8. talvez não sentir não seja uma ideia tão má (emily pov)

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AVISO DE GATILHO

A narração desse capítulo contém cenas de: autoagressão e bullying.


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Nunca pensei que fosse dizer aquilo, mas Sue precisava me deixar em paz.

No começo, eu me deixei levar porque estar perto dela era embriagador, mas algo parecia não se encaixar naquela história toda e isso começava a me incomodar.

"Será que ela leu o poema e se sentiu desconfortável por conta dele?"

Eu não queria que as coisas mudassem caso ela lesse, mas aquilo tudo não era normal. Também esperava que se ela lesse, ela ao menos disse algo a respeito. Mas não queria piorar a situação, então eu achei que a melhor opção era ficar quieta.

Foi o que eu fiz pelos próximos dias e a cada dia que passava mais quieta eu ficava. Em casa, na escola, na casa da árvore, qualquer que fosse o lugar. Tudo que eu pensava, guardava para mim mesma ou escrevia. Só que muitas vezes chegava a ser demais e nem escrever eu conseguia. Eu sentia que algo estava prestes a explodir dentro de mim.

Viver se tornou algo que eu fazia no automático - ir pra escola, comer, dormir, falar... Nada daquilo parecia ter um motivo. Era como se eu estivesse sonâmbula - e por Deus, se aquilo fosse um sonho ou pesadelo (o que parecia mais provável), eu só queria que acabasse logo.

Comecei a passar noites em claro - o que não era ao todo incomum, mas quando o fazia, geralmente era para escrever. Era o que eu tentava fazer naquele momento.

São seis horas da manhã e eu deveria estar me arrumando para ir para a aula, mas estava na mesma posição que tinha ficado a noite inteira: sentada em frente a minha escrivaninha com um pedaço de papel branco sobre ela. Não sei onde estava o lápis, pois o havia jogado contra a parede horas atrás.

Eu estava enfurecida e queria berrar, queria colocar tudo para fora. Quando me dei conta, já estava batendo na mesa com o gesso. A princípio, eu não senti dor alguma e por isso continuei - eu sentia toda a frustação saindo de dentro de mim a cada batida, eu tinha reprimido tanta coisa por tanto tempo que sentir aquilo - aquela dor, naquele momento era um alivio, e continuaria fazendo aquilo se não fosse por Vinnie, que entrou no meu quarto correndo, me encontrando em lágrimas.

Eu não queria que ela me visse daquele jeito e muito menos pensasse que eu estava tentando me machucar - a vergonha me engoliu como um tsunami, "o que eu estava fazendo e porque?" não conseguia entender como tinha chegado naquele ponto, eu olhei pra Vinnie e podia ver que por trás de toda preocupação, estava o desconforto, ela também não entendia. Tentei me explicar:

- Eu bati meu braço sem querer e tá doendo demais. Você pode chamar a mamãe?

- Em, eu escutei vários barulhos...

- Eu estava tentando pegar meus livros e eles caíram no chão.

- Ok... - Ela não estava convencida e eu sabia disso, mas agradeci mentalmente quando ela saiu correndo do meu quarto, sem mais nenhum questionamento.

Minha mãe logo apareceu. Assim como minha irmã, ela estava muito preocupada. Era quase como repetir tudo novamente, elas se comportaram da mesma maneira - não falaram nada a respeito, mas seus olhares entregavam tudo e eu podia ver nos olhos da minha mãe, decepção - a pior parte foi me dar conta de que não era em relação a mim e sim a ela mesma.

O primeiro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora