Nada é como antes...

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"-Oi querida! Adorei esse seu look... Deixei o forno ligado ou esse calor vem de você, gata?"

Ela se foi, sem nem me dizer nada... Não eramos vizinhas, ou melhor, não éramos amigas? Poderíamos ter sido até... algo mais.

Wanda se foi e na nova Westview agora Agnes parecia viver sozinha, parecia ser até a última alma que ainda restava com animação naquela cidade.
No dia seguinte após a partida de Wanda, a morena, agora não mais vizinha dos "Visão", despertou com um lindo sorriso nos lábios, se sentando na cama e espreguiçando.

- Bom d-...

Levemente sonolenta e sorridente, ao abrir os olhos e não se deparar com seu marido ao seu lado se assustou, Ralph era um pé no saco, mas nunca tinham brigado de tal maneira, onde não eram capazes nem de dividir o mesmo quarto.
No rosto da morena, sorriso nenhum mais se via, com sua veste de dormir, de tom violeta claro, e pés descalços, levantou-se e descendo as escadas com certa urgência, foi indo até a sala, onde encontrou o homem no sofá, de malas prontas, sério e com uma raiva no olhar, nunca vista antes por Agnes, Ralph tão preguiçoso, tão divertido e brincalhão assim como ela, o que de não mal tinha acontecido no dia anterior?

- Olha aqui, vá já la para cima Ralph, e o que são essas malas? Acha o que? Que é assim? Não, não e não!

Ela ria dele, enquanto falava se aproximado do móvel.

- Que tipo de brincadeira é essa?

Uma risada seguida de uma aproximação da morena dos olhos claros, no homem, para depositar um beijo sobre a testa do mesmo, não aconteceu, Agnes sentiu as mãos fortes a empurrando para trás, via repugnância no olhar se seu "parceiro".

- Ralph o que está havendo?

Questionava confusa, não encontrava a conexão entre seus olhares, Ralph mal olhava nos olhos de Agnes, o que a deixava cada vez mais perplexa.

- Não percebe?! Esqueceu de tudo que fez comigo? Nunca nem fomos um casal de verdade, você me manipulou, só para não parecer uma estranha sozinha nessa cidade!

O homem falava se levantando e se aproximando cada vez mais de Agnes, que ia dando passos para trás.
O homem ergueu sua mão, com ódio prestes a machuca-la, todos esses anos, sendo outra pessoa, sendo e vivendo uma mentira.

- Ralph.. O que? Eu não estou... Eu não sei o que isso quer dizer...

Quando não havia mais espaço para dar passos para trás, Agnes sentia suas costas contra a parede, via a mão de seu marido pretes a lhe acertar, o medo era involuntário, nunca iria espera aquilo dele, qualquer outro homem poderia fazer aquilo.. Mas Ralph? A morena fechou seus olhos cor força, e reclinando sua cabeça para baixo, até que.

- ... Me desculpe...

Ralph abaixou sua mão, balanço a cabeça negativamente mordendo os lábios como se segurasse o choro, com seus olhos marejados assim como os de Agnes falou:

- Eu não sou capaz disso, eu acho que por um tempo, por mais que enfeitiçado, devo ter gostado de você, de verdade, mas depois de tudo isso... Eu não posso, preciso ir, é impossível seguir como se nada tivesse acontecido.

(Todos de Westview sabiam que Agnes não se recordava de absolutamente nada, mas eles sim se lembravam e muito bem, era difícil ignorar um fato tão exorbitante como uma batalha de bruxas no céu.)

Ralph virou-se em direção ao sofá, colocando uma jaqueta e pegando a mala que levava embaixo do braço, o homem se foi, sem nem dar uma chance de Agnes o alcançar ou se explicar de algo que nem sabia o que era, e assim sumiu, como a vizinha Wanda que uma vez movava ao lado, e agora Ralph, que morava sobre o mesmo teto manchado.

Pov: Agnes

Tudo estava acontecendo tão repentino, o que foi que eu fiz pra merecer tudo isso?...

- Quando eu dizia que queria me separar de você... eu... estava apenas brincando... ...

Com a voz fraca, escorreguei lentamente minhas costas sobre a parede, descendo até tocar o chão, seite-me ali em posição fetal, agarrei meus joelhos e deitei meu rosto entre os mesmos.

