XXXI REVISTA ESPÍRITA -

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Kardec em suas pesquisas, recebeu a mensagem do espírito de Charlet, veja abaixo o conteúdo na íntegra.

Revista Espírita 1860 » Julho » Dos animais

(DISSERTAÇÕES ESPONTÂNEAS FEITAS PELO ESPÍRITO DE

CHARLET, EM VÁRIAS SESSÕES DA SOCIEDADE)

I

Há entre vós uma coisa que sempre vos excita a atenção e a curiosidade. Esse mistério, pois que é para vós um grande mistério, é a ligação, ou antes, a distância existente entre a vossa alma e a dos animais, mistério que, a despeito de toda a sua ciência, Buffon, o mais poético dos naturalistas, e Cuvier, o mais profundo, jamais puderam penetrar, assim como o escalpelo não vos detalha a anatomia do coração. Ora, sabei, os animais vivem, e tudo o que vive pensa. Não se pode, pois, viver sem pensar.

Assim sendo, resta demonstrar-vos que quanto mais o homem avança, não conforme o tempo, mas conforme a perfeição, mais penetrará a ciência espiritual, o que se aplica não somente a vós, mas também aos seres que estão abaixo de vós: os animais. Oh! exclamaram alguns homens, persuadidos de que o vocábulo homem significa todo o aperfeiçoamento, mas há um paralelo possível entre o homem e o bruto? Podeis chamar inteligência àquilo que não passa de instinto? Sentimento é apenas sensação? Numa palavra, podeis rebaixar a imagem de Deus? Responderemos. Houve um tempo em que a metade do gênero humano era considerada no nível do bruto, em que o animal não figurava; um tempo, que é agora o vosso, em que a metade do gênero humano é encarada como inferior e o animal como bruto. Então! Do ponto de vista do mundo é assim, não há dúvida. Do ponto de vista espiritual a coisa é diferente. O que os Espíritos superiores diriam do homem terreno, os homens dizem dos animais.

Tudo é infinito na Natureza, tanto o material como o espiritual. Ocupemo-nos pois um pouco desses pobres brutos, espiritualmente falando, e vereis que o animal vive realmente, desde que pensa.

Isto serve de prefácio a um pequeno curso que vos darei a esse respeito. Aliás, em vida, eu havia dito que a melhor companhia do homem é o cão.

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CHARLET

II

O mundo é uma escada imensa, cuja elevação é infinita, mas cuja base repousa num horrível caos. Quero dizer que o mundo não é senão um progresso constante dos seres. Estais muito embaixo. Não obstante, há muitos abaixo de vós. Porque, ouvi bem, não falo apenas do vosso planeta, mas de todos os mundos do Universo. Não temais, porém, pois nos limitaremos à Terra.

Antes disso, entretanto, duas palavras sobre um mundo chamado Júpiter, do qual o engenhoso e imortal Palissy vos deu alguns esboços estranhos e tão sobrenaturais para a vossa imaginação. Lembrai-vos de que num desses encantadores desenhos ele vos representou alguns animais de Júpiter. Não há neles um progresso evidente? Podeis negar-lhes um grau de superioridade sobre os animais terrestres? E ainda só vêem nisso um progresso de forma e não de inteligência, posto que a atividade de que se ocupam não possa ser executada pelos animais terrestres? Só vos cito este exemplo para vos indicar desde logo uma superioridade de seres que estão muito abaixo de vós. Que seria se vos enumerasse todos os mundos que conheço, isto é, cinco ou seis? Mas limitando-nos à Terra, vede a diferença entre eles existe. Então! Se a forma é tão variada, tão progressiva, que mesmo na matéria há progresso, podeis deixar de admitir o progresso espiritual desses seres? Ora, sabei-o, se a matéria progride, mesmo a mais atrasada, com mais forte razão o espírito que a anima.

Continuarei da próxima vez.

CHARLET

NOTA: Com o número de agosto de 1858, publicamos uma prancha desenhada e gravada pelo Espírito de Bernard Palissy, representando e casa de Mozart em Júpiter, com uma descrição desse planeta, que foi sempre designado como um dos mundos mais adiantados do nosso turbilhão solar, moralmente e fisicamente. O mesmo Espírito deu um grande número de desenhos sobre o mesmo assunto. Entre outros, há um que representa uma cena de animais, jogando na parte reservada para sua habitação, na casa de Zoroastro. É, sem dúvida, um dos mais interessantes da coleção. Entre os animais apresentados, há uns cuja forma se aproxima bastante da forma humana terrena, tendo ao mesmo tempo algo do macaco e do sátiro. Sua ação denota inteligência e compreende-se que sua estrutura possa prestar-se aos trabalhos manuais que executa para os homens. São, ao que se diz, criados e operários, pois os homens só se ocupam de trabalhos da inteligência. É a esse desenho, feito há mais de três anos, que alude Charlet na comunicação acima.

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