Capítulo 7 - Seremos Storge (parte 2)

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Sejam gentis nos comentários e boa leitura!

😊😊😊😊😊😊😊

Não sei se eu já falei, mas assim, esse negócio de entender sentimentos é complicado. Ter que lidar com os próprios sentimentos já é difícil, imagine entender o que o outro está sentindo. Eu sei, empatia é um exercício diário, contínuo e não é tão fácil quanto parece, mas... sério. As pessoas podiam facilitar. Falar ajuda. Eu sei que confiar seus sentimentos a outra pessoa é difícil. Tem a possibilidade de a pessoa não entender ou fazer pouco caso dos sentimentos que para você são intensamente profundos, mas eu garanto que é melhor que fugir deles.

Marsha e Cecília foram criadas no interior com uma relação complicada com os pais. Confiança é uma coisa que demanda tempo e pela vida toda de Cecília, ela confiava apenas na palavra do irmão, que foi embora para se formar e que voltaria para dar orgulho a família. Quando ela chega se depara com alguém que ela não conhece e a única pessoa que ela confiava na verdade nunca foi quem ela pensava que era. É difícil. Os gregos gostavam de dar nome diferentes pro amor, eu já comentei aqui. Philia que é amor entre irmãos e amigos é uma coisa que a gente tem e Cecília se quiser pode se juntar a ele. Mas um amor que é mais especial ainda é Storge. Storge é o amor entre pais e filhos. Aquele amor que não espera nada em troca. Não é amor entre iguais, é amor entre família, que mesmo que te decepcione é um amor incondicional. Aquele amor que faz qualquer sacrifício. Talvez elas não tenham experimentado esse amor da sua família. Possivelmente não e é por isso que a falta desse amor e a quebra de confiança ocasionaram no que aconteceu. Mas tudo bem, por que esse grupo não desiste fácil. Eu não desisto fácil. Mesmo que eu tenha que ir contra os conceitos gregos de amor, mas eu vou faze-las sentir Storge, sentir que somos família e que que esse amor é incondicional. Ou eu não me chamo Helena Ribeiro.

Depois de Cecília fugir eu e Marsha ficamos paralisadas por um tempo até que recuperamos os sentidos quando Mel entrou no banheiro com uma cara assustada e perguntando:

- O que aconteceu? – Olha para mim – Ela fez alguma coisa?

- Não. Depois eu te explico – Me aproximo de Mel tentado reverter a situação – Faz um favor para mim. Leva Marsha para praça de alimentação, dá uma água para ela e depois chama os meninos e Soraia. Vão para casa e eu vou atrás de Cecília. Fica com o telefone na mão. Quando eu a achar eu aviso. Marsha depois te conta o que aconteceu – Segurei minha amiga pelos ombros e dei um abraço rápido – Vai dar tudo certo

Não espero resposta, só saio correndo e tentando adivinhar por onde ela pode ter passado. Eu vejo algumas pessoas olhando para trás como se tivessem vendo alguém ou alguma coisa que passou e vou naquela direção. Sigo até chegar na entrada do shopping e eu a vejo lá, cansada, com as mãos no joelho, respirando profundamente com um olhar perdido e lágrimas nos olhos. Ela não me vê e eu me aproximo por trás. Quando chego perto agarro por trás pela cintura e ela se debate. Tenta me dar cotovelas, pontapés, mas eu permaneço firme. Quando ela parece cansar eu digo:

- Eu não vou te levar de volta – Tento reverter esse aperto num abraço – Mas não posso te deixar sozinha nesse estado. Além do mais você não conhece Salvador, certamente vai se perder. Mas eu posso te levar onde quiser

- Me leva para praia – Ela quase sussurra

- Tudo bem!

Depois de um tempo ainda nessa posição eu solto e ela segura no meu braço. Compramos uma garrafa de água e pegamos um ônibus para a Barra. Sim, já é noite e sim estamos indo para a praia. Não é exatamente perigoso por que a noite a praia da Barra é bastante movimentada com pessoas no calçadão em barzinhos e restaurantes e na praia pessoas praticam esportes, fazem exercício e tem uns poucos que vão tomar banho a noite. Essas pessoas geralmente são as que não tem tempo para malhar de dia então fazem isso depois do trabalho. Com bastante movimento eu não me preocupo muito em levar ela lá para relaxar um pouco e se eu conseguir, entender o que ela está sentindo. Chegamos e agora eu tenho minhas botas nas mãos enquanto caminhamos na areia fofa e gelada. Olho para cima e vejo o Farol da Barra iluminado com as luzes artificiais da noite e o som de crianças brincando no calçadão. Ficamos em silencio por um bom tempo até que resolvemos sentar na areia.

Em busca de ÁgapeOnde histórias criam vida. Descubra agora