A Redenção de Aurora

A Terra da Garoa

A primeira coisa que ouvi no dia, foi minha mãe gritando meu nome, me apressando para ir à escola, estou no último ano, o famoso terceirão. Hoje se dá início ao ano letivo, e a turma já é toda conhecida, então, zero novidades. 

Tentei levantar de começo, mas estava tão frio, que por um momento fiquei desanimada.

— Rafa, filha, eu já preparei o café, se apresse para tomar, vamos anda. — disse minha mãe com seu jeito brava mas carinhosa — Você tem que se apressar porque o ônibus já vai passar e você sabe muito bem que demora para passar outro aqui na comunidade, certo? — disse preocupada.

— Tudo bem mãe, hoje eu vou sozinha. — disse enquanto coçava os olhos.

— O Renan largou do seu pé? Aquele menino não tem jeito, mas, no fundo, eu gosto dele — disse ela sorrindo.

— Mãe eu terminei com ele fazem duas semanas, e não nos falamos desde então. Acredito que ele já superou. — disse à ela, esperançosa.

— Tudo bem filha vai dar tudo certo - disse ela acariciando meu rosto — Agora vamos! Termine de se trocar, eu vou cuidar da sua irmã que logo logo tem que sair também. — falou enquanto arrumava a mesa.

Tomei um banho, o mais rápido que pude, me troquei e fui para o colégio.

Enquanto estava no caminho, no ônibus, conectei meus fones de ouvido no celular e entrei no meu mundo, sempre amei andar ouvindo minhas músicas. E quando eu entro em sintonia com a musica, é praticamente impossível me segurar, meu gosto é muito aberto, se a música tem uma batida boa, a letra e vozes bonitas, eu me apaixono instantaneamente! É magico!

 Foi assim que, enquanto estava de olhos fechados, curtindo minha vibe, deixei sair o refrão da música, cantei, baixo, e, mesmo assim a senhora que estava ao meu lado, ouviu e não parou de me encarar.

— Eu estou apaixonada pela sua voz menina - disse a senhora enquanto cutucava o meu braço.

Me assustei, tirei os fones rapidamente e disse — Oi? Ai meu Deus me desculp-perdão! — envergonhada.

—  Não fique assim! Você tem um dom, eu sei muito bem. que voz doce, e inocente! Aqui, não tenho muito tempo, eu quero que alguém te ajude a se desenvolver! Ah eu sabia que tinha algo pra mim nessa lata velha. — disse enquanto vasculhava o celular.

Eu estava confusa, mas curiosa, então, dei atenção à senhora.

—  Aqui, achei! Esse é o contato do meu genro, ele é produtor musical, e gosta muito do que faz, tente falar com ele depois menina. Eu vejo o brilho nos seus olhos. Diz que foi a Roseli que te indicou! — disse a senhora simpática, entregando em minhas mãos um cartão muito bonito em tons de preto e dourado.

Antes que eu pudesse agradecer ela estava descendo do ônibus, em uma parte nobre do Morumbi, no caminho para minha escola.

De início achei a situação um tanto quanto suspeita, nunca se sabe, vira e meche saem notícias sobre garotas traficadas. Porém senti a bondade no olhar daquela senhora. Enfim, pra uma jovem de 17 anos, aquilo foi a coisa mais legal que havia acontecido em anos. Desde pequena, a música corre em minhas veias, minha paixão. As artes no geral, teatro, canto e dança, eu sempre tive facilidade, e sou talentosa posso dizer. 

Mesmo não tendo condições financeiras, minha mãe sempre se virou para nos sustentar, trabalhando em 2 empregos, ela era formada em um curso técnico de enfermagem, mas acabava trabalhando também como diarista para os granfinos perto de casa. Enfim, ela pagava para mim cursos de teatro, mas quando a situação apertou, tive que apelar para os cursos gratuitos nos Centros Educacionais Unificados aqui em São Paulo.