Haviam muitos homens, de ambos lados na entrada no galpão, então, Júlio mandou o funcionário que os acompanhava estacionar na saída lateral, para que pudessem evitar explicações e atrasarem-se ainda mais, além de facilitar uma retirada rápida caso precisassem.
Kael já preparava-se para deixar o carro, quando Júlio determinou que ele deveria ficar no veículo, o que provocou uma discussão acalorada, mas a contragosto, o jovem concordou. No entanto, a demora de um retorno o estava deixando ainda mais angustiado, não via lógica em ter ido junto se fosse para ficar de fora. Mas o discurso de Júlio, ainda fresco em sua mente, o atormentava e freava sua entrada.
– Tu não tem experiência com essas coisas, e quando não temos o que é preciso pra ajudar, acabamos atrapalhando, então, fica no carro. – Ainda que Kael quisesse retrucar, sabia que Júlio dizia a verdade, ele realmente não tinha a mesma habilidade dos que estavam ali, apenas alguns poucos treinos de direção e tiro, não o faziam um expert em armas ou um gênio criminoso que consegue solucionar questões arriscadas como aquela.
Ainda remoendo as palavras do cunhado, o receio de realmente acabar atrapalhando ou distraindo Dionísio, outra coisa que Júlio também havia dito, Kael começou a ouvir o barulhinho ainda baixinho das sirenes, carros de polícia mais ao longe anunciavam a sua chegada e o jovem desesperou-se, em um olhar frenético fitava a porta, esperando que a qualquer momento Dionísio e os outros a atravessassem, mas não foi isso que aconteceu e os ruídos da sirene começaram a ficar mais altos, informando-o que estavam se aproximando rapidamente.
Então, em um impulso, Kael deixou em um cantinho de sua mente o receio que estava sentindo de piorar as coisas ainda mais e entrou, guardando a chave do carro no bolso de trás da calça para que com as mãos livres pudesse agarrar sua arma e preparar-se para qualquer ameaça.
Assim que entrou, Kael percebeu que aquela porta não dava acesso direto a parte principal do galpão, ele havia entrado em um espaço pequeno, separado com divisórios de PVC, como se fossem mini depósitos, onde haviam dois corredores estreitos e escuros, e pelo da direita Kael seguiu, torcendo para que estivesse indo pelo caminho certo, o que menos precisava nesse momento era perder-se ali dentro, e pouco tempo depois o jovem conseguiu ouvir diversas vozes alteradas, e mesmo que nunca tivesse participado de uma negociação daquela natureza, sabia que havia algo de extremamente errado acontecendo.
Assim que o rapaz entrou no grande espaço de carga do galpão, onde todos estavam, Kael conseguiu perceber o que motivava toda aquela exaltação, e com horror fitou Santiago que preparava-se para atirar contra Dionísio.
A mente de Kael ficou em branco, não havia fúria ou medo, a cena que parecia gravar-se em sua retina apenas foi responsável por dar-lhe um choque, seu corpo inteiro pareceu eletrizar-se, e em seu peito a dor da perda se antecipava, e essas sensações que o tomaram, em poucos segundos o fizeram estender o braço e mirar o peito de Santiago, disparando.
O estampido provocado pelo disparo soou por todo o lugar, de frente para Santiago e de costas para Kael, Dionísio pensou que havia sido atingido, e com um olhar incrédulo viu a queda de Santiago e o sangue que espalhava-se por seu tórax, e somente aí se deu conta da realidade, virando-se rapidamente para trás e encontrando o jovem rapaz ainda com os braços erguidos, na mesma posição em que havia disparado, que despertou apenas com a aproximação de Dionísio que tentou fazer com que se abaixasse, pois uma intensa troca de tiros havia se iniciado.
Kael ainda perturbado pelo que tinha acabado de fazer, correu os olhos pela horda que havia tomado o lugar e sentiu Dionísio aperta-lo contra si, queria perguntar ao namorado se ele estava bem, mas tudo em seu corpo parecia dormente, então apenas olhou em seu rosto, analisando-o, e o viu pergunta-lhe algo, mas Kael não entendia o que lhe era dito, não porque não ouvisse, mas por estar em choque, sentiu os braços de Dionísio o estreitarem ainda mais e retirar a arma de suas mãos, então o ajudou a sentar-se atrás de uma pilha de paletes.
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Destinado a você
RomanceKael, um jovem humilde e de modos simples, após perder a mãe, se vê responsável pela criação de seus três irmãos mais novos, sem emprego e depois de frustrantes buscas, aventura-se em uma nova empreitada. Kael ao entrelaçar seu caminho ao de Dionísi...