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Para o de marcas azuis, ouvir o som de passos se aproximando foi um enorme alívio; o discurso de "ainda sou o mesmo" era tão genérico e emotivo que era difícil acreditar que saía da sua própria boca. Ao menos pareceu dar algum efeito, considerando que o rapaz - homem, para eles "rapaz" é só até vinte - quando entrou estava com dedos trêmulos e agora parecia mais calmo. Mas não podia terminar do nada, então tratou de o fechar:

-- Nosso acordo foi uma verdade em troca de outra. Se não acredita que não vou mordê-lo, o que seria a única coisa que ganharia com o manter preso ou matar, teria que me achar um mentiroso ou me dar razão para achar que me mentiu quando jurou que não iria.

E, talvez simplesmente para fazer um drama, a porta só abriu quando terminou de falar. Jasper nem fingiu estar incomodado com interromper, o que era estranho, considerando que mesmo fingir por piada ainda o era.

-- Precisando de uma mão. Pode me dar?

Oh, esquece, essa parte era imortal, o sorrisinho nem um pouco forçado o entregava.

Independentemente, era a brecha que queria, então dispensou o pintor que àquela altura claramente estava mais desconfortável com as insinuações de preconceito do que com estar sozinho lá consigo, e quando o viu sair, simplesmente esperou o filho fechar a porta atrás de si.

-- O pequeno esquema estava certo. Mas eu acho que o que confirmou o moço ali já tinha notado. -- havia diversão no olhar do jovem quando a próxima parte veio, um tipo que sabia o que insinuava e preferia não lembrar -- O homem é inteligente, te falo. E eu sei que enrolar aquele pessoal não exige lá tanta.

Teve que segurar o desejo de revirar os olhos. Ok, estava parcialmente certo, mas não o daria material para meses sem paz gratuitamente. Precisava de uma certeza primeiro.

-- Por que todo esse trabalho, afinal? Parece esforço à toa.

Nunca parece ser esforço à toa quando é algo que lhe interessa, jovem Senhor Nem Tão Discreto Quanto Acha Que É.
-- Porque eu já garanti que teria sossego dentro do quarto. Me enfiar lá sem permissão, ainda mais com uma criança doente dentro, faria mais mal do que bem.

-- Ok, eu admito, isso faz sentido.

-- E não ache que seu pequeno papel lhe safou das suas lições.

Mesmo que só por um instante, a expressão que recebeu fez valer quando frustração que o que viesse em seguida causaria. Eram lições longas, trabalhosas. Mesmo com ajuda uma parte ficou incompleta quando finalmente saíram para jantar.

Mesmo sabendo previamente que a tentativa havia dado certo, ainda não pôde evitar o pequeno sorriso que quis aparecer quando viu novamente aquela obra de arte viva, mais uma vez com o menino nos braços. Parecia feliz, se um pouco confuso. E isso não era uma coisa ruim.

-- Mas veja -- murmurou após se aproximar, não querendo causar um fuzuê -- Achei que havia dito que o menino estava mau. É um alívio verdadeiro ver em seu lugar de costume mais uma vez .

Estendeu a mão para tocar o rosto do pequeno, que recuou sem tentar disfarçar, mas, por sua posição, fugir não era uma opção. Isso bastava, no entanto; a tentativa de afago foi apenas um pretexto. Não precisava realmente o tocar, bastava sentir seu cheiro.

De relance, ele tinha um cheiro fresco, embora levemente acre, típico de mortais que não seriam uma boa fonte. De relance. Se desse um mínimo a mais de atenção, notaria que a parte acre não era uma típica dos que não valiam os riscos, mas uma transição para uma outra camada, quase escondida pela superficial, que só poderia possivelmente ser provida por um membro de sua espécie. "Não me morda, eu sou um de vocês", era o que dizia, mas como não era deixado nítido, os outros receberam a mensagem apenas no inconsciente. É claro! Esse era o cheiro
(repulsivo)
que sentia em Encre.

Metade mortal, metade imortal. Uma criatura de diferentes camadas que lhe davam o melhor dos dois mundos. Lhe envergonhava ter que usar um truque sujo para confirmar, mas podia se perdoar: dhampir nasciam destruindo o interior da mãe ao abrir caminho, era quase impossível sobreviver mesmo com cuidados, além dos próprios dhampir raramente viverem além do primeiro ano de vida. Um híbrido e mãe vivos, ainda mais seis anos após o nascimento, era uma das coisas que nunca havia testemunhado em sua longa vida.

Um vampiro possuiu Encre sem o marcar, e dar à luz ao meio sangue resultante o feriu. Como acontecia com as mordidas, alimentar a criança não apenas fechou as feridas, mas as marcaram com seu cheiro. O que o impregnou foi um acidente, não ter sido clamado, portanto esse lugar ainda estava em aberto.

Naquele instante, e quem dera apenas aquele, Fallacy pôde se permitir se sentir perfeitamente prensado contra a parede.
Podia deixar ir e remoer pelas próximas décadas, ou agarrar a oportunidade e ser rotulado de hipócrita, o que não é de maneira alguma algo positivo, ainda mais considerando que já havia anunciado às deusas e ao mundo que ia tentar "ser melhor".

Que Jasper tinha uma relação amorosa com seu servo pessoal, Fallacy sabia, e se fosse baseado apenas em opinião pessoal, não haveria problema algum - Suave morava no castelo desde que era menino, se alguém podia levar crédito por ter o criado, era o de ossos pretos (e sua esposa, até onde pôde), e confiava que havia feito um bom trabalho. Não, o problema era outro.

Podia não falar sobre, já que com certeza causaria rumores chatos de lidar, mas já havia notado que o filho era um receptor, e diferente de si, não havia tido um filho antes de se conhecerem, então ativamente evitar uma gestação em caso de casamento não era uma opção viável a longo prazo. Permitir livremente seria assinar permissão para que cometesse suicídio por algumas noites de prazer.

Mas como poderia justificar se decidisse cortejar não simplesmente um mortal, mas um que era literalmente prova viva de que tais exceções eram possíveis?

Não sabia. O que sabia era que precisava esperar que sua expressão não demonstrasse que havia trocado um tipo de estresse por outro.

Vampire Verse - Sun and MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora