-João onde estás?
Inês sentia se perdida, a eletricidade tinha ido a baixo. Estava escuro, muito escuro e Inês não conseguia ver nada.
-Estou na sala - respondeu João numa voz fina - Anda rápido, os meus tomates estão a ser esborrachados. Sim, não tens tomates, mas podes crer que dói! Dói muito mesmo!
Inês pegou numa vela, e caminhou cuidadosamente até à sala. Pelo barulho que ouviu, só podia ter caído a estante em cima de João.
-És tão desastrado - riu-se Inês enquanto ajudava João a tirar o móvel de cima.
-Hei, não fui eu, foi o móvel! - disse João em tom de brincadeira. Enquanto sacudia o pó do seu cabelo castanho curto.
João era alto, tinha olhos azuis e um nariz estranho. Não era propriamente o rapaz mais bonito e confiante, mas tinha um coração gigante.
-Fiquei preocupada, quase que ficavas sem tomates! Mas não te preocupes, que se eu te apanho a olhar para outra, eu trato de fazer isso pelo móvel...
-Porque é que eu ia olhar para outras, quando posso olhar para ti? - sorriu João, enquanto apalpava o rabo de Inês.
-Para, seu pedófilo - disse Inês por entre o riso.
De repente ouviu se um clique e a luz voltou.
- João, que caderno é aquele, compraste-o quando? - perguntou Inês
João olhou para o caderno no chão com um ar embasbacado.
Rapidamente o apanhou e correu para a mesa.
-Já nem me lembrava disto - sussurrou - É o meu livro! Pensei que a minha mãe o tinha levado no meio das coisas dela, quando foi para o Brasil.
Inês pegou numa cadeira, amarrou o seu cabelo castanho aos caracóis e fixou os seus olhos castanhos claros no caderno da infância de João.
Nem ela nem João imaginavam o que estavam prestes a ler...