And to Those I Love - Soukoku

Capítulo 1

O show lotado já estava acontecendo à mais de uma hora, e Chuuya sentia a vontade de sair dali e ir beber alguma coisa. Ele nunca fora do tipo que gostava da confusão que as multidões traziam, e a realidade era que o homem só estava ali porque seus amigos insistiram. O cantor era desconhecido por ele, mas não era de todo ruim, e possuía três ou quatro músicas que estavam tocando direto no rádio, tais quais animaram o público à um extremo.

— Muito obrigado à todos por estarem aqui hoje! — Ele é interrompido por gritos vindos da plateia, e sorri. Chuuya não conseguia lembrar de seu nome, mas o sujeito o irritava levemente, apenas pelo sorriso convencido que não havia deixado seus lábios desde que ele adentrara o palco, além do brilho meio louco que não saía de seus olhos. — Para a última música de hoje, vou cantar uma nova!

"Dazai, seu lindo!", alguém próximo ao ruivo gritou. Isso mesmo, aquele show era do Osamu Dazai, o cantor de 22 anos que estava em ascensão e era a nova promessa da indústria musical. A plateia se animou antes que ele pudesse começar a tocar a tal música inédita, o que o fez ficar de pé no palco apreciando os aplausos e saldas direcionados à ele. Logo depois, a parte instrumental da música é iniciada.

Take me home
Take me home
It's the one place I can rest in peace
Turn off my phone
So many messages I wish I could just delete
Questioning my existence
Questioning my decisions
Burning down all the bridges
Dig a moat
Now I'm finished
Sorry don't want you to visit, no, no
One last pic and I'll be gone
Make it count
Put the flash on
Never really felt like I belonged
So I'll be on my way
And I won't be long
I'll be dead by dawn
I'll be dead by dawn
I'll be dead by dawn
I'll be dead by dawnScrolling through my texts
Shit I left unread
Never tryna deal with it
There's bliss up in my ignorance
10 dope dealers
Ex want me to see her
Can't trust her
Don't believe her
Reply turn into a needle, yeah
Don't wanna do it again
Got shit I'm not tryna relive
Head fucked up and I'm sick
These old habits will kill me quick
Quicker than I can blink
Quicker than I can think
Lift me up
Don't want sink
Pour me up
I need a drink
What the fuck do I do when sabotage is all I know?
Oh, I done dug myself my own grave in this hole, oh no, whoa
Kill me slow, slow
Curtains close slow
Fuck, I don't see what's the point of going on, no

Uma vez que a última nota da canção fora silenciada, a casa de show foi preenchida por aplausos, mas Chuuya se manteve quieto. O rapaz não sabia como explicar, mas uma sensação estranha havia se instalado em seu peito. A letra da música, o comportamento do cantor e o brilho estranho no olhar de Dazai deixavam-no encucado. Mas nada daquilo era de sua conta, e ele repetia para si mesmo que não dava a mínima.

A multidão se dispersa lentamente, e Chuuya acompanha seus amigos até um bar próximo. Ele sabia que não podia beber muito, já que iria dirigir até em casa, mas nunca fora do tipo de negar alguns copos. Mesmo ali, em um bar cheio e barulhento, o homem ainda não conseguia deixar de pensar no show. Aquela sensação esquisita continuava presente em seu peito, mesmo quando ele estava participando de uma conversa vívida com os outros, e Chuuya decide voltar mais cedo para casa.

Dazai não sabia ao certo o que a bagunça em seu peito significava. Ele sentia tudo e nada ao mesmo tempo, sentia como se seu coração estivesse prestes a explodir e também sentia como se nunca tivesse sido tão fácil de respirar. O vazio em seu peito já o havia consumido, e sua sanidade já estava se esvaindo a cada segundo que passava. Sua mente já havia se acostumado a ignorar o físico que tentava desesperadamente salvá-lo, e agora ela estava silenciosa de um jeito que Dazai nunca antes havia visto. Ele se sentia leve, o peso que ele antes carregava sobre as costas havia sido substituído pela leveza das penas das asas do anjo da morte que o abraçavam, esperando para recolher sua alma depois daquela noite.

Ele não se sentia bem. Não se sentia tranquilo como pensou que estaria se sentindo e não conseguia sentir paz, apenas um vazio e um silêncio ensurdecedor. Agora não tinha mais volta, ele já havia tomado a sua decisão. Ele encara o copo em suas mãos, considerando que aquilo provavelmente seria a última coisa que ele veria, mas com um suspiro ele se levanta da cadeia na varanda do segundo andar onde ele estava observando a rua vazia. Só a queda não seria o suficiente para matá-lo, por isso ele estava aguardando qualquer luz que indicasse um farol de carro vindo nessa direção. Já haviam semanas que o cantor havia desistido de continuar ali, e ele escolhera exatamente aquele dia porque marcava o final de sua turnê do álbum que havia sido lançado alguns meses antes.

Nada mais fazia sentido para ele, por mais que ele tivesse tudo o que sempre sonhara. Ele possuía a fama pela qual tanta batalhara, todo o dinheiro que precisava, e basicamente a vida que muitos cobiçavam ingenuamente. Dazai se sentia preso por aquilo tudo, como se estivesse afundando mais e mais em uma areia movediça  infinita que ardia conforme ele chegava perto de ser consumido por inteiro.

Ele queria a paz que o desconhecido silêncio da morte trazia e almejava a perspectiva de poder se deitar para sempre e se sentir livre das correntes que a vida manejava para controlar os seres vivos. O artista já havia pensado tanto naquilo que sua cabeça chegara a girar. 

Uma luz trêmula ilumina a estrada escura alguns quilômetros de distância de onde Osamu Dazai estava, e com um suspiro ele se levanta. A hora havia chegado e ele já estava fora de si demais para voltar atrás. Ele repousa o copo cheio de liquor no chão próximo à cadeira onde estava sentado segundos atrás e sobe no parapeito, contando mentalmente até achar que é o momento certo para pular. Ele espera até que o carro estivesse próximo o suficiente para não conseguir parar a tempo e se joga. 

O mundo todo se torna distante quando a escuridão consume Dazai, e a última coisa que ele vê são cachos ruivos se aproximando rapidamente dele.