava a porta e começava a chorar, eu queria que tudo aquilo acabasse, e então eu sempre me cortava, várias e várias vezes, com um canivete. E por mais que aquilo parecesse loucura, a dor fazia com que eu me sentisse livre.

A mente doente é com uma solitária, sem saída. E era como eu estava, minha mente estava me dominando e eu cada vez mais afundando num colapso doentio. Sabia que precisa de ajuda, que precisava de tratamento, precisava desabafar, mas não queria admitir, e principalmente, não tinha a quem recorrer.

Um dia eu resolvi faltar à escola, eu sabia que não sentiriam a minha falta, pois desde que cheguei nesse lugar, não havia feito nenhum amigo e nem me manifestei uma só vez em sala de aula. Foi nesse dia que conheci Jack, um garoto encantador. Ele me entendia, sabia a dor de se perder alguém, pois havia perdido os pais e o irmão em um acidente de carro. Mas o estranho era que ele sempre estava sorrindo e acho que foi por isso que me apaixonei por ele.  Ele sempre dizia que a única maneira de superar a tristeza era fingindo que ela não existia. Depois de várias semanas faltando a escola, comecei a namora com ele, o que foi a melhor coisa que me aconteceu. Quando estávamos juntos me chamava de anjo, me agradecia por ter salvado a sua vida, dizia que suas forças estavam por um fio, que seu motivo para sorrir estava acabando, mas quando eu apareci tudo mudou.  Mas acho que foi ao contrário, foi ele quem me salvou, eu estava no meio da escuridão, mais ele fora minha luz o meu motivo para sorrir e voltara a viver.

Estava tudo bem demais para ser verdade, até Charlotte desconfiar que eu estava fazendo algo de errado e me seguir. Descobriu que eu não estava indo à escola, que eu estava me encontrando com um garoto. Quando cheguei em casa, meu pai me aguardava na sala de um jeito que nunca havia visto. O fato de não terem descoberto isso antes, foi porque eu falsifiquei vários atestado médico, mas minha madrasta ligou para o colégio e descobriu que eu vinha faltando a escola um pouco mais de 2 meses. E então meu pai me deu vário sermões, me disse que o garoto com quem eu me encontrava estava me fazendo mal e me proibiu de vê-lo. Mas o que ele não sabia era que Jack só me fazia bem e quem estava me fazendo mal eram eles.

Ficar alguns dias sem ver Jack estava me deixando louca, e preocupada, eu era tudo que ele tinha, e ele era tudo que eu tinha. Não queria que ele pensasse que eu o abandonei, então resolvi fugir de casa, precisava vê-lo, saber como estava. Então esperei todos dormirem, e saí em direção ao apartamento de Jack. Era um apartamento simples, mas aconchegante que fora herança de seus pais. Estava um noite fria e eu estava com um mau pré sentimento, parece que foi certeiro. Assim que cheguei no apartamento, meu mundo escureceu e me vi caindo novamente dentro de um buraco negro. Meu amor, caído no chão, morto. Pelos cortes em seus pulsos só confirmou que havia sido suicídio, então foi ai que uma onda de culpa se instalou em mim novamente. Caí de joelhos ao seu lado e me debulhei em lágrimas.

E tudo que eu precisava era de apoio e um ombro amigo e me deram mais que isso, me deram um namorado, um melhor amigo, alguém que simplesmente me entendia, mas tudo isso estava acabado e agora mais ninguém me ouvia e isso me deixava pior do que estava. Então comecei a transformar minhas lágrimas, minha raiva, em dor, dor física, novamente. Com a mesma pequena lâmina retirada de um barbeador que acabara de pegar das mãos sangrentas de Jack, eu fiz marcas em meu corpo, e vinha aquela vontade de gritar e chorar ainda mais, mas eu engolia tudo, me deixava sufocar, enquanto observava as gotas de sangue pularem para fora de cada corte feito em mim. Eu estava atormentada demais para julgar aquilo com o lado ruim da depressão, eu apenas queria me livrar daquele sentimento horrível que vinha me consumindo por dentro, e agora por fora, desde a morte de minha mãe e do total egoísmo de meu pai.

Foi aí que senti minha morte chegando, eu não queria acabar com minha vida assim, mas foram as circunstâncias que me levaram a ter essa decisão. E vendo o corpo do meu amor diante de mim, me fez retomar aquela dor de sentir que parti de mim estava sendo arrancada sem piedade e aquilo me destruiu. Mas de alguma forma eu estava bem, de bem comigo mesma, foi Jack que me salvou, isso poderia ter sido mais adiado, mas perdi o amor que escolhi para mim, o meu anjo, aquele que me proporcionou a felicidade do esquecimento, a felicidade de se ter alguém para dividir as dores e o amor.

“Eu te amo Jack” sussurrei em seu ouvido, mesmo sabendo que não ouviria. E depois gritei bem alto “ papai me perdoa por não ter sido a filha perfeita, por não ter demonstrado todo o amor que sinto por você, por não ter sido mais forte, me perdoa também mamãe” é, eles também não ouviriam. E enquanto passava a lâmina nos pulsos, senti a dor de já está morrendo e então veio aquelas imagens em minha memória “eu com apenas 7 anos, meu pai e minha mãe em meu pequeno quarto, me dizendo que seu amor por mim era maior que o universo”. Era isso que me diziam todas as noites antes de dormirem. E então tudo acabou, meu sofrimento, minha angústia, minha dor, e tudo que deixei para trás foram apenas as lembranças de um vida parcialmente feliz.

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