Capítulo Um ( Degustação)

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Capítulo Um
 
 

 Narrador

 
 

A

os 35 anos de idade, Heloísa chegou a um cargo que ela tanto sonhou, tinha sua casa própria, seu carro, uma filha a qual dedicava seus dias. O tão sonhado emprego, ela ainda consegue lembrar de tudo que passou para chegar até aqui, a mudança de cidade, o tempo distante da filha pequena, os anos na polícia militar, as etapas das provas. Ela tem orgulho da mulher que é hoje e sabe valorizar cada caminho que trilhou. Hoje vai ser seu primeiro dia em seu novo cargo, ela estava ansiosa e um tanto nostálgica. Acordou cedo fez seus exercícios na área externa da casa, e já estava na mesa do café da manhã arrumada para sua nova etapa.
 
— Bom dia mãe. — Helena entra e dá um beijo no topo da cabeça da mãe.
 
— Bom dia? Olha a hora menina. Já te avisei para acordar cedo. — A delegada diz enquanto bebe seu café. — Um exercício é bom minha filha.
 
— Eu sei mãe, mas ontem fui dormir tarde. — A adolescente se defende. — Ah mãe, a Alícia vai vir para cá mais tarde, tem problema?
 
— Claro que não. Vai rolar filme? Pipoca? — brinca com a menina. Helena tinha feito uma grande amizade com essa menina, deixando a mãe feliz em ver a filha interagindo. — Acho que vou sair para comemorar com a Lívia.
 
— Vai ser bom para senhora sair mesmo, precisa aproveitar sua vida mãe. Não vai ficar sozinha para sempre né?
 
— Vamos esquecer a minha vida amorosa? — a delegada diz rindo. — A Lívia também está solteira, já tenho companhia. — Lívia era uma amiga e tanto da delegada, ajudou com sua fase de adaptação no novo estado desde então não se desgrudavam, só que quando ela abriu seu escritório de advocacia a vida tinha ficado cada vez mais corrida.
 
— Se você diz. — A menina ri e come um pedaço de bolo. O resto do café a mãe questiona a filha sobre a escola e como andavam as notas. Quando olha para o relógio de pulso a delegada vê que já estava na hora de pegar estrada.
 
— Hum, vou indo. — Heloísa levanta e passa a mão pela blusa de botões que usava, fazendo um belo conjunto com sua calça pantalona, seus saltos fechavam o pacote.
 
— Caramba mãe, você está linda. Quem olha nem pensa que nas missões calça coturno e atira como ninguém — Helena comenta e arranca uma risada da mãe.
 
— Só você Helena. — Indo em direção as escadas ela para e olha para a filha. — Glorinha vai preparar o almoço, esteja em casa.
 
— Ok doutora. — A filha bate continência. Subindo para o quarto a delegada pega a bolsa depois de escovar os dentes e conferir a maquiagem.
 
Já dentro do carro ela se anima com a possibilidade de poder comandar missões, não só comandar como participar. Ela quer ser diferente, ela gosta de missões armadas, de sentir a adrenalina correndo nas veias. Nunca se imaginou ficando apenas sentada atrás de sua mesa. Chegando na delegacia ela é recebida com muito carinho pelos seus novos comandados, uma policial a direciona até a sua sala.
 
— Muito obrigada. — Ela olha para o rosto da loira que carregava o distintivo de investigadora na intenção de saber seu nome.
 
— Me chamo Laura. — A policial se adianta. — Bom daqui para a frente acho que pode conversar com o delegado Albuquerque, ele vai te ajudar bastante.
 
— Obrigada mais uma vez. — Heloísa bate na porta e entra ainda um pouco tímida. Um rapaz alto estava de costas se vira na direção da entrada da sala. Seus olhos vão para a morena que acaba de entrar, encantado com a beleza ele abre um sorriso simpático, sabendo que ela seria sua nova colega de trabalho, estavam todos a espera da delegada. Era o comentário da semana nos corredores. — Bom dia você deve ser o delegado Albuquerque.
 
— Culpado. — O homem brinca. — E você a nova delegada, Heloísa, correto?
 
— Sim. — Ela fecha a porta atrás de si e encara o homem que estava a sua frente, com cabelos começando a ficar grisalhos, barba bem desenhada, um olhar expressivo e sério, ao menos quando sorri, seus olhos se fecham com o ato. Ela balança a cabeça para sair dos pensamentos. — Falaram que eu podia contar com sua ajuda para me adaptar ao novo ambiente.
 
— Claro. Vamos lá. — Ele larga uma pasta em cima de uma das mesas. — Essa é sua mesa. Decidimos colocar duas, assim você pode arrumar do seu jeito. Ali é onde a Laura fica, conte com ela para o que precisar, ela é uma profissional incrível. Quer ir aos outros departamentos?
 
— Claro. — Ela deixa a bolsa em sua cadeira e sai sendo acompanhada por Ricardo que lhe mostrava com detalhes onde ficavam tudo na delegacia. Quando retornam para o núcleo os dois já estavam em uma boa sintonia, rindo de algumas observações. — Me mostrou tudo, só faltou uma coisa.
 
— O que? — ele passa a mão pelos cabelos, tentando se lembrar.
 
— Preciso de uma cafeteira perto da minha mesa, sou viciada em café. — brinca e arranca uma risada do colega.
 
— Vou providenciar.
 
— É brincadeira. Bom... — ela olha para a mesa e vê seu distintivo em um canto. Sorri ao pegar o objeto, seu coração se aquece, ela sente emoção ao colocar o novo acessório. — Combinou comigo.
 
— Caiu perfeitamente bem. Pelos olhinhos brilhando sei que sonhou muito com isso, saiba que foi merecido. Pude ver seu histórico, difícil acreditar que você é a mesma que eles descrevem...
 
— Como assim? — a morena pergunta prendendo o cabelo em um coque frouxo.
 
— Ah, ali eles diziam sobre sua mira, sobre missões, sobre sua desenvoltura em ações armadas...
 
— E você está me julgando pela aparência? — pergunta em tom brincalhão.
 
— Não! Não foi isso, só que é difícil te imaginar assim...
 
— Eu imagino que seja mesmo. — Ela se senta e respira fundo.
 
— Bom, vou passar para você alguns casos que estou cuidando. — O delegado pega algumas pastas e começa a passar algumas informações para ela. Os dois conversam o restante da manhã, e ela já o ajuda com alguns pontos que tinham passado despercebidos. Os dois trabalham com agilidade e com sintonia. Sem ver que a hora havia passado, ela encosta na cadeira e balança o pescoço para os lados, retira seus óculos de grau e sorri para o colega.
 
— Parece que esquecemos do horário. Eu tinha um almoço marcado com a minha filha em casa. — Ela comenta ao olhar para o relógio.
 
— Você tem uma filha? — desperta a curiosidade do delegado.
 
— Sim. Uma adolescente de 15 anos.
 
— Mesma idade da minha. — Ele comenta. — Bom quer almoçar em algum lugar aqui por perto? Ou ir em casa?
 
— Acho que vou em casa. Consigo fazer isso e voltar em uma hora. — Ela comenta e olha o celular. — Mas agradeço o convite.
 
— Tudo bem. — Ele diz e volta para sua mesa.
 
Depois de um almoço com Helena, um restante de dia na delegacia, a delegada volta para casa com um monte de material para estudar. Entra em seu quarto e joga os diversos papéis na cama, começa a ler e estudar sobre tudo que precisava. Alguém bate na porta desviando a atenção de Heloísa.
 
— Oi mãe. Não foi jantar? — Helena entra no quarto.
 
— Estou com a cabeça fervendo com essa papelada. — a delegada aponta para bagunça que estava seu quarto.
 
— Então acertei. Trouxe um lanche para você. — a adolescente coloca na mesinha ao lado da cama uma bandeja com um sanduíche e suco.
 
— Obrigada. — a mais velha beija o rosto da filha. — Alícia já está dormindo?
 
— Não, estamos vendo um filme. — comenta.
 
— Desculpa não ter dado atenção a ela. Amanhã vejo vocês no café. — sentindo sua cabeça pesar a delegada massageia do lado.
 
— Tudo bem mãe. Agora tenta comer e descansar. Boa noite, vou ir deitar. — a adolescente saí do quarto. Agora comendo a chefe de polícia volta a estudar os casos, vendo uma forma de organizar e priorizá-los.
 
 
Ricardo se arruma pela manhã e desce as escadas da sua casa mexendo no celular. Olha algumas mensagens da polícia e depois volta a bloquear o aparelho. Pensando que mais um dia teria que estar diante da colega de trabalho, aquela mulher havia despertado algo que a muito tempo não sentia e os últimos dias com ela tem sido divertido. Senta-se na mesa de café da manhã e serve uma xícara generosa de café.
 
