A Redenção de Aurora

A Jóia do Mediterrâneo

Para mim, não há sentimento melhor no mundo do que observar o mar mediterrâneo ao nascer do sol, a sinfonia das aves cantando, o som das ondas se chocando contra as pedras e a infinidade do oceano azul.
Olhar para o horizonte sempre me traz um sentimento de paz, me pego às vezes olhando para o infinito durante vários minutos e até mesmo horas, crio cenários em minha cabeça imaginando historias e melodias que vem e vão como as ondas do mar, e esse sentimento, é a melhor parte, enquanto dura, pois é logo abafado pelos sons dos diversos festivais que acontecem nessa ilha.

Com certeza você já ouviu falar daqui, o ponto turístico mundial das festas. O paraíso da música eletrônica. E apesar de amar a música, o lugar onde eu nasci não se resume só e exclusivamente a isso, além de quase cento e vinte quilômetros de praias de tirar o fôlego, temos a lindíssima Dalt Vila, que, no caso, é uma fortaleza contra invasões bárbaras, um verdadeiro patrimônio da humanidade!
Ahh... Ibiza encontra seu silêncio e um pouco de tranquilidade em suas cidades do interior, e foi lá mesmo onde eu nasci. E sem querer ser puxa saco, é o melhor lugar do mundo.
Meus pais são donos de uma peixaria, muito tradicional na região, pois foi passada por gerações, a famosa e formosa Saint Azul.

 Meu pai trabalha sempre com um sorriso no rosto, e minha mãe, adora cuidar da parte da frente, onde funciona uma espécie de bistrô, com diversos pratos típicos dos mais diversos frutos-do-mar. Devo admitir, é um lugar muito animado e foi aqui onde eu conheci, e conheço diariamente pessoas do mundo inteiro. Se eu pudesse definir a energia que minha família tem em uma palavra, com certeza seria "Animação".
O sonho do meu pai, em específico, sempre foi que eu me casasse e assumisse tudo com meu futuro marido. Eu, por outro lado, tenho planos bem melhores, não melhores, quero dizer, apenas diferentes, sei lá.

  Começamos em minha casa, que em comparação com a casa de meus amigos, era humilde, localizada a aproximadamente 2 horas de Ibiza na praia de Sa Caleta.

Quando eu era apenas uma criança, desenvolvi um hábito incomum. Antes mesmo do sol nascer completamente, eu escapava silenciosamente de casa e corria para a costa, onde o mar aguardava. Era ali que eu encontrava minha paz. Entre as ondas suaves e o aroma salgado, eu me conectava comigo mesma, como se estivesse tocando uma harmonia escondida dentro de mim.

Enquanto observava o mundo ao meu redor, algo estranho começou a acontecer. Eu sentia as emoções das pessoas à minha volta, como se estivessem se misturando com o vento marinho. Algumas eram leves e fugazes, como a brisa que acariciava meu rosto, enquanto outras eram densas e sombrias, pesando em minha mente como nuvens carregadas de tempestade.

Meus pais nunca entenderam essa sensibilidade. Para eles, era apenas a imaginação de uma criança correndo solta. Mas no fundo, eu sabia que era algo mais. Havia uma conexão inexplicável entre mim e o mundo ao meu redor, uma ligação que eu mal começava a compreender. E embora eu não pudesse explicar, eu sentia que isso era apenas o começo.

Em um desses dias, quando tinha apenas 14 anos, estava deitada em minha cama, muito inquieta, na posição que estava eu podia ver a janela, o sol estava quase dando as caras, e as árvores dançavam à melodia do vento.  Em um estalo de agitação, levantei-me e me preparei para a escola, sim, eu fui para a costa ainda de madrugada, sempre saía de vinte a trinta minutos antes, mas esse dia fui um pouco mais cedo, como se algo estivesse me chamando. Meu coração acelerado, pulsava na velocidade de meus passos.

Enquanto as árvores balançavam ao ritmo suave da noite que se despede, eu cheguei ao meu santuário particular, próximo à costa. Gosto de me refugiar no antigo marco histórico de Poblament Fenici de Sa Calena, onde as ruínas oferecem uma vista privilegiada para o mar.