Girassóis

Capítulo Único

Do outro lado da rua havia uma livraria. De fachada simples e minimalista, em tons pastéis de marrom.

Naquela livraria, trabalhava um ômega de cabelos castanhos, que sempre trajava roupas folgadas, moletons tão longos que cobriam suas mãos grandes. Quem passasse, poderia ver através da vidraça que o ômega passava mais tempo lendo do que organizando os livros e fazendo de fato seu trabalho, ele era tão atrapalhado e estabanado, que me fazia perguntar se ele realmente tinha noção do tamanho de seu corpo.

Ele sempre parecia alegre, e cumprimentava todo mundo que passava à sua frente, ao contrário de mim, que era tão amargo quanto o café que era servido no meu estabelecimento.

As paredes brancas, cinzas e pretas davam um ar de seriedade, e todos os funcionários daqui pareciam já não ter amor à vida. Éramos como robôs, programados para fazer aquele trabalho, torcendo para que o final do mês chegasse logo, com o nosso querido salário.

Em dias de chuva, do balcão da cafeteria, eu podia ver aquele ômega lutar contra o vento forte, segurando em uma mão sua mochila, e na outra um guarda-chuva. Ele sempre acabava se molhando antes de realmente conseguir entrar na livraria, através da porta sempre podia vê-lo estremecer de frio. Ele deve prever que iria se molhar, eventualmente, então sempre trazia moletons reserva, pelo que pude notar.

—Encarando aquele ômega de novo, Yoongi Hyung?—Ouvi Jungkook, o estagiário, me chamar.

Eu realmente não prestava muita atenção no meu próprio trabalho, tendo em vista que eu só estava ali cuidando do salão e repassando os pedidos para a cozinha. Não era muita coisa, mas muito entediante.

—Ele vai começar a achar que você é um stalker.

—Não sei por que, ele nunca percebeu mesmo.—Respiro fundo, me arrependendo quase imediatamente quando o cheiro de mel do mais novo invadiu minhas narinas.

Não me levem a mal, Jungkook tem um cheiro bom, mas às vezes se torna enjoativo.

—Você acha que não.—Zombou, e eu sempre muito paciente.

Era por isso que, de todos aqui, Jungkook só tinha intimidade comigo. Era claro que, jovem como ele, iria ser um pouco imaturo, o garoto só tinha dezessete anos e estava buscando um pouco de responsabilidade, algo como se preparando para a vida adulta.

—Omegas sempre notam!—Afirmou, se debruçando contra o balcão.

—Vai se machucar.—Avisei, dito e feito.

Jungkook rapidamente escorregou para frente, batendo com tudo seu queixo no balcão de mármore. Não sei o que aconteceu, talvez ele tenha mordido o lábio, mas logo um filete de sangue escorreu por sua boca.

—Aish, eu disse! Vai lá atrás se limpar, e passar uma pomada, eu cuido daqui.

Choramingando, ele foi.

Nos primeiros dois minutos, tudo permaneceu exatamente igual, até que o sininho da porta tocou. Ali, parado e olhando atentamente para um gato que passava por entre suas pernas, o ômega da biblioteca estava.

Quando o gato finalmente entrou, ele veio atrás, fechando a porta. Pareceu desanimar ao ver o quão monocromático era o ambiente, mas ainda assim veio andando a passos firmes até o balcão.

—Seja bem-vindo, o que deseja?—Perguntei, tão entediado por ser sempre a mesma coisa todos os dias.

—Hm... É minha primeira vez aqui nessa cafeteria, vocês fazem capuccino com caramelo?—Perguntou, sorrindo.

Não sei o que aconteceu, mas o mundo à minha volta pareceu parar. Ele tinha covinhas, e seus olhos fechavam levemente quando sorriu.

Além disso, ele tinha uma aura, uma aura fofa e inocente, que transmitia paz e calmaria. E seu cheiro, um dos poucos que não me enjoavam.