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Karol

Sem saber o que fazer, sento na cama e caio para trás. Se
vingar da pessoa que a gente ama não é fácil. E isso é doloroso para
eu assumir: ainda o amo, sou apaixonada por ele, por que o safado
soube fazer direitinho todas as coisas.
Pouco depois de eu já ter tomado o farto café que Ruggero  preparou
e ter feito a mamadeira de Bernardo, meu celular toca. Mais uma vez,
minha irmã liga para me importunar.
— kah , estou te ligando para falar que encontrei um emprego
muito bacana para você aí no Rio —  carolina  fala animada.
— carolina , eu não estou procurando emprego. — Me sento no
sofá e olho para o bebê cercado de brinquedos dentro de um
cercadinho. Esse é o momento de eu ter mais tempo com Bernardo.
Apesar de odiar isso, ser dependente, Ruggero  é rico o suficiente para
nos sustentar. Depois quando o bebê tiver maior, eu procuro um rumo
na minha vida.
— Mas esse é de meio período, e eu já conversei com meu
amigo. Você vai trabalhar na mesma empresa que eu, na filial do Rio
de Janeiro. Será secretária de Sérgio.
— carolina , que loucura é essa? Por que está me oferecendo
emprego?
— Porque eu sei que você não gosta de depender de ninguém.
— Ruggero  me deu um cartão. — Confesso sem ar de orgulho,
apenas uma constatação.
— E vai mesmo aceitar ser sustentada por um homem? — ela
retruca rápido.
— Quando o tal homem é meu marido, acho que é o que devo
esperar. — Ouço ela suspirar, engolindo raiva, talvez.
Sei que é difícil para carolina  se dar conta de que eu me casei  com o ex dela, mas nem uma de nós temos culpa disso.
— Faça assim: fique quinze dias ou um mês. Ele está
precisando urgentemente de uma secretária. Por favor, se Ruggero  for
contra, não o obedeça. Seja firme, karol. Em casa, a mulher e o
homem têm que ter voz ativa.
— Bom… tem Beni. Eu não posso…
— É meio período, karol . Faça isso como um favor para mim
— Carolina  implora com uma voz amarga.
Respiro fundo e fico pensando. Seria uma forma de conhecer
mais pessoas, de conhecer a cidade, de não ficar só em casa
remoendo meu fatídico destino.
— Tudo bem, carolina . Me dê o endereço que eu vou falar com o
tal Sérgio.
Ela passa o endereço e depois pergunta:
— Como está se saindo com Ruggero ?
Conto pra ela o que aconteceu, e carolina  jura que não teve nada
a ver com Carla dar em cima de Ruggero . Ela diz que foi apenas um
plano inicial, mas que Carla não está mais sob o comando dela.
Conto sobre eu ter cortado o barato de  Ruggero , e ela comemora.
— Agiu certo, karol . Não se sinta culpada. Você deve fazer ele
implorar, entendeu? Seja firme e decidida. E comece a atiçá-lo!
— Atiçar Ruggero ? Como?
Carolona  pensa um pouco, depois fala:
— Sabe o que ele odeia? Não ser informado das coisas.
Experimente chegar tarde em casa, muito tarde. Sei lá, fique no meu
apartamento e chegue em casa umas duas ou três da manhã. Ele vai
enlouquecer. — Da uma risada maldosa.
— carolina , me deixe fazer as coisas do meu jeito.
— Tudo bem, experimente só. Veja como ele vai ficar pirado de
ódio. Também experimente mexer com o ego dele. Sei lá, diga que
conheceu um cara ou insulte o pênis dele. Ruggero  vai surtar.
— Por que fazer isso?
— Para que ele fique desesperado e tente te reconquistar de
todas as maneiras possíveis. Não será maravilhoso vê-lo rastejando
aos seus pés?
— Sim… — digo, meio em dúvida.
— E aí estará a prova que você precisa. Se ele te amar, vai
suportar e perdoar tudo.
— Vou pensar sobre isso.
— Humilhar e provocar. Esses são os pontos principais, karol.
— Não sei, Carolina …
Começo a pensar em como ele está sendo gentil; sem falar que
nunca foi do meu feitio humilhar uma pessoa. Que baixaria!
