A LEMBRANÇA

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Sem rumo, é como me sinto nesse exato momento, eles não deveriam ter pegado aquele avião, eu sabia que deveria ir junto e então não precisaria estar aqui sofrendo não só pela perda do meu marido, mas de toda a sua família, meu Deus que dor insuportável, que tragedia, eu só não queria estar nessa situação agora.

"Bom dia, minha querida, eu fiz o café da manhã para você antes de partir." Ele beija a minha testa ao me acordar.

"Bom dia, meu amor, muito obrigada, você como sempre é muito gentil, Deus foi muito generoso ao me apresentar a você" Retribui com um abraço.

"O voo é daqui a 6 horas, já adiantei tudo, estou esperando apenas eles chegarem, acho que ainda temos 20 minutos a sós, podemos aproveitar"

"Claro, com toda certeza"

"Eu te amo muito, fique com Deus, eu te ligo assim que chegar lá." – Essas foram suas últimas palavras.

E cá estou eu com a Yarin fazendo a malas para ir morar em Londres, infelizmente essa cidade não tem recursos para que possamos nos sustentar, não temos a mínima noção de como administrar a fazenda por tão grande que seja. Estamos a 6.774,26 km de Londres, não tenho certeza se consigo pegar um avião nesse exato momento, é tudo muito recente, faz exatamente três dias que não consigo dormir, meu corpo dói muito, sinto como se tivesse sofrido um acidente de moto.

"Acha que seremos bem recebidas por eles?" Yarin vira para mim com algumas peças de roupa em seus braços.

"É bem assustador para mim isso também, apesar de nunca terem nos apresentados, acho que o importante nesse momento é confiarmos em Deus, por mais difícil e dolorido que seja essa situação." Tento transmitir calma a ela.

"Você está certa." Ela se vira e volta para terminar a mala.

Com quanto tempo a dor passa? Ela dura para sempre? Por que o Senhor permitiu que isso acontecesse? Minha mente está sendo bombardeada por inúmeras interrogações, perguntas sem resposta e frases sem ponto finais. Por um momento eu penso em um Deus que da vida aos mortos mas também em um Deus que permite coisas inexplicáveis em nossa vida para que possamos ser um testemunho vivo de um milagre pelo qual só ele sabe qual será o final e qual será o propósito, ele escolheu a mim e a Yarin para vivenciar o que ainda não sabemos, mas esperamos saber o mais breve possível. Tem partido muito meu coração ver Yarin chorando quase que 24 horas por dia, eu tento mostrar o quanto estou sendo forte e apoiando ela, mas estou totalmente destruída e sem rumo, não sei por onde começar, eu sou cinco anos mais velha que ela, a considero como uma irmã, poderíamos voltar para a casa de nossos pais, mas crescemos sem eles. Eu perdi meus pais em uma viagem missionaria que fizeram ao Brasil quando eu tinha quatro anos, gosto de lembrar deles como duas ótimas referencias sobre seguir o chamado de Cristo, tenho apenas fleches deles, sei que minha mãe fora uma mãe muito amorosa e meu pai sempre dedicado em nos oferecer o melhor, pena que isso durou pouco e eu então cresci com minha tia Marilda, ela era uma amiga distante da minha sogra, duas vezes por ano minha sogra e meu sogro visitavam a nossa cidade em busca de novos fornecedores para o ramo da fazenda, e em uma dessas visitas quando eu tinha dezoito anos conheci o meu marido Noah, me apaixonei assim quando o vi, era atraente e muito educado, desde então começamos a conversar a distância até que dois anos depois nos casamos e eu vim morar com ele sua família, a três anos minha tia faleceu de câncer nos pulmões, infelizmente era metástase ele se espalhou pelo corpo, sinto muito a sua falta, ela foi super paciente comigo e sempre estava disposta a me dar os melhores conselhos, principalmente quando se trava da parte espiritual.

"Hanna o taxi chegou"

Então chegou a nossa hora, vamos lá viajar a mais de seis mil quilômetros por cima do mar, confesso que estou com muito medo, não faz uma semana que meu marido morreu em uma queda de avião para o norte do estado, mas temos que ter fé, acima de tudo.