Qual o motivo de tudo isso, Wanda desaparece, sem dizer uma palavra, Ralph... eu não tenho ideia do que fiz para ele... Eu realmente fiz alguma coisa?

Com os olhos embaçados de lágrimas, levantei a cabeça, respirei fundo e limpei as lágrimas que corriam por meu rosto com a manga do meu pijama.

- Certo Agnes, levante, vai.. Vai ficar tudo bem, eu espero.

Pov: narrador

Ao dizer aquilo, Agnes, para si mesma na tentativa de se acalmar, ergueu-se do chão frio indo até a cozinha preparar um café.
As luzes apagadas, a iluminação não era das melhores, o sol fraco diferente dos outros dias ensolarados, deixava a casa fria, escura e silenciosa, o único som que se ouvia, era o café, pingando do quador até cair ao fundo do bule.

Enquanto a bebida era preparada, a morena agora perdida em uma confusão mental, acostumada falar pelos cotovelos, quieta direcionou-se até seu banheiro, tomou um banho quente pondo qualquer roupa que vise pela frente.

Não demorando muito Agnes tomou seu café, o que deixou sua pele levemente mais rosada, mas ainda sim, não era todo o calor que precisava, para se sentir alegre como era antes de tudo isso acontecer.

Pov: Agnes

Arrumei meus cabelos para trás da orelha, andei até os fundos da casa, uma coisa eu ainda tinha, minha antiga bicicleta, um momento breve que me fez soltar outro breve sorriso, ao tirar ela do meio da bagunça e a campanha dela tocar.

- Vamos descobrir o que houve aqui.

Subindo em minha bicicleta, dando um leve impulso e pedalando em direção a saída pelo portão. A casa da Wanda era de fato a última coisa que eu queria ver, fui pelo outro lado da rua, dando a volta no quarteirão, a padaria fechada, era tão estranho, costumava abrir tão cedo que eu até me assustava, a locadora de filmes não existia mais, parecia ser um balcão abandonado, a cidade não tinha mais vida, vi umas pessoas tão sérias, e me encararam como se eu fosse, um mostro...?

Eu ignorei... continuei com as pedaladas, contornando o quarteirão, quando avistei o carteiro, sorri acenando para ele como de costume, que respondeu sorrindo. O que me trouxe uma breve felicidade, pelo menos isso, alguma coisa está normal, alguém para que eu possa conversar.

- Tenho uma encomenda pra você, sua bruxa!

Seu semblante mudou de oito para oitenta, parecia furioso, jogou o que parecia um jornal em mim, embalado em um saquinho, que mesmo sendo papel, senti uma dor ao objeto se chocar com minha testa. Parei bruscamente a bicicleta para que eu não caísse com o desequilíbrio, e quando olhei novamente ao redor, eu já estava sozinha novamente.

- Ele me chamou... me chamou de bruxa?!

Eu perguntei em voz alta para mim mesma, descendo a bicicleta e me abaixando para pegar o jornal... folhei uma duas, três páginas, até que uma notícia que ocupava duas páginas cheias me fez gritar de susto, era eu, e Wanda, e eu tenho certeza que não era uma enquete sobre melhor traje de Halloween. Nos duas lutando no céu, guerriando por algo que eu não fazia ideia, eu não lembrava de nada daquilo, mas ver aquelas imagens minhas e não saber do que se tratava, estava me consumindo por dentro de um misto de sentimentos e confusão. Pude sentir minha cabeça girar por um instante, minhas pernas bambearem, meu coração acelerar, e minha respiração pesar como uma bigorna.

- Já basta!!!

Gritei atirando o jornal longe com os olhos marejados, segurei com as duas mãos em cada guidão da bicicleta e a empurrei o mais rápido que eu pude para sair dali e voltar a minha casa. O caminho curto nunca tinha cido tão longe como estava sendo esta manhã. Eu podia ver minha casa, mas algo me impedia, uma enxaqueca medonha, confusa pude sentir de tudo naquele momento, e quando olhei para o lado... a casa de Wanda, deserta, vazia empoeirada, e a porta entreaberta, como se me chamasse, mas eu não tinha ideia para que.

Paralisei...

Nothing Is Like BeforeOnde histórias criam vida. Descubra agora