capítulo dois

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Pelo vidro da sacada podia ver a chuva caindo sobre a grande Seul. O fim de tarde nublado se assemelhava a Jeongguk, que assistia as gotículas caindo sentado em sua cama.

Na noite anterior, assim que chegaram do hospital, pediu a Yoongi para agilizar as coisas do velório. Estava abalado demais para lidar com burocracias. Jeongguk ficou em casa apenas avisando os familiares e amigos.

Não tinham nem 24 horas completas e Jeon ainda esquecia e se pegava querendo mandar alguma mensagem ao amado. Se sentia perdido dentro da própria casa, pois cada cantinho tinha uma memória com o mais velho. No banheiro ainda tinha o shampoo dele, no armário da cozinha, o cereal favorito, no jardim, as flores que ele plantou e no peito de Jeongguk, o amor que ele deixou.

Se pegava nostálgico, hora ou outra, quando observava algumas roupas ou objetos. Eles tinham tantas lembranças bonitas, tantas histórias juntos.

Jeongguk o conheceu quando entrou na faculdade, ainda desorientado entre os prédios enormes do campus. Estava perdido e lhe pediu informações, que foi prontamente respondido.

Mesmo estudando em prédios diferentes, visto que Jeongguk cursava moda e o Kim economia, o mais velho sempre arranjava alguma desculpa para se encontrarem.

Foram se aproximando aos poucos e, mesmo com todas as inseguranças e problemas que tinha, Yugyeom conseguiu fazê-lo se sentir como ninguém nunca havia conseguido. Se sentia verdadeiramente amado, protegido e acolhido com o outro.

Precisando de ar nos pulmões novamente, Jeon saiu de seus devaneios e secou as lágrimas.

Pegou o porta retrato que estava no criado mudo, com a foto de ambos ainda durante os anos de faculdade, em um dos primeiros encontros, e sorriu triste, deslizando o polegar pela bochecha do outro sob o vidro.

Eram tantos planos, o casamento era um deles. Tinham quase dois anos de noivado, mesmo que estivessem juntos há oito, queriam se casar ainda naquele ano. Pensavam até em adotar alguma criança.

E tudo isso foi por água abaixo tão de repente. “Não posso ser feliz nunca?” Jeongguk pensou suspirando e colocou o porta retrato no mesmo lugar de antes.

Descendo as escadas, ele pegou o celular no bolso, checando as notificações, e viu mensagens de alguns colegas de trabalho lhe desejando forças e menções em matérias jornalísticas sobre o caso. Nada que devesse ter a sua atenção, não agora.

Mas seu olhar foi atraído para uma mensagem recém chegada de um número desconhecido.

| Eu imagino que sua dor seja tão grande quanto a minha neste momento.

| Mesmo sendo contra, meu filho era feliz com você, sou grata por isso. Desculpe todo mal estar que causei.

| Irei incluir você em minhas orações para que seja forte nesse momento. Abraços

Jeon achou que estava alucinando. Só podia ser fruto da sua mente vazia e confusa. Mas, ao clicar nas notificações, abrindo o KakaoTalk e verificando a foto do remetente, a ficha caiu.

Heyme, mãe de Yugyeom. Nunca aceitou bem o fato do filho ser gay e, sempre que ambos acabavam se encontrando nos jantares familiares em que eram convidados, mãe e filho entravam em discussões.

Jeongguk sorriu triste. Sabia que a Sra. Kim amava o filho, tinham diferentes modos de pensar e agir, mas ela ainda o amava, mesmo que não fosse demonstrar. Jeon queria que Yugyeom pudesse ter visto a mãe dizendo coisas bonitas para ele novamente, queria que as circunstâncias fossem outras, mas mudar o tempo não era algo que lhe cabia.

Agora eu sei porque ele te amava | taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora