Capítulo 5(Retirada dia 08/12)

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Cheguei praticamente esbaforida na entrada da casa, enquanto o advogado permanecia pleno. Em contraposição, parecia que eu tinha subido um morro de cem metros de altura. Era fato que o meu sedentarismo estava cobrando um alto preço.

Arrastando-me entre o fim da rampa e a porta aberta da casa - se é que poderia chamar aquela enormidade de mera porta - entrei no que me lembrava uma mansão de filme americano. Era uma área imensa com o chão recoberto por tapete, onde se erguia logo à minha frente uma escada que, em determinado ponto, dividia-se em duas posições opostas. Ela era linda, de madeira escura e lustrosa, mas fazia com que eu me sentisse cansada só de olhar para cima.

- Tomara que eu fique no térreo.

- Desculpe tirar a sua esperança assim, matuta, mas todos os quartos ficam a partir do primeiro andar.

Não tive nem reação para xingar o idiota novamente. Estava tão triste com aquela novidade que a única ação foi soltar um suspiro compungido. Aquilo tinha começado muito ruim.

Ao tempo em que estava parada, ainda encarando a maldita escada e recuperando o fôlego, escutei o advogado me chamar. Virei para o meu lado direito e caminhei em direção às duas vozes que conversavam animadas, deixando as malas no meio da sala.

Chegando no próximo cômodo, surpreendi-me com o sofá preto de couro que ocupava duas paredes da nada pequena sala. Encostada em outra parede havia uma cristaleira que só tinha visto igual em novela e, entre as taças chiques, várias garrafas de bebidas, a maioria uísque.

A mesa de centro parecia que comportava dez pessoas de tão grande. Tudo era exagerado naquela casa. Ainda assustada, lembrei de algo que poderia ter numa outra parede, mas a maldita tinha apenas um aparador com fotos.

- Não acredito... Onde está a TV com tela de cinema?

- Televisão na sala? Típico da pobreza esse tipo de decoração...

Olhei para o lado e me deparei com o dono da declaração repleta de preconceito. Não fiquei admirada quando vi de quem tinha vindo. Era o imbecil do elevador.

- Nossa! Desculpe pela minha educação deficitária. A busca pela sobrevivência diária não me permitiu frequentar escolas de níveis elevados como as que você deve ter ido. Estou extremamente envergonhada do meu comentário sobre a porra de uma TV na sala, onde é algo clássico na maioria das famílias desse país! Mais uma vez, peço desculpas ao príncipe herdeiro do trono maldito.

Uma risadinha ao lado me deixou ainda mais irada!

- Esse homem fez bons filhos. Um príncipe de bosta e um rei de merda.

- Ainda bem que você nos deixou de fora dos insultos.

- Sim! Não merecemos. Pelo menos ainda não.

Girei o corpo para as novas vozes que tinham se juntado aos outros na sala. Tentando lembrar quem era cada um, apontei o dedo indicador para o primeiro e, depois, para o segundo, falando os nomes que me lembrava.

- Arthur e Camilo. Acertei?

Eles se entreolharam e, após levantarem as sobrancelhas ao mesmo tempo - o que, desculpe dizer, era meio aterrorizante a sincronia -, retificaram o meu erro.

- Na verdade, é o contrário. Eu sou Camilo e ele é o Arthur. Somos parecidos, mas não gêmeos. Então, não exagera, gatinha.

- Tudo bem, vocês não são gêmeos e também não são inesquecíveis. Perdoem pela memória ruim, mas os vi apenas uma vez e só guardo no meu HD mental coisas memoráveis. Se fossem mais marcantes, gatinho, talvez eu tivesse lembrado - E fiz o gesto de legal com o dedo polegar.

Quatro herdeiros e a escolhidaOnde histórias criam vida. Descubra agora