— Vai por mim, mana. O que Ruggero  fez com você é muito feio,
mas convenhamos que ele gosta mesmo de você. Isso será para
salvar seu casamento, para baixar um pouco a bola dele, e você ter
de volta o homem humilde e sincero que era o Heitor. Pense sobre
isso. A decisão é sua.
— Tá. Obrigada pelas dicas.
— De nada. Quero te ver feliz, karol  Só tenho que te agradecer
por tudo o que fez por mim e por Beni. Bernardo ficaria orgulhoso da
mulher que você se tornou.
— Obrigada, carolina . Eu precisava mesmo ouvir umas palavras
de ânimo.
— Estou aqui para isso, mana.
Desligo e fico pensando sobre tudo o que Carolina  disse. Ela sabe
o que está falando, afinal namorou Ruggero  e o conhece. Eu acho que ela
pode ter razão. Ruggero  está ainda no conforto, ele não precisou
ultrapassar nenhum obstáculo. Está apenas me pedindo desculpas e
esperando que eu ceda. Valu me contou tudo o que mike fez para
reconquistá-la, mas Ruggero  sequer me deu flores.
Olho para o número de celular que anotei no papel e fico
pensando. Eu posso ir a uma ou duas semanas nesse tal emprego,
só para ter um pouco de liberdade e ver como meu marido reage.
Carolina  não está me influenciando, sobre isso ela não tem mais poder.
Vou agir por conta própria, mas mantendo essas dicas dela como
plano B. Chegou a hora de colocar Ruggero  no lugar dele.
Decidida, pego o celular e ligo. Um homem atende e, quando eu
me apresento como karol , ele grita eufórico:
— karol ! Que bom que ligou. Eu estava desesperado à
procura de uma secretária. Carolina  já me comunicou.
— Sérgio, não é? Eu ainda estou com dúvidas…
— Sim, eu sou o Sérgio. Que tal um jantar hoje para eu
responder todas as suas perguntas?
— Jantar? Hoje não dá, tenho compromisso. — Me lembro do
jantar logo mais à noite na casa de Antonela .
— Amanhã, então — ele propõe.
— Amanhã está ótimo — respondo, convicta.
— Passo para te pegar?
Penso em Ruggero  vendo eu sair com um cara. Pode ser bom.
— Sim. Passe para me pegar. — Dou a ele meu endereço,
agradeço e desligo.
Meu coração está a mil, como se eu estivesse fazendo algo
errado. Por um instante minha mente joga na minha cara, o que eu
sentiria em ver meu marido saindo com uma mulher, a noite. mas
deixo isso de lado. Não é a mesma coisa. Ele precisa confiar em mim.
Sentada no sofá, eu esquematizo meu próprio plano baseado
nas ideias de Carolina .Decidi: vou transar com Ruggero . Sim, veja se eu
não estou certa: eu quero ele rastejando aos meus pés, mas ele não
fará isso se eu não der uma amostra do que terá comigo. Se ele ficar
sem sexo, vai acabar procurando fora de casa, ficando mais distante
de mim. Ruggero  precisa me querer desesperadamente, para ele sentir
na pele o que é amar e depois ser enganado.
Passo o dia todo na expectativa. Ele liga dizendo que não pode
vir almoçar, por isso a tarde fica longa. Penso em como, onde e a que
horas será meu ataque. Como Beni está presente, eu preciso
encurralar meu marido à noite. É assim que pais com filhos agem.
Então, hoje, depois do jantar na casa da mãe dele, vou atacar. Tem
que ser algo para Ruggero  não esquecer.
***
Quando ele chega, às seis horas, está com uma cara diferente.
Me olha com um brilho intenso nos olhos e vem até mim. Estou
sentada no sofá, acabei de fazer as unhas e arrumar os cabelos.
Ainda falta escolher um dos vestidos novos que compramos no
shopping. Ruggero  se abaixa e dá um beijo rápido nos meus lábios. Fico
com gostinho de quero mais e passo a língua nos lábios que ele
acabou de beijar. Depois, ele me entrega duas sacolas de papel de
alguma butique.
— Estava passando e vi em uma vitrine. É a sua cara.
Olho na sacola grande e retiro de dentro dela um vestido azul-
marinho. É curto, com a saia rodada, marcado na cintura e com busto
de renda. É do estilo romântico, um luxo.

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora