2. Única

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O CÉU JÁ ESTAVA ESCURO, OU SEJA,  A NOITE PREVALECIA. Os clareanos estavam reunidos ao redor de uma grande fogueira conversando, rindo e se divertindo enquanto Kiara os observava de longe, sentada no tronco de uma árvore perto do domicílio. 

Se sentia deslocada ali, era a única garota, única mulher, a única diferente e para ela era muito estranho. Os garotos também estranharam, mas depois de uma conversa com Alby tudo se resolveu e eles até ficaram animados com a ideia de mais garotas na Clareira. 

Era uma sensação estranha, sua vida ter iniciado algumas horas atrás, já que de nada lembrava antes de acordar na Caixa. Ter que começar do zero rodeada de garotos que nunca viu na vida, sem saber de seus gostos, sua personalidade ou qualquer coisa de si, além de seu nome, não muito favorável, mas sua única escolha. 

— Por que não aproveita a noite? Só comemoramos assim quando um novo fedelho chega. — disse Newt, se aproximando de Kiara. Ela o encarou com semblante cansado, mesmo sem estar com sono. 

— Pra falar a verdade, não sei. — admitiu, não queria ficar sozinha mas não se sentia extremamente confortável com os garotos ainda. — Talvez eu vá daqui a pouco, ainda não absorvi tudo que aconteceu direito. 

— Tente relaxar, está segura aqui e vai ficar durante um bom tempo. — suspirou com o comentário do loiro. 

— Há quanto tempo estão aqui? 

— Quase 1 ano. 

Nove meses desde o primeiro clareano. Nove meses desde a primeira subida da Caixa. Nove meses de dúvidas e confusão. 

Se perguntou por quanto tempo ficaria ali, 1 ano? Talvez 2 ou 3? Ou o resto da vida? 

Não tinha como saber e isso a assustou. 

— Ei, bebe isso aqui — entregou-a um copo com líquido escuro de cheiro forte, muito desagradável. Encarou Newt com cara feia. — Não é tão ruim quanto parece. 

Ainda desconfiada, virou o copo em um longo gole. Seja lá o que antes estivesse no copo, desceu queimando sua garganta a fazendo se engasgar com a própria saliva e tossir. 

— O que é que isso? Meu Deus! — fez careta ainda com o gosto na boca. 

— Segredo industrial, ninguém sabe o que Gally coloca aqui. 

— E é melhor nem saber mesmo, que nojo — se arrepiou. — Bom, vou ver o que estão fazendo, quem sabe eu aproveite alguma coisa desse dia. — sorriu fraco levantando e indo até a roda de garotos na fogueira. 

Eles formavam um circulo ao lado da fogueira, pode ver dois garotos dentro da roda, um loiro de sobrancelhas estranhas e um negro gordinho. "Gally e Caçarola" pensou. Alby lhe explicou um pouco mais sobre os cargos da Clareira e quem era quem, mesmo sem os apresentar formalmente. 

Gally tentava derrubar Caçarola e o tirar da roda, mas ele parecia não querer desistir apesar da dor. Alguns minutos depois, Caçarola abandonou a roda por conta própria, já estava cansado daquela competição. 

— Quem é o próximo? — perguntou Gally. Todos da roda gritavam coisas que não dava para entender e batiam palma para aumentar o barulho. 

— Eu vou! — disse Kiara passando por entre os garotos e entrando na roda. 

Os garotos riram. A novata querendo lutar contra o "garoto da roda" bem na chegada, isso seria bobagem, só podia estar brincando. 

Mas por algum motivo desconhecido, Kiara sentia que devia fazer aquilo, sentiu que poderia e que conseguiria. Não soube explicar o porque nem para si mesma, apenas sentiu que daria um jeito e foi, sem medo. 

DESCARTÁVEL | The Maze RunnerOnde histórias criam vida. Descubra agora