- Eu nunca iria imaginar que você é vizinho da minha tia - Laura finalmente estava na casa de Outono, era a primeira garota a qual ele havia trazido na sua zona de conforto. - Por sorte a vovó estava desocupada e me trouxe, é só 15 minutos de carro. Sabia?
- Não - ele rio nervosamente.
- Engraçadinho - ela rodopiou pelos cômodos. - E os seus pais?
- Foram fazer as compras do mês em outra cidade, daí só voltam a noite.
700 bilhões de pensamentos passaram pela cabeça de Laura, ela analisou todas as possibilidades e efeitos da casualidade, os quais resultaram naquilo, pensou em centenas de respostas e então:
- Tô com sede e apertada. Vou fazer essas coisas daí a gente faz o lanche pra assistir o filme, beleza?
- Claro - ele deu água para ela e mostrou o caminho do banheiro - usa o do meu quarto, o da casa tem uma barata lá dentro.
Ela ponderou um segundo.
- Você tá o dia todo indo no seu quarto porque tem uma barata no banheiro normal? - ela queria rir muito.
- Sim - Outono pensou em ficar com vergonha, mas seu medo de insetos era maior que isso.
- Okey, já volto - e Laura sumiu da vista.
Na mente de Outono aquilo era mágico e horrível, ele pensava em Laura a todo momento, o que fazer, como fazer e a hora de fazer. Beijar ela? Abraçar? A garota era tão gentil e espontânea e ele era... Ele. Pensou em trezentos diálogos, jogos, filmes, livros, o clima, família - sabia que ela tinha uma avó. - Perguntar dos pais? É invasivo? Ela pode ir embora ofendida e ele irá perder sua maior chance de romance da vida, ele estava gostando dela, mas estava em conflito sobre como dizer e retribuir a coragem dela de chegar nele, a descarga soou baixa ao fundo, era hora de interagir.
- Eai, bonitão. Quem vai dá uma de chefe? Eu confio na minha comida.
Ele não queria rir, mas a cara dela depois desse trocadilho horrível foi impagável e ele perdeu toda a pose.
- Que foi? Foi tão ruim assim?
- Não, quer dizer, foi horrível. Mas a tua cara fez ser incrível.
Ela ficou meio envergonhada.
- Vamos pra cozinha? - ela pegou na barra da camisa dele. - Posso ficar assim? Casas novas me deixam meio encolhida.
- Claro, vamos - ele caminhou calmamente para ela não se soltar dele. Ambos chegaram na cozinha, na bancada perto do fogão já estava tudo ajeitado, óleo na panela, as batatas cortadas e a bacia com papel toalha pra absorver a gordura.
- Você já fez tudo? - ele era atencioso demais, Laura viu como ele estava nervoso por baixo do semblante calmo.
- Bem, ainda falta fritar, como você é visita, não queria, sabe, deixar você com trabalho e até que foi fácil eu sempre cozinho quando...
Laura agarrou o rosto de Outono com as duas mãos e seus lábios se tocaram, durou dois ou três segundos, mas esse pequeno movimento gelou a espinha de ambos.
Ficaram se encarando durante mais alguns segundos enquanto as mãos dela desciam para se apoiar nos ombros dele, um sorriso bobo se formou no rosto dos dois.
- É... - nervoso, calmo, sem chão, com as mãos nos quadris dela.
- Vamos cozinhar?
- Claro - Laura ligou o fogão elétrico e o garoto começou a ajeitar as coisas em sequência na mesa.
- Tenho uma pergunta.
- Foi bom, na real, ótimo - ele interrompeu.
- Bem... Era sobre seu nome, mas fico feliz que tenha gostado.
- Ah, claro - sempre falando nos momentos errados. - Qual a pergunta?
- Por que "Outono"? - direta.
- Na real, nem eu sei, é engraçado as vezes - jogou um punhado de batatas na óleo quente, aquilo chiou e eles se afastaram - escrever em algum documento, ser chamado. A única coisa que sei é que é coisa da minha mãe.
- E ela não explica?
- Não.
Ambos ficaram em silêncio encarando o óleo fervilhando.
- Eu gosto de você, Laura. Foi mal se passei a imagem errada. Desde aquele jogo do UNO e sempre conversando contigo por mensagens - se ele não falasse agora, morreria vergonha - eu gosto de você.
Ela rio pelo canto da boca.
- Agora você falou no momento certo, bobão - e deu um soco fraco no braço direito dele. - Que filme a gente vai assistir?
- Shrek.
- Acho que agora te amo - ambos riram e foram ajeitar a batataApós o término do filme, conversaram, beijaram e riram até às seis da tarde. Poderiam viver aquele momento pra sempre, era tão natural e calmo.
- A qualquer momento minha vó vai buzinar aí me chamando - Laura falava e brincava com o cabelo dele ao mesmo tempo.
- Droga, passou tão rápido - Outono brincava com o joelho de Laura e aproveitava seu travesseiro de coxas.
- Mal começamos e você já é grudento, mocinho?
- Virou crime ser romântico? - ele fingiu olhar com raiva para ela.
- Não - ela sussurrou baixinho - eu gosto, a gente pode marcar outro dia, só preciso abrir minha agenda.
- Hummm eu vou adorar, senhorita ocupada.
- Besta.
O carro buzinou lá fora.
- Beleza, deu minha hora - Laura levantou junto com Outono. - Me acompanha até a porta?
- Claro - eles foram juntos até a porta da frente, andando bem devagar.
Antes de abrir a porta totalmente, Laura impediu o garoto e então segurou seu queixo para um "tchau" mais apropriado.
- Tchau, garoto estação.
- Tchau, tchau, gata.
Ela adorou ouvir aquilo de novo e então foi embora feliz.
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Escreva Isso
RomanceFelizmente a estação do amor, do romance e das flores chegou... Espera, não é primavera? Esqueça tudo que falei.