Capítulo 2: Novo amigo

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Ainda em choque com as palavras de Ohm, Fluke se sentia numa experiência extracorpórea. Parecia que ele estava assistindo à cena olhando de fora de seu corpo, numa posição mais acima de onde eles estavam conversando. Ele tinha perfeita noção do barulho da música e conversas altas que enchiam o bar, mas também estava plenamente consciente daquele perfeito estranho olhar dentro dos seus olhos e encomendar um homicídio como se estivesse falando de uma dose de uísque ou de um martíni.

"Do que você tá falando?", Fluke desviou o olhar para o freezer, tentando recuperar a calma.

"Exatamente o que você ouviu. Eu tenho grana e um trabalho, mas preciso da sua ajuda.", Ohm continuou atraindo a atenção das pessoas em volta deles, Fluke observou com o canto do olho.

"Cerveja. Por conta da casa. Tome e suma!", Fluke disse colocando uma garrafa na frente do rapaz e saindo para o lado oposto do balcão para evitar dar a ele alguma oportunidade de retomar o tópico anterior.

Para seu infortúnio, o garoto não parecia entender que o assunto já havia sido encerrado e passou o tempo todo atrás dele. Mesmo que tivesse parado de falar sobre matar pessoas, o seu olhar pedinte continuava presente. Por causa disso, alguns clientes começavam a evitar o balcão, incomodados com a presença do rapaz.

"Droga, vem aqui! James, me cobre por 5 minutos!", Fluke gritou para o colega que estava do outro lado do balcão enquanto arrastava Ohm pelos cadarços do moletom que ele usava.

Quando chegaram no beco na parte de trás do bar, Ohm sentiu o odor ocre do ambiente e quase colocou para fora o pouco conteúdo que tinha no estômago. Não tinha comido nada durante o dia e ter tomado a cerveja oferecida por Fluke não tinha feito bem algum ao seu sistema.

"O que você quer, garoto?", Fluke perguntou encarando seriamente Ohm.

"Eu já disse: tenho dinheiro e quero que você mate alguém. Na verdade… são dois alguéns.", o rapaz respondeu igualmente focado.

Fluke sentia a cabeça latejando com aquela informação. Como ele havia sido encontrado depois de ter trocado sua identidade e mudado de cidade? Ele sequer estava fazendo o que costumava fazer por ali justamente porque queria recomeçar fazendo algo honesto. Estava cansado daquela vida e queria apenas abandonar as memórias sangrentas que havia colecionado.

"Eu não sei quem te deu essa informação, garoto, mas a pessoa te passou a perna, ok? Eu não faço isso que você quer. Não venha mais aqui. Não me procure nunca mais!", Fluke disse antes de entrar de volta no estabelecimento deixando Ohm na companhia dos ratos do beco.

******

Depois daquele estranho encontro, Fluke achou que havia se livrado do garoto até que dois dias mais tarde ele apareceu de novo no bar. Tinha um dos olhos levemente coloridos, indicando que havia se envolvido em algum tipo de briga há não muito tempo atrás. Provavelmente, depois que se separaram naquela noite.

"Uma cerveja.", Ohm pediu se sentando no balcão em frente a Fluke.

"Sua aparência engana, garoto! Julgando pelo rostinho bonito, eu não diria que você se envolveria numa briga tão feia, hein!", Fluke provocou o sujeito colocando a bebida pedida na frente dele.

"Cortesia do seu amigo segurança…", Ohm respondeu sem alterar o humor ou encarar Fluke apesar de ter se sentido diretamente atingido pelo elogio aleatório.

Fluke lançou um olhar rápido para o segurança a quem Ohm se referia e percebeu que o homem estava observando os dois.

"Que isso sirva de lição, garoto! Você é bom demais pra esse mundo, saia enquanto há tempo!", Fluke comentou antes de se afastar para atender um novo cliente.

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