As vozes ...

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  Era uma noite exaltada de chuva, uma chuva forte e tenebrosa que invadia as janelas de casa. Os relâmpagos eram ensurdecedores. O choro do meu irmão caçula invadia os cômodos da casa em um tom agudo.

  Quando eu era pequena, acreditava no fato de que noites chuvosas era a razão das pessoas terem pesadelos. Sempre me agarrava nas cobertas de meu quarto implorando para que a chuva parasse. Mudei totalmente meus pensamentos, é como se eu nunca tivesse acreditado nessas loucuras.

  Em um dia pavoroso, após a chuva, minha prima que passava férias por um tempo aqui em casa, me encontrou jogada  embaixo da cama com os olhos totalmente arregalados e respirando como se estivesse em coma; Ela ficou paralisada por um tempo e começou a chorar. Encolhida arranho minhas pernas brutalmente até sentir meus dedos banhar-se de sangue. Minha prima saiu como um tiro pela porta gritando por ajuda, " Tia, a mei está morrendo!". E mesmo vendo minha mãe e minha prima se debruçando em lágrimas, ligando para ambulância pedindo ajuda, eu desejava a morte como alguém que estivesse esperando o seu fim há muito tempo, mas ele não chegara.

  Eu podia estar com medo da morte naquela hora, ou podia estar enacarando a morte como uma velha amiga, essa tal que eu esperava há tanto tempo, mas não sabia ao certo se era o que eu realmente queria. A morte. Sim a morte. Penso sempre nisso. Porque quando uma pessoa não aguenta mais esse mundo, ela podia simplesmente desejar sua morte e ela bater na sua casa. Simples assim. Mas não é. É algo que eliminará sua existência e isso é temível. Por isso ela não pode ser desejada, ela tem que ser executada. Não acho que eu executaria, ainda não cheguei a esse nível por mais que eu esteja nesse estado lamentável há muito tempo. Eu não temia a noite por causa do escuro e nem temia a chuva por seus barulhos. Quem eu temia eram eles ... Aqueles que eu só enxergo com meu olho esquerdo...

Sim...

Eles...

  De manhã tudo acaba como se fosse um mero final feliz de um conto de fadas, quando se acha que o vilão se foi ele retorna no próximo volume, ou no meu caso a noite. Não descansei nada e mal consegui fechar os olhos desde que posso me lembrar. Viro para o lado e vejo a hora marcada no relógio são oito da manhã, estou atrassada pra aula! Dou um pulo da cama e justamente nessa hora minha mãe resolve entrar no quarto. Não converso muito com minha mãe, a maioria das vezes é sobre problemas.

 

- Agora não mãe. Estou atrassada. - interrompo- a antes de começar a falar algo.

- Mas hoje é domingo. - diz com um sorisso maroto nos lábios. -

- Então.. O que a senhora quer comigo? - digo ríspida.

- Primeiramente, Bom dia. Preciso conversar com você.

- Bom dia. - sento-me na cama e faço sinal com a mão pedindo para que ela prossiga.

- Recebi uma orferta de emprego. - minha mãe parecia feliz. Ela já passou por muita coisa nessa vida. Após a morte do meu pai, ela começou a beber, e depois que eu comecei a ter minhas "crises" isso foi piorando cada vez mais. Ela ficou meses em uma reabilitação até estar totalmente curada. - Mas é em tempo integral.

 

- Aceite. Ficará tudo bem comigo. - Tento passar firmeza em minhas palavras. Eu sabia que algo a preocupava e eu não podia permitir que isso atrapalhasse. Porque por um momento, eu vi que minha "antiga mãe" ainda está aqui.

 

  Ela me da um abraço e se retira do quarto. Em instantes caiu em um sono profundo...

    Um barulho de um trovão me acordou com um pulo. O vento forte e frio entrava pela janela aberta, apesar da chuva. A luz acendia e apagava. Com um estrondo a porta se fecha. Eles estavam aqui. Já posso ouvi-los. Coberta da cabeça aos pés, descubro uma brecha para poder ter certeza. Sim, eles estão aqui. Almas penosas ou que não encontram a luz. Almas que imploram por sua vida de volta na terra. Eles sussurravam coisas do tipo, " O seu dia está chegando..". Na esperança de não enxerga- los, fecho meu olho esquerdo, mas ainda posso ouvi- los e sim, eles ainda sussurravam a mesma coisa ...

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⏰ Última atualização: Mar 02, 2015 ⏰

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