Aprender Exige Atenção

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 Naquela tarde seria a primeira aula de Magia de Lúcia. Matsaniel ainda estava um pouco fraco, mas ele não podia nem pensar em não dar aquela aula, principalmente porque a garota não tinha parado de falar naquilo desde que chegara na montanha naquele dia.

Quando chegou o horário marcado, Lúcia foi se encontrar com Matsaniel na oficina.

— Professor, cheguei — Disse Lúcia — Estou tão animada para voltar a usar o meu anel

— Então vai continuar animada — Disse Matsaniel — A aula de hoje se trata de outra coisa

O garoto apontou então para uma das mesas. Sobre ela estavam alguns potes de vidro com materiais diferentes.

— O que é isso? — Perguntou Lúcia indo até a mesa — Cadê o meu anel?

— Você não vai usar o Anel de Copas, por enquanto — Disse Matsaniel — Hoje é aula de alquimia

— Alquimia? Tipo química? Eu não gosto dessa matéria

— Ainda assim, você vai precisar aprender

— Por que? Meu negócio não é só, tipo, apontar para as coisas e dizer "Destruereficaxe"?

— Lúcia, antes você era um plano B, mas agora você é parte da equipe. Como não vai ter o seu anel o tempo todo, vai precisar aprender outros meios de se proteger no dia a dia

— E como essas coisas chatas vão me ajudar? Espera, tem uma aqui que é interessante

Lúcia pegou um vidro que continha uma pedra preta.

— Por acaso isso aqui é um pedaço de algum meteoro ou algo parecido? — Perguntou ela olhando para a pedra

— Não, é um pedaço de asfalto — Respondeu Matsaniel

— Asfalto? Tipo, de rua? Como você pegou isso?

— Eu encontrei no depósito de materiais da oficina

— Ah, faz sentido. Por um minuto achei que você tinha pego em alguma rua. Imagina só a dificuldade que seria

— Não seria tão difícil. Eu sei que você vem de um lugar em que todas as ruas são pavimentadas com paralelepípedos e costuma frequentar áreas em que o asfalto é perfeito e renovado a cada seis meses, mas nem todos os lugares são assim. Em algumas partes da cidade, tirar um pedaço do asfalto é a coisa mais fácil de se fazer. Bom, mas nossa aula é sobre Magia, não cidadania. Hoje vou te ensinar a fazer uma bomba de fumaça

— Bomba de fumaça?

— Um jeito de obstruir a visão dos oponentes e escapar. Vai ser muito útil caso se encontre em alguma situação complicada e não estiver com o seu anel

— Não é mais prático me deixar ficar com o anel permanentemente?

— Só no dia de são nunca. Comece pesando três gramas de cada ingrediente, a balança está na gaveta da mesa

Lúcia, a contragosto, pegou a balança e começou a pesar os ingredientes.

— Professor, como eu peso o açúcar? — Perguntou Lúcia — Só a colher já pesa mais do que três gramas

— Tem um botão na balança onde está escrito "tara" — Disse Matsaniel — Pese primeiro a colher vazia e aperte o botão, então a balança vai voltar para o zero

— Entendi

Depois disso Lúcia terminou de pesar os ingredientes bem rápido.

— Pronto professor, acho que estou pegando o jeito — Disse Lúcia

— Tudo bem — Disse Matsaniel — Só me deixe conferir e então poderemos seguir em frente

— Assim vai demorar demais. Eu garanto que nenhum dos ingredientes passou de três gramas

— Está certo, vou confiar em você. Agora você precisa misturar os ingredientes não solúveis em temperatura média e então adicionar os solúveis todos juntos depois de cinco minutos

— Qual é a temperatura média?

— 50° célsius

— Legal. Eu vou ganhar um maçarico agora?

— Não, vamos trabalhar com algo bem menos acidentável

Matsaniel pegou uma caixa de ferro e a colocou sobre a mesa de Lúcia. Ele então a abriu, mostrando que haviam três pedras no interior: uma azul, uma amarela e uma vermelha.

— Lúcia, essas são Pedras de Calor — Explicou Matsaniel — O pai do Gabriel as criou para experimentos de precisão e cada uma tem uma temperatura diferente. A azul possui 0°, a amarela 50° e a vermelha 100°

— Ah, então a amarela é exatamente a que eu preciso — Disse Lúcia estendendo a mão para pegar a pedra

Mas então Matsaniel fechou rapidamente a caixa.

— Ei, por que fez isso? — Reclamou Lúcia

— Você não pode pegar 50° célsius com a mão — Disse Matsaniel — Você deve ter visto luvas e uma pinça na gaveta da balança

— É, tinha isso aqui sim

— Ótimo, então use o equipamento para concluir a fórmula com segurança

Lúcia assentiu e pegou os objetos. Quando ela estava pronta, Matsaniel abriu a caixa para ela pegar a pedra amarela.

— Isso, coloque com cuidado a pedra dentro da panela e depois a encha com água — Disse Matsaniel — A torneira fica daquele lado

— Eu já tinha visto, obrigada — Disse Lúcia levando a panela para o local onde estava a torneira — Eu nunca gostei de cozinhar, sabia?

— Sei sim, eu sou um telepata. Você vai precisar fazer muitas coisas de que não gosta ao longo da vida, então continue

Lúcia suspirou e encheu a panela com água. Pequenas bolhas começaram a emergir da pedra, indicando que a água estava esquentando.

— Pronto — Disse Lúcia colocando a panela de volta na mesa — Agora eu coloco os não solúveis, certo?

— Isso — Respondeu Matsaniel

— E quais são?

— Aí está bem fácil, todos os pós são solúveis

— Ah, então eu tenho que colocar primeiro os que não estão em pó

A garota então colocou os ingredientes dentro da panela e começou a mexer a água com uma colher.

— Parece uma sopa bem esquisita — Observou Lúcia — Como eu vou saber que já passou cinco minutos?

— Tinha um temporizador na gaveta, mas, como você já começou, eu aviso quando chegar a hora de adicionar o restante — Disse Matsaniel

Lúcia assentiu e continuou a mexer sem parar, até a hora em que Matsaniel avisou. Quando isso aconteceu, ela colocou os ingredientes em pó.

Nesse momento uma grande quantidade de fumaça começou a emergir da panela.

— Lúcia, você reajustou a balança depois que terminou de pesar os ingredientes com a colher? — Perguntou Matsaniel enquanto espantava a fumaça com a mão

— Não sei, talvez não — Respondeu Lúcia enquanto se afastava da fumaça

— Lúcia, você colocou mais que o dobro de asfalto! Temos que sair daqui, a fumaça não vai parar de se expandir enquanto não tiver consumido todo o oxigênio da montanha

Matsaniel então pegou José e sua bolsa, saiu dali com Lúcia e trancou a porta da oficina.

— Pronto, isso vai nos dar algum tempo — Murmurou o garoto — Venha, temos que avisar todos para sairmos daqui em segurança

Wild Kondo - A Pedra dos TremoresOnde histórias criam vida. Descubra agora