— Bom dia. — sua esposa, pelo menos no papel ainda é, aparece na mesa já pronta para o trabalho também. Sentindo que dessa vez teria mesmo que dá um ponto final na história de morar no mesmo lugar que a mulher, ele fica sério.
 
— Bom dia, Elise. — ele a cumprimenta. — Mais tarde precisamos conversar sobre umas coisas.
 
— Também preciso falar com você...
 
— Bom dia pai. Bom dia, mãe. — Alícia senta mesa animada.
 
— Acordou animada filha? — o delegado questiona.
 
— Pai, hoje eu vou para casa da Helena e minha mãe me deixou dormir lá de novo. — ela sorri. Ele olha para filha um pouco nostálgico, lembrando que até alguns anos atrás ela era sua princesinha. Não que tivesse mudado muita coisa na sua visão, mas sabe que ela cresceu de certa forma.
 
— Quem é Helena? — questiona, ele já tinha ouvido o nome por alto, mas não se recorda do rosto dela.
 
— Minha amiga pai. Estuda comigo. Você acredita que a mãe dela também é delegada? — ela comenta enquanto come uma fatia de bolo. — Mas nunca tinha conhecido uma policial tão legal, ela ver filmes com a gente. Acorda pela manhã fazendo Helena se exercitar, quando estou lá até eu ela leva para área externa.
 
— Pelo visto você vai por causa da mãe da sua amiga né? — a mãe da menina comenta rindo. Elise era dona de uma loja de roupas bem conhecida na cidade, uma morena alta com cabelos em um corte curto, um olhar que havia encantado Ricardo por muito tempo, mas tudo tinha se desfeito com as discussões, a forma que eles já não se entendiam. Decididos a dar uma infância para filha com uma família normal, eles se mantinham morando na mesma casa por anos, vez ou outra ou dois ainda tinham algumas recaídas, mas nada que mudasse a decisão que tinha terminado.
 
— Não é isso mãe, mas ela é legal sabe. Divertida. A amizade dela com Helena é bonita de ver. — a menina sorri ao lembrar de algumas situações. — Pai você pode me levar na escola?
 
— Cadê o transporte?
 
— Ah esqueci de avisar, o rapaz se sentiu mal hoje. — Elise entra no assunto.
 
— Levo. — ele concorda. Terminam o café da manhã em silêncio.
 
Depois de deixar a filha na escola o delegado segue o caminho até a delegacia. Cumprimenta alguns policiais que estavam na entrada, segue até sua sala e logo que entra vê a colega de trabalho de costas para porta, seus cabelos eram longos indo até a cintura, hoje ela estava de saia que ia até os joelhos justa e uma blusa de seda. Ricardo entra e fecha a porta atrás de si.
 
— Bom dia Heloísa. — diz e se senta na sua mesa.
 
— Bom dia Ricardo. — ela se vira e sorri. — Não resisti e trouxe a cafeteira. — a morena brinca. — Laura me ajudou a colocar aqui.
 
— Heloísa isso é uma cafeteira de cápsula sabe disso né? Podia ser uma comum. — o delegado comenta.
 
— Eu sei, mas é mais gostoso o café dela e não pense que vai ser só eu a comprar as cápsulas. — ela dá uma gargalhada e se senta na sua cadeira. Pega algumas anotações que tinha feito na noite anterior. Começa a rever todos os pontos que tinha marcado, coloca os óculos de grau para facilitar a leitura. Ricardo aproveita a distração da colega e observa ainda mais seus detalhes, a forma como ela ajeita os óculos, que tira os fios do cabelo que insiste em cair no seu rosto. Laura entra na sala e observa a olhada que o delegado dava em Heloísa.
 
— Bom dia Ricardo. — ela diz e vai em direção a mesa da delegada. — Heloísa levantei o processo que pediu, aqui.
 
— Obrigada Laura. — a morena prende os cabelos em um rabo de cavalo e volta a olhar os papéis.
 
Os dias passaram rápido, já tinha quinze dias que a delegada havia assumido seu cargo. Ela anda comandando algumas ações e uma dela seria importante aconteceria ainda essa semana. E sua presença ainda estava sendo questionada, Ricardo tentava parar a mulher de qualquer jeito, e como ela já estava decidido a ir, não seria uma missão fácil manter a delegada dentro da delegacia.
 
— Vamos entrar por uma entrada secundária, gente é preciso foco em tudo ok? Mantenham atenção ao que está ao redor, não quero perder ninguém esse dia. — a morena diz e tem atenção de todos para ela. Ricardo balançava a perna em frustração. — Vou entrar junto com o segundo grupo. Se algo vir a acontecer comigo, só sigam as ordens, entendido?
 
— Você está louca Heloísa? Aqui não deixamos ninguém para trás. — o delegado intervém.
 
— Ricardo, concorda comigo que em meio ao tiroteio se um ou dois policiais parar em mim, a atenção vai voltar para nós? — a mulher diz.
 
— Você é suicida. — ele se levanta e sai da sala.
 
— Vamos fazer o seguinte, ele vai estar dentro da missão, acredito que vai querer ver de perto. Então vamos tentar não deixar nada sair do combinado. Se pararem perto de alguém ferido, atenção redobrada.
 
— Tudo bem doutora. — os policiais concordaram. A delegada liberou todos e se sentou em uma das cadeiras, acertando mais alguns pontos da operação.
 
— Heloísa. — Ricardo entra na sala, a delegada tira os óculos e olha para o colega de trabalho. — Você não pode ir nessa operação.
 
— Não estou entendendo. — ela diz largando a caneta que segurava, se levanta alisando sua saia. — Não foi você que me elogiou pelo meu histórico na polícia? Imaginei que já soubesse que não ficaria sentada atrás de uma mesa.
 
— É perigoso. — ele se vê sem argumentos com ela.
 
— Você está preocupado com a minha segurança? — ela pergunta e sorri.
 
— Me preocupo com todos. — ele diz tentando não dar brecha de que era sim só com ela. Ele não sabia o porquê de querer proteger tanto essa mulher, mas tinha consciência de que os últimos quinze dias tinham ficado mais coloridos com sua presença.
 
— Então vamos deixar tudo acontecer. Pode deixar que eu com minha baby fico bem resguardada. — a delegada diz mostrando a arma que estava na sua cintura.
 
— Essa sua ousadia que me preocupa.
 
— Calma Ricardo, é só a primeira operação de muitas. — ela diz e pisca para ele ao sair da sala. Sua respiração tinha mudado de forma natural e agora revelava o quanto ele a deixava nervosa.
 
Chegando em casa Ricardo estava estressado com o dia na delegacia, não tinha achado uma forma de deter a delegada, ela iria junto na operação e parecia empolgada com a situação. Isso o deixava sem saída, o que fez ele dizer que também iria. Sua intenção era proteger a nova colega de trabalho, mesmo duvidando que ela precise de algum tipo de proteção. A mesa do jantar estava posta, mas ele decidiu tomar um banho antes de se sentar. Demorou tempo o suficiente para a água quente relaxar seu corpo, desceu as escadas e foi em direção a mesa, notando uma presença diferente.
 
— Boa noite. — ele diz ao se sentar.
 
— Oi pai. — Alícia dá um beijo no rosto do delegado que estava ao seu lado. — Essa é Helena, minha amiga. Aquela que durmo na casa dela.
 
— Prazer doutor Albuquerque. — Helena diz e o homem sorri para ela.
 
— Não precisa tanta formalidade, Helena. — ele comenta.
 
— É costume. Chamo minha mãe de doutora quase todo o tempo. — a menina sorri de forma orgulhosa.
 
— Ah sua mãe é delegada também né?
 
— Sim. Ela assumiu o cargo tem pouco tempo, sou orgulhosa do quanto ela batalhou para ter tudo que temos hoje. — explica entre uma garfada e outra. Despertando o interesse do delegado com a informação, ele tinha notado algo comum no rosto da menina, como se lembrasse alguém e agora com essa informação, consegue ver os traços de Heloísa na menina.
 
— Você é a filha da Heloísa Campos?
 
— Culpada. — a menina brinca de forma divertida. — Você a conhece?
 
— Minha colega de trabalho. Somos chefes na mesma delegacia. — o homem explica. Olhando ainda mais para menina, agora ele consegue ver o formato do nariz, o sorriso, a cor da pele. Tudo lembra a mulher por quem ele vem se sentido atraído. Jamais imaginou que a amiga da filha fosse a filha da delegada.
 
— Então você deve entender pai, porque que digo que ela é divertida. — Alícia comenta.
 
— Ela dá é muito trabalho. Sua mãe sempre encarou operações armadas Helena? — pergunta tentando sondar mais sobre a delegada.
 
— Sempre. Eu fico preocupada, mas gosto da forma que ela volta feliz. — a menina bebe um pouco de suco. — Já vi minha mãe atirando, confio nela.
 
— Entendi. — ele agora tinha certeza de que não poderia impedir a delegada.
 
— Você já atirou Helena? — Alícia pergunta empolgada.
 
— Não, minha mãe guarda muito bem a “baby” dela. E só vi uma vez porque fomos naqueles lugares de tiro esportivo, foi a única vez que cheguei perto de uma arma, fora isso ela diz que tenho que estudar muito para segurar uma.
 
— Ela está certa. — o delegado diz sorrindo.
 
— A tia Heloísa é linda, brava, sincera, brincalhona e ainda atira. Sorte do homem que um dia conseguir namorar ela. — Alícia comenta.
 
— Namorar? Minha mãe? — a menina dá uma gargalhada. — Minha mãe não acredita em romance a muito tempo, mas sei que o coração dela é grande e um dia vai ter alguém que saiba tratá-la como merece.
 
— Seu pai não é casado com ela?
 
— Meu pai? Eu não o vejo com tanta frequência. Até sei onde encontrá-lo, mas não sinto vontade. Então sempre deixo que ele faça isso. — Helena diz e dá um sorriso amargo. — Não acho justo com a minha mãe, depois de tudo que ela batalhou sozinha, eu dar oportunidade de ele entrar na minha vida para ficar, mas não irei evitar caso aconteça.
 
— Ele nunca ajudou vocês? — o delegado já estava com a curiosidade aguçada. Ele queria mais informações.
 
— Não. Bom, não que eu saiba, me procura muito pouco. Aí minha mãe passou na polícia, viemos embora, dando um motivo a mais para ele não procurar mesmo. — largando o talher ela olha para o pai da sua amiga. — Desde sempre é eu e minha mãe. E tenho um orgulho enorme pela mãe e pai que ela foi.
 
— Tem que ter mesmo. Imagino que ela tenha passado por muitas fases difíceis. — ele comenta.
 
— Quem olha para tia Heloísa, não imagina a força que ela tem. — Alícia não perde a oportunidade de elogiar a delegada.
 
— E você é louca para ela te adotar né? Já disse que não tem espaço. — Helena brinca com a amiga. — Não vou dividir minha cama.
— Eu durmo no quarto de hóspedes sem problemas nenhum. — a amiga entra na brincadeira.
 
— Você tem casa menina. — Ricardo a repreende. — Vejo que Heloísa conquistou minha filha também.
 
— Também? — Alícia não deixa a frase passar.
 
— Esquece isso mocinha. Vou deitar, estou com a cabeça doendo. — o delegado sai da mesa na intenção de fugir também do assunto.
 
 
 
O dia da operação tinha chegado Heloísa já estava no vestiário da polícia colocando a farda. Ela se equipou toda e depois prendeu o cabelo em um coque bem preso, foi em sua sala para pegar o celular, quando chegou perto ele tocava. Era sua mãe.
 
— Oi mãe. — a delegada atende. Ricardo entra na sala nesse momento e encara a morena agora fardada.
 
— Oi minha filha. Como vocês estão? Poderiam vir para cá esse fim de semana né? — Isaura faz algumas perguntas.
 
— Estamos bem mãe. Helena está na escola e eu estou saindo para uma operação, se tudo ocorrer como deve vou para o Rio na sexta à noite, ok? — a delegada comenta enquanto confere as munições de sua arma. Coloca no suporte.
 
— Operação armada Heloísa?
 
— Pensei que já tinha se acostumado mãe, mais de 10 anos trabalhando nisso. — a delegada sorri para o colega de trabalho que também estava com a farda.
 
— Se cuida. Que Deus lhe proteja.
 
— Amém mãe. Beijos amo você. Sexta pela madrugada eu chego. Prepara o café. — a delegada brinca
 
— Pode deixar. Também amo você. — Heloísa desliga e coloca o celular no bolso. Ela pega alguns papéis que estavam na sua mesa ler por cima. Provavelmente foi Laura que deixou e precisa de sua assinatura, ela faz isso.
 
— Estou na dúvida. — Ricardo lhe tira dos pensamentos, fazendo a delegada levantar o olhar em sua direção. — Não sei se você fica mais bonita de farda ou com suas roupas comum.
 
— Vamos trabalhar, Vamos? — ela o corta e levanta de sua mesa saindo da sala, vai em direção a um grupo de policiais e entra na conversa.
 
Ricardo tinha o poder de deixa a delegada tensa, ele fazia sua respiração mudar rapidamente, com o elogio isso aconteceu de novo e como uma forma de defesa a delegada preferiu se afastar. Faltavam pouco mais de meia hora para as viaturas estarem na rua. Todos foram tomar um café antes de entrarem em ação.
 
Já em posições todos se preparavam para invasão, seria em uma sede onde ficavam alguns bandidos muito procurados pela polícia. As viaturas chegavam por uma entrada secundária e quando o local estava cercado os policiais estavam à espera da autorização que foi concedida por Heloísa. Tudo corria rápido, principalmente o sangue pelas veias da delegada, a adrenalina dominava seu corpo. Mantendo o controle das emoções e até mesmo da respiração, ela se camuflava entre os policiais. Quando os tiros começaram ela abriu um pequeno sorriso. A invasão durou alguns minutos e no final eles já tinham prendido vários dos bandidos, mas nenhum deles era o cabeça dessa gangue.
 
— Faz uma varredura aos arredores se ele estava aqui não consegue ir longe. Está tudo cercado. — a delegada fala alto. — Vamos, Vamos.
 
Encaminhando os presos para as viaturas ela ouve um barulho vindo de um dos cômodos. Ela olha para o policial que está ao seu lado e pede que ele prossiga e vai em direção a uma das portas. Ouvindo algumas vozes, ela tenta escutar o que diziam, pensando se seria a melhor decisão entrar sozinha ela sentiu uma mão em seu ombro.
 
— Não vai entrar sozinha. — Ricardo cochicha. Fazendo alguns sinais eles se preparam e o delegado arromba a porta. Encontra quem eles queriam tentando sair por uma passagem subterrânea com mais dois comparsas que não pensam duas vezes antes de atirar, em um reflexo rápido a delegada atira em um deles e Ricardo no outro. Tentando correr o chefe da gangue é atingido por um tiro na perna disparado por Heloísa. Ricardo a encara.
 
— Quero ele vivo. — a delegada explica. Alguns policiais surgem na porta depois de ouvir os disparos. — Leva. — ela aponta para o homem ferido.
Quando já estão do lado de fora Heloísa vai até o carro e senta no banco encostando a cabeça no volante, ali ela agradece a Deus por mais uma vez ter conseguido passar por uma operação sem sair ferida. Ela estava em uma conversa íntima com Deus quando ouve passos cada vez mais próximos.
 
— Está tudo bem? — Ricardo pergunta com sua voz rouca.
 
— Sim. Apenas agradecendo. — ela responde e sorri para ele. — Obrigada por ter entrado comigo.
 
— Eu vim só para te proteger.
 
— Obrigada mais uma vez. — ela diz e estende a mão para ele que a segura apertando de leve. — Até que somos uma boa equipe.
 
— Somos sim. — ele concorda e ela puxa sua mão. — Vamos embora?
 
— Quero ver a apreensão de todo o material. Não podem descartar nada. — ela diz e ele concorda e seguem juntos para mais perto dos outros.
 
Ao chegar na delegacia Heloísa vai para o vestiário, troca de roupa e volta para sua mesa. Pega o levantamento que Laura tinha feito das fichas dos presos e começa a ler, bom parece que nenhum deles estavam ali pela primeira vez. Inicia também um relatório, ela se perde em sua função. Trocando poucas palavras com a policial que lhe auxiliava. Quando finalmente termina ela suspira e passa a mão pelos cabelos.
 
— Acho que acabamos. Amanhã no primeiro horário podemos fazer os interrogatório e vamos ver o que teremos que acrescentar aqui. — a delegada comenta com um sorriso satisfeito.
 
— Isso. — a investigadora se levanta e balança o pescoço demonstrando cansaço. — Vou indo Heloísa, até amanhã.
 
— Até. Também já estou indo. — ela começa a juntar suas coisas. Ricardo chega na sala e se senta na cadeira, ele digita algumas coisas no computador. — Tchau Ricardo. Até amanhã.
 
— Já está indo? Veio de carro ou quer uma carona? — ele pergunta tirando o olhar da tela.
 
— Vim de carro. — ela responde mostrando a chave.
 
— Com a correria desses últimos dois dias nem comentei. Sua filha é amiga da minha, ela estava lá em casa essa semana. — ele diz e a delegada volta para mais perto da mesa dele.
 
— Sua filha é a Alícia? — pergunta com uma voz surpresa.
 
— Sim.
 
— Sua filha é quase minha filha, adoro quando ela dorme lá em casa, assim eu tenho uma companhia para o treino da manhã. — comenta sorrindo.
 
— Cuidado. Por que ela já briga com sua filha por espaço na sua casa e na sua vida. — ele brinca.
 
— Parabéns pela filha linda, ela é um doce e muito educada. Você e sua esposa deve ter muito orgulho. — ela comenta e olha para o relógio de pulso. — Bom vou indo. — Sem dar oportunidade de resposta ela sai da sala.
 
Ao chegar em casa a delegada se desfaz dos saltos que machucavam um pouco seu pé. Coloca a bolsa no sofá e vai até a cozinha de onde vinha um cheiro delicioso de comida. Glorinha sua funcionária fazia o jantar, ela era muito mais que uma simples empregada. Se tornou uma quase mãe em pouco tempo de convivência com Heloísa.
 
— Boa noite Glorinha. — a delegada deposita um beijo no rosto da funcionária. — Helena está em casa?
 
— Sim. Ela está no quarto. — responde sorrindo. — Com fome Heloísa? — pergunta quando ver a patroa abrindo as panelas.
 
— Está tão na cara assim?
 
— Só um pouquinho. — Glorinha responde rindo.
 
— Vou tomar um banho e já desço. — ela vai saindo da cozinha, mas para na porta. — Quer ajuda?
 
— Não Helô, pode ir se cuidar. Daqui a pouco está pronto. — a delegada concorda e sobe as escadas carregando sua bolsa. Passa no quarto da filha e resolve dar boa noite, a encontra jogada na cama com o celular nas mãos.
 
— Ei boa noite. — ela chama a atenção da menina que se endireita assim que vê a mãe.
 
— Boa noite doutora. Como foi o dia? — pergunta Helena.
 
— Foi agitado. Cansativo talvez. — ela vai até a adolescente e deposita um beijo na testa da menina. — Ah vamos para o Rio fim de semana.
 
— Sério? — a mãe concorda. — Posso chamar a Alícia?
 
— Falando em Alícia por que não me disse que ela era filha do delegado Albuquerque? — a policial pergunta encarando a filha.
 
— Eu descobri no dia que dormi lá, nem lembrei de falar. Ele é a fim da senhora né? — brinca com a mãe que começa a ter uma crise de tosse arrancando uma gargalhada da adolescente. — Pelo visto já sabia do interesse dele.
 
— Você está doida? Ele é casado, pelo menos acho que é. E outra não sei se ele vai deixar a filha viajar comigo. — a delegada tenta fugir do assunto.
 
— Pelo que a Alícia falou, ele conversou com a mãe dela. Está procurando um apartamento. Eles já estão separados a anos, mas decidiram continuar as aparências por conta da Alicia só que com o tempo ela foi notando né. — Helena explica para mãe que se interessa pelo assunto.
 
— Mas como fica a vida pessoal deles? Sei lá, outros namorados.
 
— Nunca tiveram. Até ele ver você. — a menina faz mais uma brincadeira.
 
— Me respeita Helena.
 
— Calma doutora, só comentei. Já que ele se interessou tanto sobre você. Me fez várias perguntas, até sobre meu pai. — a delegada estava saindo do quarto, mas voltou no mesmo instante.
 
— E você como boa cupido, disse que sou sozinha, que não tenho ninguém. Imagino. — diz ironizando.
 
— Eu ia fazer o que? Inventar que você tinha alguém?
 
— Seria uma boa opção criatura.
 
— Ah mãe, ele é bonito. E parece ser um cara legal, pelo menos parece. Sei que a senhora não quer nada com ninguém, até dispensou o Bruno que era um partidão.
 
— E o que você entende de bom partido garota?
 
— Você está fugindo do assunto. — revirando os olhos a delegada manda beijo e sai do quarto. Ela estava intrigada com Ricardo fazendo questionamentos sobre ela, não sabia se era algo bom ou ruim. Decidida a não pensar sobre isso ela vai para o seu quarto.
 
 

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⏰ Última atualização: Jun 03, 2021 ⏰

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