Jisung abriu o porta-malas, checou se o caixão estava bem preso, fechou novamente, entrou no carro, espalhou álcool em gel nas mãos — que ficava pendurado num local perto do volante e tinha uma capinha de caixão —, inseriu o endereço do enterro no GPS — que ficava muito longe —, checou o retrovisor de dentro com seu penduricalho de esqueleto, deu um tapinha na perna de Vincent, o esqueleto em tamanho real que usava óculos escuros de coração, um sombrero e colar de hula-hula sentado no banco ao seu lado — que às vezes era substituído pela Dona Morte —, pegou um óculos escuros da porta cheia de óculos escuros, os colocou em Vincent — tirando o que ele usava —, colocou uma banda de rock qualquer para tocar, abriu um compartimento, tirou seu porta-pastilhas do Bob Ross, colocou uma na boca e deu partida no carro.
Mais um dia normal em seu trabalho: levar gente morta para ser enterrada na terra enquanto jogam flores e choram. Podem o chamar de insensível, mas não entendia por que choravam tanto. Todo mundo irá morrer alguma hora, a pessoa só se livrou de estar em um mundo de merda como esse.
— I'M ON A HIIIIIIGHWAY TO HELL! — cantou, mas também não acreditava em céu ou inferno. Para Jisung, tudo tinha uma explicação científica e se não, era doideira.
Viu do outro lado da rua — o lado de Vincent — uma moça bonita vestindo uma blusa bonita que tinha certeza que tinha visto em uma loja bonita outro dia, diminuiu a velocidade e abaixou o vidro escuro demais para olhá-la melhor, identificar qual era a camisa e tentar se lembrar onde tinha a visto. A menina não sabia se ficava mais assustada com o esqueleto sentado olhando-a, o fato de ser um carro funerário ou o fato de não ter conseguido ver o motorista. Ela jurou que viu a vida inteira passando pelos olhos porque o Diabo tinha mandado um servo buscá-la. Acabou que Han não reconheceu direito a peça de roupa, quase ganhou um novo cliente por quase atropelar um ciclista e logo que acelerou novamente o veículo, passou por um quebra-mole.
— PUTA QUE PARIU! — disse enquanto sentia o carro pular, pisava com tudo no freio e segurava no "puta que pariu" do lado do passageiro.
Não bateu o carro, porém sentia que precisava checar o "passageiro". Principalmente pelo caixão parecer custar mais do que Hannie ganharia em toda sua vida. Não queria nem pensar no que aconteceria com ele se algo amassasse, quebrasse ou algo do tipo. A família deu um dinheiro extra para transportá-lo sozinho, sem nenhum outro caixão junto, justamente com medo de algo quebrar mesmo os caixões sempre estando bem presos e amarrados ao chão. Não chegou a ver o rosto de quem estava dentro dessa vez pois estava ocupado limpando os vidros do carro. Só entrou na funerária, pediu ajuda para carregar até o carro e o prendeu. Encostou na calçada e foi checar de o caixão ainda estava de boa. Estava. Adorava aqueles cintos de segurança para caixão. Voltou para o banco do motorista, aumentou o volume e continuou sua jornada. Em algum momento jurou que tinha ouvido uma voz que não era nem do cantor nem do back vocalist, então desligou o aparelho de som para prestar atenção. Não tinha como ser do morto, tinha? Tinha.
— DIRIGE ESSA MERDA DEVAGAR!
Imediatamente olhou para o retrovisor e viu uma pessoa flutuando acima do caixão, olhando-o. Quase bateu o carro. Encostou. Olhou para trás e viu o ser translúcido e jovem levitando. Era esbelto, vestia um fino terno preto com uma blusa de gola alta, tinha cabelos negros compridos mas não tanto, olhos de felino e uma linda pinta embaixo de um deles.
— ...Eu não lembro de ter fumado hoje. Nem nos meus 20 anos de vida. — disse Hannie, olhando-o de cima a baixo — Devem ter me drogado na festa de ontem.
— "Fumou" coisa nenhuma! Onde que eu tô?! — colocou duas mechas de cabelo que caíam em seu rosto para trás das orelhas, enquanto olhava ao redor.
— ...Deixa só eu checar uma coisa?
Passou para parte de trás do carro sem sair do mesmo e levantou com delicadeza a parte do caixão que mostrava o rosto. Viu a exata mesma figura.
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WTFuneral - Hyunsung
HumorOne Han Jisung adorava seu trabalho: dirigir um carro fúnebre. Calmo, divertido e combinava com seu estilo. Mas a calmaria sumiu quando teve que transportar Hwang Hyunjin, que não se conformava com sua morte e tinha muito a reclamar. ...Mortos falam...