Eu quero a eternidade com você.

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Catarse.

Na religião, medicina e filosofia da Antiguidade grega, libertação, expulsão ou purgação do que é estranho à essência ou à natureza de um ser e que, por isso, o corrompe.

Lucifer se sentiu corrompido – deixando de lado toda a falácia sobre o Diabo ser aquele que corrompe humanos indefesos e fracos que as civilizações encorajava uma após outra, pesada e destrutiva, como se ele fosse perder o precioso e imenso tempo que tinha sussurrando nos ouvidos de pessoas que nada significavam para si, barbaridades que as levariam a arder no fogo do inferno – por um longo tempo em sua imortal e desgraçada vida, até que ele havia achado algo realmente bom quando decidiu sair de férias e abandonar todo um reino que nunca sequer pediu para trás. Foi assustador, claro, não se deixe enganar. A Detetive o deixou vulnerável ou ele mesmo escolheu ser vulnerável ao seu lado, como ambos haviam concordado semanas atrás sentados lado a lado ao piano. Ele havia sentido algo pela primeira vez e gostaria apenas de se agarrar profundamente a esse sentimento que lhe tirava o fôlego, mas que ainda não sabia nomear.

Ele a amava, certo? Essa pergunta o rondava desde aquela maldita interrupção na sala de evidências, quando seu pai deu o ar da própria graça após milênios do mais cruel silêncio e o tempo havia congelado.

Isso não o impediu de se sentir um peso sendo tirado de si assim que ouviu aquelas palavras que há muito esperava saírem da boca do seu velho pai.

Tinha sido catártico e chocante.

Ele não estava delirando, estava? Horas haviam se passado e ainda sentia que precisava ser beliscado para saber que tudo tinha sido mesmo real.

Muito real.

O dia havia rastejado, levando com ele o Deus e a Deusa de toda a criação para outro Universo literal. As palavras que seu velho pai havia dito instantes antes de partir, ressoavam em loop em sua cabeça.

"Eu te amo, filho. Estou muito orgulhoso do homem que se tornou."

Lucifer estremeceu, deixando o ar sair de seus pulmões como se estivesse milênios submerso à espera de uma salvação. E mesmo agora, com a certeza borbulhando em seu corpo, coração e alma do amor do seu pai por ele, por que ainda se sentia tão indigno dela? Por que não conseguia fazer com que as três palavras saíssem de sua boca com facilidade? Por que ainda parecia uma mentira? Por que mesmo tendo o amor do pai e da única mulher que sempre sonhou em estar, ainda escutava a cacofonia de vozes sussurrando em seus ouvidos o quando ele se odiava e nada poderia fazer para mudar isso?

Ela é tão perfeita...

Mas aqui estava ele, agarrando-se a única certeza: Ele precisava ser Deus. Assim poderia enfim merecê-la e ser digno de seu amor. Saber que era amado pelo seu pai apenas o impulsionou a lutar por isso mais do que nunca. A lutar por ela, para que ela tivesse tudo o que merecia e muito, muito mais.

O fogo crepitava na lareira próxima a varanda da penthouse. A vista do alto era sempre deslumbrante, pontos brilhantes enfeitando o horizonte da Cidade dos Anjos, suas estrelas penduradas e ofuscadas no céu pelas luzes em demasia, mas ainda incríveis e os barulhos produzidos abaixo muito distantes, deixando-o respirar em paz, entre um gole de whiskey e outro, o copo repousando em uma das mãos enquanto aguardava por ela.

Sendo incapaz de não retomar outras memórias do dia, recordou-se de como a Detetive mostrara-se preocupada com sua iminente promoção desde que contara a ela que pretendia se tornar o novo Deus.

"Não, por que você quer ser Deus?", ela o tinha perguntado dias atrás.

Ele havia respondido que não importava. Seria ótimo, não seria? Guerra erradicada, fome saciada, ressaca... nunca deveria ter existido e o mais importante, enfim seria digno. Então, que mal faria? Ainda se tornaria onisciente, onipotente, onipresente. Todos os "onis" a qual teria direito. As coisas poderiam ficar ainda mais interessantes no quarto também...

Eu Quero a Eternidade com Você - Deckerstar One ShotOnde histórias criam vida. Descubra agora