4 - 𝓒𝔂𝓻𝓲𝓵𝓵𝓮

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Durante toda a minha vida eu passei por diversas situações que me destruíram. É incontável o número de vezes que eu me decepcionei ou que fui abandonada. Eu vivo com essa sensação de abandono, primeiro foi os meus pais, depois aconteceu com diversas outras pessoas que eu me relacionei e agora com o meu irmão, em algum momento todos sempre resolvem me deixar.

O Kieran é a única família que eu tenho, eu acreditava que poderia contar com ele para qualquer coisa, mas eu estava enganada. Eu não sei o que pensar, nem ao menos sei o que realmente estou sentindo. De todas as pessoas do mundo ele era a última pessoa que eu esperava me abandonar, eu estou me sentindo tão traída.

Não sei quanto tempo faz desde que eu fechei a porta e vim me sentar na escada. Eu me sinto perdida, ainda não consegui parar de chorar e não tenho um lugar para ir, já até tentei ligar para a Thalita e pedir ajuda, mas ela não me atende.

Eu preciso fazer alguma coisa, preciso sair daqui.

Depois de algum tempo tentando me recompor, finalmente me levantei e caminhei para fora do prédio. O dinheiro que aquele imbecil guardou para mim, o meu dinheiro, uma hora vai acabar, mas hoje ele vai servir para pagar um quarto de hotel. Preciso de uma cama e um banho para me ajudar a pensar.

...

A água quente que caia no meu corpo levava consigo ralo abaixo toda a minha dor. As lágrimas pesadas que escorriam pelo meu rosto é um lembrete de que eu só preciso de mim e que não devo confiar em ninguém nunca mais.

Durante o banho foi inevitável pensar na minha conversa com o Kieran.

Por oito meses ele planejou ter essa conversa comigo. Por oito meses ele teve a frieza de agir normalmente enquanto desejava que eu estivesse fora da casa dele. Eu passei oito meses cega, achando que estava tudo bem.

Nós dois sempre pensamos de maneira diferente, nós somos pessoas diferentes. Sempre discutimos por coisas banais, mas sempre apoiamos um ao outro, desde crianças.

Eu gostaria de saber o que mudou nesses últimos meses e qual atitude minha fez ele ter certeza de que não me queria mais por perto. Nessa vida eu já colhi muitas coisas, algumas eu nem cheguei a plantar, mas talvez essa seja uma consequência das minhas escolhas. Eu não sei.

Em questão de minutos tudo o que eu acreditava ser permanente não é mais, eu perdi totalmente o controle da minha vida e não tenho para onde correr. Vou ter que me virar para achar um lugar para morar, não tenho moveis e nem eletrodomésticos, só recebo no mês que vem. O salário que eu ganho trabalhando meio período não vai dar para pagar um aluguel sozinha, talvez eu tenha que largar a escola para conseguir trabalhar em período integral.

Eu não tenho ideia do que vai ser de mim amanhã. Não era isso o que eu esperava ganhar quando fizesse dezoito anos.

Desliguei o registro e caminhei para fora do chuveiro. Parei em frente ao espelho para enxugar os meus longos fios de cabelo castanhos.

O fundo do poço é assim?

Perguntei a mim mesma analisando a minha situação. Os meus olhos castanhos já estão vermelhos e inchados de tanto chorar e o meu nariz além de vermelho está entupido.

Eu estou arrasada, emocionalmente e agora fisicamente.

O quarto que eu encontrei para ficar hoje não é grande coisa, inclusive ele parece ter sido a cena de um crime. Eu não sei o que são as manchas marrons no tapete e estou tentando não pensar muito nisso, ele é barato e no fim ele tem tudo o que eu preciso.

Chequei se a porta estava trancada três vezes antes de ir me deitar. Nunca dormi com tanto medo.

...

HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora