Dois pulos pra frente e um pra trás - 85

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          Eles retornam aos seus veículos e dirigem por pouco mais de uma hora, o som dos pneus e as trepidações informam que acabou a pavimentação da estrada, e alguns minutos dali os buracos começam a ficar ainda mais violentos e irregulares, até que todos param diante de um grande descampado em forma de círculo e uma enorme árvore bloqueia o caminho.

          Todos descem dos veículos e vão olhar a possibilidade de transpor o obstáculo. Mondanês olha o tronco e parece preocupado.

          — Isso é um mau presságio, alguma coisa na floresta quer que não passemos desse ponto. — Diz ele.

          — Eu acho que com algumas ferramentas nós conseguimos remover o tronco. — Bulldog se aproxima e faz uma sugestão.

          — Ou melhor, eu pego a Gertrudes e picoto esse tronco, transformo em serragem em questão de segundos, ra ra ra. — Vovó Jack dá sua opinião e todos riem dela.

          — Guarde suas balas velhota, suas vidas podem depender delas. — Mister Kypper surge passando por entre as pessoas. — Essa árvore não estava aqui ontem, aqui nada acontece por acaso. E também não adiantaria muito retirar ela, a estrada só piora a partir desse ponto, então os veículos só nos atrasariam, a estação não está longe daqui, pouco mais de uma hora de caminhada e já estaremos no destino. Vamos deixar os veículos aqui e seguir a pé.

          — Vocês ouviram o pequenino. Vamos pegar o máximo de coisas que conseguirmos levar e vamos a pé. Tranquem os veículos e os posicionem encostados lado a lado, coloquem as motos dentro dos grandes.

          — Há há há há, o que acha que está fazendo, Tenente? — Pergunta Mister Kypper.

          — Estamos dando prosseguimento à missão. Por que? Tem alguma ideia melhor? — Tenente pergunta em tom irônico.

          — Claro que tenho, colocar os veículos em círculo, fazer uma fogueira no meio, colocar alguns homens de guarda e preparar para dormir. Eu não sei vocês, mas eu não me arrisco a vagar pela floresta a essas horas e enfrentar as criaturas da noite.

          — Noite? Ainda está cedo.

          — Que horas o senhor acha que são agora, Tenente?

          O Tenente olha no relógio no braço.

          — Nem são 4 da tarde ainda.

          — Olhe seu relógio novamente, dessa vez observe ele com um pouco mais de atenção e por mais tempo.

          O Tenente bufa, mas obedece desapontado, curiosos, todas as pessoas da equipe que também possuem relógio param para observá-los, assim que percebe o que a pequena criatura quis mostrar a ele, fica espantado.

             — É isso mesmo que está vendo Tenente... essa é a zona escura, e não tem esse nome atoa, os equipamentos digitais morrem aqui... isso e os relógios mecânicos: o ponteiro dos segundos dá dois pulos pra frente e um pra trás, fazendo com que a cada duas horas que você acha que passaram, na verdade se passaram três, se aí marca quase quatro da tarde, provavelmente já passaram das oito da noite, considerando o tempo que vocês já estão dentro da Zona Escura. Todo equipamento que se oriente ou seja calibrado por algum tipo de atração magnética simplesmente morre. E aquele homenzinho de lata ali só funciona bem porque é revestido de Tectônico, sua eletrônica está protegida. — Ele fala e aponta para Norffi.

          — Mas aqui é tudo escuro, não importa se noite ou dia, não se vê o Sol, não se sabe as horas. Então que diferença faria se formos agora ou daqui a oito horas?

          — Pra vocês, se considerar só o terreno: diferença nenhuma. A questão é que não estamos sós aqui. E as criaturas da floresta não tem relógio, elas se orientam por seus instintos, saem pra caçar e se alimentar. O "povo" do meu planeta é um pouco como o seu, as criaturas do dia, andam de dia, e as da noite, andam a noite.

          O Tenente olha para Mondanês com olhar questionativo, esperando que se pronuncie.

          — Ele tem razão, dentro da Zona Escura o tempo passa diferente, meus instintos também me dizem que já é mais de oito horas, e se ele que se criou com esses bichos não se arrisca a vagar essas horas, eu estou com ele e prefiro acampar.

          — Eu confiaria nesse baixinho verde Tenente, essa é a casa dele nesse planeta. Então eu não questionaria o que ele me mandar fazer. — Jow afirma ainda mais o que disse Mister Kypper.

          — Ok, então vamos repousar. Como sabemos que horas são? — Questiona o Tenente.

          — Meu instinto me avisa, e eu chamo vocês. — Kypper responde. — Enfim... podemos descansar e fazer meu programa favorito.

          Jow dá risadas.

          — Você vai contar histórias.

          — É, até que não seria má ideia, tem muitas coisas que eu quero saber e esse será um ótimo momento. Só espero que você não limite muito a verdade sobre o que diz assim como seu ex colega de trabalho. — Tenente fala em tom desafiador se referindo a Jow. — Mais alguma sugestão do que você acha que devíamos fazer? — E completa perguntando ironicamente, demonstrando claramente que não gosta que contrariem suas ordens.

          — Não querendo te desapontar Tenente, mas eu tenho sim, eu diria pra mandar que seus armeiros revisassem suas armas, amanhã quando sairmos, elas devem estar extremamente afiadas, não podem falhar em nenhuma hipótese. É bom também que cada um tenha consigo alguma lâmina, não é bom ficar dependente só de arma de fogo.

          — Meu armeiro é a Cabo Romanovs. Você tem mais algum, Senhor Peregrino?

          — Tenho sim, Pierre e Katie... e tenho mais um trunfo.

          — Então chame-os.

           Jow sai de perto deles e volta logo em seguida seguido por quatro pessoas.

          — Senhores, eu os chamei aqui, pois segundo o habitante dessa floresta, Mister Kypper e o Senhor Jow Peregrino teremos uma grande chance de enfrentarmos inimigos alienígenas desconhecidos amanhã, e por isso precisamos garantir o bom funcionamento das nossas armas, pois serão essenciais para o caso de algum possível confronto. Como vocês são os armeiros da equipe, peço que revisem todas nossas armas de mão, não podemos correr o risco de falhas. Não sabemos o que vamos enfrentar. Trabalhem juntos, cientes que nossas vidas dependem disso. Estão de acordo?

          — Sim senhor. — Confirmou a Cabo Romanovs.

          — Aproveite e diga a Bulsara, Joseph e Thomas que peguem o primeiro turno da vigia.

          — Direi a eles, senhor. Licença para me retirar.

          — Concedida. — Ele volta aos outros dois. — E na parte de vocês?

          — Tá, pode ser, por mim tudo bem. — Katie responde com cara de desdém, o que não ofende o Tenente, pois ela parece estar sempre com cara de quem não está nem aí pra nada.

          — Oui, vamos cuidar dos brinquedos. — Pierre responde com o forte sotaque francês.

          — E você moça? Quem é você?

          — Me chamo Quian Tung.

          — Ela é mestre espadachim Tenente, eu a trouxe pela sua destreza com lâminas. — Jow a apresenta ao Tenente e se volta para ela. — Quian, sabe me dizer se trouxemos facas suficientes para todos?

          — Sim Senhor Jow, temos lâminas suficientes.

          — Por favor, equipe cada um de acordo com o que você achar que é mais adequado.

          Pouco tempo depois os homens já colocaram os veículos em formação de acampamento, acenderam uma fogueira e fizeram a comida, estavam todos comendo preocupados até que o Tenente faz uma pergunta para Mister Kypper e todos demonstram interesse em ouvir sua resposta.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora