9 - Dor

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~~Alguns dias depois~~

O enterro dos meus pais aconteceu a alguns dias atrás, no enterro haviam cerca de dez pessoas, todos amigos dos meus pais, acho que nunca mencionei antes mas, minha mãe e meu pai se casaram contra a vontade das famílias, eles disseram que a família do meu pai não gostava da minha mãe e vise versa, mas acho que sei qual foi o real motivo de não aprovarem, eu.

Bem, por conta disso, não somos muito próximos dos parentes então...nenhum deles foi ao enterro, só alguns amigos de trabalho dos meus pais e um ou outro vizinho de apartamento, todos me disseram palavras de conforto e olhares de pena antes de irem para suas casas e suas famílias.....bem, eu não tenho mais uma família.

Depois do enterro, um agente social me levou até um orfanato, era um lugar relativamente grande, um casarão azul com as janelas e portas brancas e um jardim enorme com brinquedos para crianças, na entrada estava escrito o nome do orfanato: " Orfanato Doce Manhã ", aparentava ser um lugar acolhedor. O agente social me informou que eu ficaria ali até acharem algum parente que possa e queira cuidar de mim.

Isso aconteceu alguns dias atrás, agora já estou aqui a algum tempo, conheci algumas pessoas da minha idade aqui, mas não me aproximei muito, ainda estou me recuperando psicologicamente de......bem, tudo, da descoberta de que eu possuo poderes, a morte dos meus pais, a descoberta de que meu pai na verdade é meu padrasto...além dos sonhos com aquela mulher, eles continuam, e em todos ela diz que eu não preciso temer, que eu devo usar a Bayfrost, que logo eu estaria com "eles", isso me assusta um pouco, oque será tudo isso?

Nesse momento uma das mulheres que cuidam do orfanato aparece no quarto para anunciar o toque de recolher, o casarão possui vários quartos divididos em três andares, o primeiro é para as crianças do berçário até oito anos e para as mulheres que cuidam do orfanato, o segundo, que é onde estou, é de crianças de oito até dezesseis anos, e o terceiro é para os adolescentes de dezesseis até os dezoito.

Me deito na cama e me cubro, fecho os olhos, cenas da batalha vem a minha mente, os Alienígenas, Nova York destruída, os feridos, a cena em que eu me despeço do meu pai e corro para salvar a Natasha, sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto, abro os olhos, não vou conseguir dormir. Me sento na cama e fico olhando para a parede, o céu lá fora esta coberto de nuvens cinzas, provavelmente vai chover, me lembro que nós nos reuníamos em frente a televisão nos dias chuvosos e assistíamos filmes de comédia, eram dias maravilhosos, dias esses que nunca voltaram, meu rosto já esta molhado, olho pela janela, pingos de chuva acertam o vidro, ouço um trovão.

Me levanto da cama com os pés descalços e sigo para a porta, abro uma fresta, vejo todas as luzes apagadas e ninguém no corredor, saio e ando com cautela em direção a escada, desço as escadas e me encaminho para a porta dos fundos que dá direto para o jardim, assim que abro o som da chuva e dos trovões fica mais alto, ando em direção ao meio do gramado, minhas lágrimas se misturam com as gotas de chuva que caem em meu rosto, meus soluços são abafados pelo som da chuva, meus gritos de dor nunca chegam aos ouvidos de ninguém pois os trovões os abafam, me ajoelho na grama molhada sujando meu pijama de lama mas não me importo, só queria colocar tudo aquilo para fora.

"Dor, dor e dor, tudo dói"

Eu me sentia em cacos, me deito em meio a grama molhada, lama sujando a mim e meu pijama, gotas de chuva caiam por todo o meu corpo, me encolho e continuo chorando, eu só queria minha mãe, eu só queria o meu pai, eu só queria que nunca tivéssemos nos mudado, queria estar assistindo um filme no sofá da minha casa, junto com meus pais, eu queria voltar no tempo e ter aproveitado mais, mas não posso, eles se foram.

Fico ali, no meio daquela tempestade, chorando e me lamentando, até que durmo.  

A filha do TrovãoOnde histórias criam vida. Descubra agora