No caminho de casa, Célia não parava de dizer o quanto estava envergonhada pelo noivado desfeito da filha. A senhora Virgos estava cada vez mais desesperada com a situação delicada da família, mas a vergonha que sentia ao se expôr à sociedade, falava mais alto.
As ruas estavam movimentadas com carruagens e carroças indo de um lado para o outro e o barulho das lojas e das pessoas passando pelas calçadas, umas com pressa e outras apenas passeando. Célia observava a movimentação, estava calada, ainda não tinha dito uma palavra sequer desde que saíra da casa de sua amiga. Parecia que estava pensando em algo.
Sarah não quis chamar a atenção da mãe, pois era raro esses momentos de silêncio, então ela preferiu manter tudo quieto e continuar observando a rua.Ao chegarem em uma das esquinas, elas precisaram atravessar e logo ao colocar os pés na outra calçada, Célia começou a falar:
- Achei estranho Hortênsia não ter me dado nenhum conselho sobre seu noivado com Edgar.
Sarah já sabia o motivo, mas não queria contar, por isso decidiu não responder nada.
- Vou ter que pensar em algo sozinha - continuou a sua mãe - Ah, nós estamos bem perto da casa do senador, vamos até lá para tentar refazer esse noivado!
A jovem puxou sua mãe para trás tentando impedir seu caminho. Será que ela nunca ia desistir dessa ideia estúpida? Sarah tentava pensar rapidamente em alguma desculpa que poderia dar a mãe, pois no fundo sabia que ela estava realmente disposta a ir atrás de Edgar.
- Mamãe, pare com isso! A senhora sabe muito bem que eu não vou me casar com Edgar!
Célia deu um leve empurrão na filha e continuou a andar até o fim da calçada, mas ao tentar atravessar a rua novamente, foi interrompida pela passagem de uma carruagem. Então, aproveitando a deixa, Sarah tentou alcançar a mãe, dizendo:
- Eu não vou me casar com um homem que vai ser pai!
A viúva, franzindo as sobrancelhas, olhava para a filha como se ela estivesse louca. Mas, em questão de segundos, um brilho surgiu em seus olhos azuis e ela sorriu como se estivesse descobrindo um tesouro.
- Minha filha...Você está grávida?
Sarah revirou os olhos e suspirou impaciente. Com certeza sua mãe imaginava que a própria filha estava esperando um bebê de Edgar e ela usaria essa gravidez para forçar aquele noivado insuportável.
- Graças à Deus, não! - exclamou grosseiramente - A Ana é quem está grávida dele.
Célia piscava várias vezes tentando entender o que a filha dissera. Era impossível que Ana, uma menina tão pura e inocente, que ainda nem pensava em se casar, tinha engravidado. Talvez esse fosse não só o pensamento da viúva Virgos, mas seria o de toda a sociedade, quando descobrissem. Aquela notícia só podia ter sido uma fofoca feita por más línguas.
- Isso não é possível! Ana é uma santa e jamais furaria o seu olho se deitando com Edgar. - respondeu Célia.
- Ela mesma me confessou que sempre foi apaixonada por ele, mas Edgar, como sempre, apenas a seduziu.
A viúva olhava para os lados tentando pensar em alguma solução. Ela não estava nem um pouco feliz com aquela notícia, se sentia traída por Hortênsia, que com certeza sabia sobre aquela gravidez repentina e não teve a coragem de dizer nada à ela durante a visita que havia feito.
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A noiva falida
RomanceDepois da morte de seu pai e a ascensão da República Brasileira, Sarah e sua mãe se encontram falidas e precisam arranjar um jeito de continuarem no círculo social de São Paulo. Ao escapar de um casamento arranjado por Célia, sua mãe, Sarah terá que...