"Observe o número de seu assento no cartão de embarque. Por medidas de segurança, acomodem as bagagens de mão nos compartimentos acima de seus assentos e as que não couberem abaixo da poltrona a sua frente." Escuto a comissário do voo no fundo ao me acomodar. "O tempo de voo está estimado em doze horas." Logo me espanto.

Doze horas é muito tempo, o voo do meu marido não foi nem de duas horas, Senhor por favor me proteja nesse voo, esteja conosco e nos livre de qualquer possível acidente, amém. Faço uma rápida oração até começarmos a decolar. Ao sentir o avião saindo do chão sinto um arrepio dos pés a cabeça e perco logo o ar, um frio na barriga me consome e sou pega em estado de pânico, fecho os olhos e retorno a pedir ajuda e misericórdia ao Senhor, na mesma hora Yarin segura forte em minha mão esquerda.

"Hanna, está tudo bem." Ela tenta me acalmar, mas é difícil, na mesma hora me vem a mente todas as lembranças, e logo em seguida sou consumida por uma imensa dor. Fecho os olhos e logo adormeço.

Acordo faltando três horas ainda para o pouso, então ligo meu celular, e abro a minha lista de reprodução, logo cai na música Always Only Jesus – ISLY ao olhar para fora da janela vejo as nuvens e logo abaixo um imenso oceano e a letra preenche meus ouvidos como uma canção doce.

Deus é impossível para você me decepcionar

No seu amor, nenhum traço de fracasso pode ser encontrado

É inegável que não há ninguém como você

Você é incomparável em tudo o que faz

Senhor, você é maravilhoso em todos os sentidos

Você está além do que qualquer palavra poderia dizer

Todas as coisas que eu costumava te amar superam em muito

Tudo o que você é, é tudo que eu precisarei

Pousamos as 15:44, Catarine a irmã mais nova do meu falecido sogro estava a nossa espera, ela aparentava ter 36 anos, muito bonita, linda em seu scarpin da cor branca e baixo, vestido da cor preta reto simples com seus longos cabelos escorridos e loiros pelas costas, certamente é de se chamar atenção.

"Sejam muito bem-vindas a Londres, espero que tenham feito uma ótima viagem, meu sobrinho concordou em ceder uma de suas casas para que possam ficar pelo tempo que precisarem." Ela nos ajuda com as bagagens e um longo sorriso no rosto.

"É muito gentil da parte de vocês, vocês nem precisavam fazer isso por nós." Digo corada.

"Que isso, é o mínimo, nós queríamos muito que o Loius e a Lizzi viessem morar para cá conosco, mas sempre preferiam o bom interior de Virginia." Ela pausa e olha para mim pegando em uma das minhas mãos. "Eu sinto muito pela perda de vocês, ter sido muito dolorido para nós também, eles eram muito queridos."

"Muito obrigada mais uma vez." Sorrio meigamente.

A casa é grande e bem espaçosa, é nova e os móveis cheiram a novo, muito diferente do interior da Virginia, a grande pergunta é, como vamos pagar por tudo isso, não estudamos e muito menos temos um trabalho. Uma onda de preocupação vem juntamente com a dor da perda.

"Essa casa é muito linda." Enfim Yarin se pronuncia.

"Matthias tem muitas casas, ele é o que ajuda muito a nossa família, em breve vocês o conhecerão, quase sempre está ocupado, mas tem um enorme coração, e não se preocupem em pagar pela comodidade, estamos todos aqui para ajudá-las no que for preciso" Ela acaba de colocar a última mala em um dos quartos.

"É muita generosidade de vocês, só o Senhor para os recompensar."

"Amém minha querida, então é isso, se acomodem, eu volto para buscá-las as 18:30 para o jantar em família."

"Muito obrigada" Eu e Yarin dizemos ao mesmo tempo e rimos juntas.

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⏰ Última atualização: May 30, 2021 ⏰

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