Esperava que não tivesse tomado tempo demais o encarando - não queria passar por rude, afinal -, mas seria pedir demais esperar que não o olhasse com atenção que normalmente reservava às referencias das imagens que formava. "Uma sombra de olhos vermelhos" ecoou por sua mente, fazendo seu "estômago" pesar com nostalgia amarga. Semelhante o bastante para lhe trazer lembranças, diferente demais para fazer qualquer fantasia.Mas não podia simplesmente ficar parado. Era seu anfitrião, um nobre e seu cliente, afinal. Engolindo as más sensações, respondeu com um sorriso educado e se inclinando ainda com a criança em seus braços:
-- O prazer é meu, Lord Fallacy, e uma honra trabalhar para ti, embora sinta necessidade de corrigi-lo. Não sou nenhum jovem, Senhor, já tenho vinte e oito.Seu comentário foi carregado com honestidade, mas tirou um sorriso travesso do que estava à sua frente.
-- Para achar que vinte e oito é o bastante para não ter ao menos algo de juvenil, teria de acreditar que o ápice de uma pessoa é ainda na infância.
Houve proximidade novamente, e dessa vez o som dos passos dele era tão discreto que sequer pôde ouvir sob o barulho da ventania. Havia feito antes de propósito, como algum tipo de aviso? Esquisito, mas efetivo.
-- Espero que tenha sido bem cuidado. -- se pronunciou novamente, o que Encre respondeu concordando com a cabeça, e pondo uma mão na nuca do menino para disfarçar seu nervosismo.
-- Não tenho nenhuma razão para reclamar. Fomos bem tratados do caminho a sermos deixados sozinhos... -- e, rapidamente para que não causasse mal clima: -- ... mas é a primeira vez que meu filho fica tão longe de casa, então ele está meio nervoso.
-- Entendo. E o senhor deve entender que não foi por grosseria que compareci tão tarde.
Talvez fosse apenas uma impressão recebida, mas parecia haver algo de grosseiro nas expressões que lhe direcionava. O que exatamente, não poderia dizer; cada movimento era leve e fluído como um fio de água.
-- De todo modo, acho melhor irmos à razão para o ter chamado.Mais uma vez ajudou a criança a se ajustar, se desculpando por qualquer inconveniente, e puderam iniciar apropriadamente.
Ficaram um tempo considerável falando sobre o lugar e o que seria melhor dentro dele, devido ao estilo antigo e que estaria melhor preservado - os habitantes permanentes vinham todos de famílias antigas e ver violações nele os enlouqueceria - mas suficiente para preencher as paredes de modo que não parecessem paredes de uma prisão. Foi de seu agrado ter recebido relativa liberdade, considerando que de uma maneira ou outra uma violação no estilo estético seria algo que não conseguiria sequer se forçar a fazer, e outras partes se encaixariam enquanto trabalhasse nas imagens. Quando viram, já haviam se passado horas. Como o tempo flui quando se está envolvido!-- De todo modo -- o adulto de ossos pretos pronunciou após o assunto encerrado -- está escuro e será melhor se começar de manhã. Sinta-se livre para se juntar a nós para o jantar, e para andar pelo lugar onde não há uma porta trancada. Só lhe ponho a condição de, se tiver cansaço, não durma em nenhum cômodo que não seja seu quarto.
Achou estranho, é claro, afinal, ainda era só um pintor contratado, mas depois se lembrou que havia sido recebido como convidado; provavelmente seria rude, para um anfitrião de nome, fazer seu convidado comer separado. Concordou, e quando o viu sair, foi para o cômodo que lhe foi reservado para pôr o menino na cama e o ajudar a se acalmar. Quem podia o culpar? Já era adulto, então lhe parecia tolice, mas uma criança pequena, sequer completados seis anos? Nenhuma surpresa que a mudança de ambiente lhe fizesse a imaginação vagar.
No final, atendeu ao pedido do anfitrião e convenceu o garoto a ir junto a si quando a moça Gazelle bateu à porta para informar que o jantar estava pronto. Foi um momento muito, muito desconfortável, não só para o filho, mas também para a mãe.
Podia ter sido recebido como convidado, mas não mudava que estava lá para trabalhar para ele. Quando as pessoas se reuniram à mesa, se tornou a cada entrada mais consciente da sua posição lá, de sua falta de lugar no meio daquele pessoal, e comparar a forma como estava vestido. Não tivesse medo de passar por rude ou ingrato, de certo teria ido embora sem comer.
Se contou certo, deviam haver umas boas vinte pessoas, masics e metazoans principalmente - os únicos esqueletos eram a si próprio, Langer, Fallacy e um rapaz de indiscutível semelhante física com o último - no meio das quais o deslocamento ficava mais nítido do que nunca.Uma vez terminado, inventou uma desculpa sobre indisposição e voltou para o quarto, e se tivesse prestado atenção notaria a expressão de alívio do filho quando se afastaram do cômodo.
Do lado de fora, a nevasca aliviava lentamente, mas ainda estava forte.
Aquilo não era lugar para eles ficarem, mas o clímax do inverno havia acabado de chegar. Maldito. Bom, não importa. Se a neve o permitir, vão sair de lá antes do aniversário do menino. É o melhor para ambos.
Começaria de manhã, e torceria para estar livre para ir antes do fim da quinzena.
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Vampire Verse - Sun and Moon
FanfictionEm uma área longe da capital, em um país essencialmente mandado pela igreja, festividades não cristãs eram o próprio fruto proibido. Mas, seria inocência demais achar que quem quer não daria um jeito. Encre podia não ter crenças, fossem cristãs ou...